segunda-feira, 8 de junho de 2015

Santarém: Rouxinol triunfador em tarde de glória dos Forcados

Bem apresentados e com cara, os toiros de Murteira Grave não primaram pela
bravura, mas "deixaram-se" lidar, como agora é costume dizer e, pelo menos,
foram toiros sérios e que impuseram respeito e emoção na arenas e suspiros
na bancada... Na foto, o último, investindo para o capote de Joaquim Oliveira
João Moura: a maestria e a sabedoria diante de um Grave que não facilitou e não
permitiu grande luzimento ao cavaleiro de Monforte
Joaquim Bastinhas pôs tudo de si na lide, alegre e pautada pela verdade e a
emoção, do melhor Grave da tarde. Especialista em toiros desta ganadaria (é o
cavaleiro que mais vezes os enfrentou, chegando um dia a encerrar-se com seis),
pôs Santarém de pé, como é seu timbre
Os mansos também têm que ser toureados e foi o que fez António Ribeiro Telles,
com sabedoria e muita entrega. O toiro mal saíu das tábuas e António resolveu
 a situação cravando em sortes sesgadas, que mais era impossível
Encastado, Rui Salvador foi autor de uma lide fantástica frente a um Grave
que pedia contas - e ele deu-lhas, com a sua marcante ousadia e a verdade
imensa do seu toureio
Maestria e emoção na lide portentosa de Luis Rouxinol, que viria a obter, por seu
mérito próprio, o maior e mais aplaudido triunfo da corrida
Vitor Ribeiro fechou praça com uma grande actuação, marcada por ferros de
enorme emoção em terrenos de alto compromisso



Miguel Alvarenga - A glória do Grupo de Forcados Amadores de Santarém foi escrita ao longo dos últimos cem anos e desde o dia em que António Abreu, primeiro cabo, o fundou e está agora imortalizada num luxuoso livro ds autoria de Maria João Lopo de Carvalho, que foi lançado na sexta-feira - e que, pela sua importância e apesar do seu elevado custo (50 euros) se considera obrigatório na biblioteca de qualquer aficionado e principalmente de quem tenha sido ou seja forcado, independentemente do grupo. Cem anos é mais que uma vida. E isso sentiu-se no sábado em Santarém - que não foi, mas devia ter sido, praça cheia.
O ambiente no exterior da praça, antes e depois da corrida, foi enorme e digno da efeméride que nessa tarde se assinalava. Forcados antigos, havia-os por todo o lado. Glórias de um passado que já ficou para trás, mas que continua gravado nas nossas memórias.
Honraram a celebração do centenário quatro grandes forcados já retirados - o antigo cabo Gonçalo da Cunha Ferreira, Manuel Murteira, Gonçalo Veloso e António Gama - com pegões que levantaram o público em momentos de grande e justificada emoção. Ds actuais e como aqui referimos anteriormente, pegaram o cabo Diogo Sepúlveda e António Grave de Jesus, este na mais dura e complicada pega da tarde a um Murteira Grave que guardou todas as forças para o forcado, negando-se na lide e investir para o cavalo de António Telles.
Emoções viveram-se também quando rabejaram os antigos cabos Carlos Grave e Carlos Empis e António Cachado; e quando em praça, a ajudar, vimos antigos forcados do grupo, como Joaquim Pedro Torres e outros mais. Fardados estavam mais de cem, sendo Alberto Fonseca o mais antigo.
Antes da corrida, houve homenagens da Associação Nacional de Grupos de Forcados e dos cabos de vários grupos, que entregaram lembranças ao cabo dos Amadores de Santarém. Ao intervalo, recordou-se o passado na arena da Monumental "Celestino Graça", com todas as glórias do grupo em praça e mais homenagens, desta vez por parte da Câmara e da Santa Casa da Misericórdia de Santarém.
A tarde foi essencialmente dos forcados - a quem todos os cavaleiros brindaram - mas ficou também marcada por grandes actuações dos toureiros, com destaque especial para a lide de Luis Rouxinol, um Senhor Maestro e para as emotivas actuações de Rui Salvador (com ferros impossíveis e brega certíssima) e de Vitor Ribeiro (autor de ferros de parar corações em terrenos de grande compromisso), frente a Graves que pediam contas e impuseram, como sempre, seriedade na praça.
João Moura esteve apenas regular num toiro que também lhe não permitiu grande luzimento e Joaquim Bastinhas, com o melhor da tarde, foi a costumeira alegria e a usual verdade, deixando grandes ferros depois de muito bem bregar. A António Ribeiro Telles tocou a "fava", um manso que não saíu das tábuas e ao qual o cavaleiro da Torrinha deu adequada lide (a possível), cravando a ferragem em sortes sesgadas.
Manuel Gama, antigo forcado de Santarém, dirigiu a corrida com o acerto habitual e o rigor de sempre. Teve até a bonita atitude de mandar tocar a banda para a pega do antigo cabo Gonçalo da Cunha Ferreira, mas o público reagiu mal aos acordes num momento em que se exigia silêncio e o director deu o dito por não dito. A intenção era de homenagem, mas houve quem assim o não entendesse. Compreende-se.
Finda a corrida, as emoções sucederam-se fora da praça. Encontros e reencontros, lembras-te de mim, daquela pega, daquela tarde? Cem anos é mais que uma vida. Foi bonito rever o passado, lembrar antigos forcados, revê-los ali, como quem revive a História e partes das suas vidas.
Parabéns e Obrigado ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém - uma lenda viva da História da Tauromaquia. Mas acima de tudo, ainda e sempre, um Grande Grupo!

Fotos Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens