João Moura: a maestria e a sabedoria diante de um Grave que não facilitou e não permitiu grande luzimento ao cavaleiro de Monforte |
Encastado, Rui Salvador foi autor de uma lide fantástica frente a um Grave que pedia contas - e ele deu-lhas, com a sua marcante ousadia e a verdade imensa do seu toureio |
Maestria e emoção na lide portentosa de Luis Rouxinol, que viria a obter, por seu mérito próprio, o maior e mais aplaudido triunfo da corrida |
Vitor Ribeiro fechou praça com uma grande actuação, marcada por ferros de enorme emoção em terrenos de alto compromisso |
Miguel Alvarenga - A glória do Grupo de
Forcados Amadores de Santarém foi escrita ao longo dos últimos cem anos e desde
o dia em que António Abreu, primeiro cabo, o fundou e está agora imortalizada
num luxuoso livro ds autoria de Maria João Lopo de Carvalho, que foi lançado na
sexta-feira - e que, pela sua importância e apesar do seu elevado custo (50
euros) se considera obrigatório na biblioteca de qualquer aficionado e
principalmente de quem tenha sido ou seja forcado, independentemente do grupo.
Cem anos é mais que uma vida. E isso sentiu-se no sábado em Santarém - que não
foi, mas devia ter sido, praça cheia.
O ambiente no exterior da praça, antes e
depois da corrida, foi enorme e digno da efeméride que nessa tarde se
assinalava. Forcados antigos, havia-os por todo o lado. Glórias de um passado
que já ficou para trás, mas que continua gravado nas nossas memórias.
Honraram a celebração do centenário
quatro grandes forcados já retirados - o antigo cabo Gonçalo da Cunha Ferreira,
Manuel Murteira, Gonçalo Veloso e António Gama - com pegões que levantaram o
público em momentos de grande e justificada emoção. Ds actuais e como aqui
referimos anteriormente, pegaram o cabo Diogo Sepúlveda e António Grave de Jesus,
este na mais dura e complicada pega da tarde a um Murteira Grave que guardou
todas as forças para o forcado, negando-se na lide e investir para o cavalo de
António Telles.
Emoções viveram-se também quando
rabejaram os antigos cabos Carlos Grave e Carlos Empis e António Cachado; e
quando em praça, a ajudar, vimos antigos forcados do grupo, como Joaquim Pedro
Torres e outros mais. Fardados estavam mais de cem, sendo Alberto Fonseca o
mais antigo.
Antes da corrida, houve homenagens da
Associação Nacional de Grupos de Forcados e dos cabos de vários grupos, que
entregaram lembranças ao cabo dos Amadores de Santarém. Ao intervalo,
recordou-se o passado na arena da Monumental "Celestino Graça", com
todas as glórias do grupo em praça e mais homenagens, desta vez por parte da
Câmara e da Santa Casa da Misericórdia de Santarém.
A tarde foi essencialmente dos forcados
- a quem todos os cavaleiros brindaram - mas ficou também marcada por grandes
actuações dos toureiros, com destaque especial para a lide de Luis Rouxinol, um
Senhor Maestro e para as emotivas actuações de Rui Salvador (com ferros
impossíveis e brega certíssima) e de Vitor Ribeiro (autor de ferros de parar
corações em terrenos de grande compromisso), frente a Graves que pediam contas
e impuseram, como sempre, seriedade na praça.
João Moura esteve apenas regular num
toiro que também lhe não permitiu grande luzimento e Joaquim Bastinhas, com o
melhor da tarde, foi a costumeira alegria e a usual verdade, deixando grandes
ferros depois de muito bem bregar. A António Ribeiro Telles tocou a
"fava", um manso que não saíu das tábuas e ao qual o cavaleiro da
Torrinha deu adequada lide (a possível), cravando a ferragem em sortes
sesgadas.
Manuel Gama, antigo forcado de Santarém,
dirigiu a corrida com o acerto habitual e o rigor de sempre. Teve até a bonita
atitude de mandar tocar a banda para a pega do antigo cabo Gonçalo da Cunha
Ferreira, mas o público reagiu mal aos acordes num momento em que se exigia
silêncio e o director deu o dito por não dito. A intenção era de homenagem, mas
houve quem assim o não entendesse. Compreende-se.
Finda a corrida, as emoções sucederam-se
fora da praça. Encontros e reencontros, lembras-te de mim, daquela pega,
daquela tarde? Cem anos é mais que uma vida. Foi bonito rever o passado, lembrar
antigos forcados, revê-los ali, como quem revive a História e partes das suas
vidas.
Parabéns e Obrigado ao Grupo de Forcados
Amadores de Santarém - uma lenda viva da História da Tauromaquia. Mas acima de
tudo, ainda e sempre, um Grande Grupo!
Fotos Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens