terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Mestre João Núncio: a revolução matou-o há 40 anos

A letra de Maria Manuel Cid para o fado que Carlos Zel
imortalizou nesse ano longínquo de 1976


Cumprem-se hoje 40 anos sobre aquele triste dia 26 de Janeiro de 1976. Mestre João Branco Núncio tinha 74 anos e preparava-se para regressar às arenas e fazer o que tão bem sabia - tourear - para voltar a comer o pão que os revolucionários de Abril lhe haviam roubado dois anos antes.
Estava na Golegã, em casa de seu cunhado Patrício Cecílio (casado com sua irmã), onde se refugiara depois de lhe terem ocupado as terras e a própria casa na sua Alcácer natal. Onde só fizera o bem.
O "Califa de Alcácer" preparava-se para voltar de novo à luta e anunciara o regresso às arenas. Toureara pela última vez em Vila Franca a 21 de Outubro de 1973, nesse mesmo ano em que esgotou o Campo Pequeno a 27 de Maio para comemorar os seus 50 anos de alternativa.
Natural de Alcácer do Sal, onde nasceu a 15 de Fevereiro de 1901, estreou-se com apenas 13 anos de idade na antiga praça de Évora e tomou a alternativa no Campo Pequeno a 27 de Maio de 1923, apadrinhado por António Luis Lopes. Com Simão da Veiga formou a mais célebre parelha de que há memória no toureio a cavalo. Em todas a sua histórica carreira, toureou mais de 2 mil toiros em mais de mil espectáculos e utilizou, dizem as estatísticas, cerca de 60 cavalos. Foi o primeiro cavaleiro português a actuar em Espanha e França estoqueando toiros a cavalo.
Como bem reza a letra de Maria Manuel Cid no fado que Carlos Zel imortalizou em 1976, "não foi um homem qualquer, foi mais um homem diferente".
Há 40 anos, o coração traíu o Mestre quando montava a cavalo e se preparava para começar tudo de novo.

Fotos D.R.