segunda-feira, 18 de abril de 2016

O toureiro de quem se fala: Salgueiro explica-se!






O mundillo taurino nacional entrou em paranóia depois de João Salgueiro ter dito no sábado, durante um colóquio na praça do Campo Pequeno, que devia ser feito o controlo de doping aos cavalos dos toureiros, sugerindo a eventual existência de casos em que cavalos actuaram "dopados". Houve até quem o acusasse de ter dito o que disse para fazer esquecer o seu "não triunfo" na quinta-feira em Lisboa. Salgueiro vem aqui pôr os pontos nos iis.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Há mesmo doping nas arenas, João Salgueiro?
- O que eu disse, está dito, o que foi escrito, está escrito, ponto final. E ninguém inventou nada. Somos todos taurinos, ninguém quer o mal da Festa, mas há verdades que, para o seu bem, têm que ser ditas, não podem ser eternamente escondidas, escamoteadas. O futuro da Festa passa, não podemos ignorar, pela necessidade cada vez maior, até para nos salvaguardarmos dos ataques dos anti-taurinos, da garantia do bem estar dos animais. Pode ter havido más interpretações e houve-as certamente, muitas até propositadamente. Eu disse o que disse na sequência do anúncio, feito no colóquio do Campo Pequeno por uma médica veterinária da Direcção-Geral de Veterinária, como todos os que lá estavam ouviram, de que iam ser incrementadas medidas nas praças de toiros, através da presença de veterinários, tendentes a assegurar o bem estar dos animais e nomeadamente dos cavalos. E eu disse, como todos também ouviram, que uma das coisas que devia ser feita era o controlo ao doping. Se isso acontece em muitas outras modalidades equestres, onde há casos de doping, porque é que não acontece também na tauromaquia? E também disse que essas acções que irão ser levadas a cabo pela Direcção-Geral de Veterinária, deverão ser tomadas com consciência, com conhecimento dos toureiros e aos poucos e poucos, não se pode de repente passar do 8 para o 80. Ficou tudo em paranóia, mas a verdade é que o futuro vai obrigatoriamente passar por aí e pela cada vez maior necessidade de assegurar o bem estar dos animais.
- Nomeadamente dos cavalos...
- Concerteza que sim. Houve uma senhora que assistia ao colóquio, como te lembrarás, que focou o caso de uma primeira figura do toureio que no ano passado saíu da arena com um cavalo a sangrar abundantemente do nariz, por efeitos de uma serreta. Essa senhora lamentou que nenhum blog ou site taurino tenha denunciado isso, relembrando que os anti-taurinos não são os de fora, mas os que cá estão dentro e que permitem que essas coisas aconteçam. E é verdade. Essas coisas acontecem, ninguém denuncia e depois entram todos em paranóia quando alguém vem falar delas. Andam todos constantemente a tapar o sol com uma peneira, têm um pavor assustador dos anti-taurinos, mas esquecem, ou não querem ver, que os principais anti-taurinos estão dentro da Festa...
- O Regulamento, tanto o novo como o antigo, é praticamente omisso quanto aos cavalos. Não fala deles. Ultimamente, falou-se que tinham que passar a existir currais nas praças portáteis, para garantir o bem estar dos toiros, mas nunca ninguém se preocupou com os cavalos, verdade, João Salgueiro?
- Verdade. É um facto. A Festa tem que evoluir, mas evoluir num bom sentido. O futuro tem que passar por tudo isso, parece que ainda ninguém o entendeu. Mas é verdade o que dizes. Andam muito preocupados com a necessidade de melhorar as condições dos curros nas praças e de passar a tê-los também nas portáteis, mas com os cavalos ninguém se preocupa... e ninguém fala sobre isso. A maior parte das praças de toiros não possui cavalariças em condições, os cavalos ficam na rua atrelados às camionetas e à mercê de qualquer anti-taurino que lhes pretenda fazer mal e isso não acontece só nas portáteis, acontece em muitas, muitas mesmo, praças fixas. Mas ninguém se preocupa com isso. Também não existem locais vedados para aquecer os cavalos... Não custava nada colocar umas baias e proporcionar aos cavaleiros recintos onde aquecer os cavalos. Na maior parte dos casos, aquecemos os cavalos em parques de estacionamento ou junto às praças, no meio da confusão das pessoas, junto às rulotes onde se bebem minis... e ao frio. Os cavalos vão para dentro das arenas frios e depois, de repente, levam com um toiro pela frente a cem à hora... Tudo isso era preciso mudar, mas a realidade é que só se preocupam quando se dizem as verdade, cheios de medo de que os anti-taurinos vão aproveitar-se disso. Haja coragem!
- É, portanto, positivo que passe a haver esse maior controlo nas praças por parte da Direcção-Geral de Veterinária?
- Claro que é altamente positivo. E no colóquio também se falou das serretas, que deveriam deixar de ter picos, das gamarras e de tudo isso. Devia haver, na verdade, um controlo mais rígido a todas essas coisas e, repito e insisto, ao doping também. Se acontece em quase todas as modalidades desportivas equestres, porque razão na tauromaquia há-de continuar tudo a ser de qualquer maneira?
- Houve quem te acusasse de ter levantado essa celeuma para fazer esquecer o insucesso do Campo Pequeno. Uma reacção a isso, João...
- As pessoas têm a mania de procurar sempre justificações para, repito, tentarem tapar o sol com uma peneira. A corrida de Lisboa não me correu como se esperava, é um facto e já o assumi. Não dei um petardo, mas, como escreveste, a verdade é que não cheguei a sair da lâmpada... Mas as coisas, às vezes, acontecem assim. O Morante foi quatro tardes a Sevilha, deixou ir um toiro vivo e só mesmo no último dia e no último toiro, enlouqueceu tudo e todos, cortou duas orelhas e levaram-no em ombros da praça até ao hotel pelas ruas. E antes não tinha deixado de ser o Morante. Eu não deixei de ser quem sou, da próxima será melhor, não tenho que fazer nada para, como alguns dizem, "fazer esquecer" o que quer que seja. Todos estão a falar do meu "não sucesso" no Campo Pequeno, se calhar, se fosse outro, ninguém falava. Afinal, o Salgueiro ainda é importante! Eu também disse nesse colóquio, e todos ouviram bem, que antigamente lia todas as crónicas e procurava emendar nas próximas corridas os erros que os críticos me apontavam; e hoje em dia não o faço, não leio, porque não reconheço idoneidade a muitos dos que para aí escrevem. Qualquer pessoa hoje abre um site na internet e presume que é crítico tauromáquico, sem ter conhecimentos nenhuns. E disso ninguém  falou, podiam ter arranjado uma celeuma enorme com isso que eu disse, mas só estão a falar do doping... Há tanta coisa que está mal e que era preciso mudar!
- E o que todos querem saber: mais corridas este ano, João?
- Dia 29 de Maio, como já foi anunciado, vou dar a alternativa ao meu filho em Almeirim, no dia em que passam exactamente 29 anos sobre a data em que ali a recebi também. Toureio dois toiros de Murteira Grave. E depois, não sei. Hoje em dia não vivo do toureio, graças a Deus. Posso tourear mais uma corrida ou duas... ou mais nenhuma, ainda não sei.

Fotos Edgar Vieira e D.R.