Ao início da corrida, o presidente da Câmara do Montijo agraciou o cavaleiro Luis Rouxinol com a Medalha de Ouro do Concelho - honraria merecida e que o público reconheceu com fortíssima ovação |
Todos ao molho e fé em Deus. Não teve história a 1ª pega da noite, executada à terceira por André Martins, do Grupo do Ribatejo |
2ª pega da noite, por Luis Carrilho (Tertúlia do Montijo), à segunda |
José Suiças (Amadores do Montijo) pegou à segunda o 3º toireco da noite, da ganadaria de Paulino da Cunha e Silva |
Rafael Costa, dos Amadores do Ribatejo, na 4ª pega da noite, a melhor, a um toiro de Jorge Mendes |
A 5ª pega, do cabo Márcio Chapa (GFA da Tertúlia T. do Montijo), à segunda tentativa; e, em baixo, a 6ª pega, de Ruben Pratas (Amadores do Montijo), boa |
Miguel Alvarenga - Apesar de a Monumental se ter apresentado muito composta, com uma entrada de quase três quartos (o "sol", mesmo à noite, estava cheio), proporcionando um grande ambiente à festa, não teve história a corrida nocturna de sexta-feira no Montijo, a que era a segunda das tertúlias montijenses.
Particular significado teve, ao intervalo, no átrio de entrada da praça, a homenagem que se fez (descerramento de uma placa) à memória do saudoso forcado António Gouveia (que integrou os Amadores Lusitanos e morreu há 25 anos vítima de colhida na Ilha Terceira, quando honrava a jaqueta dos Amadores do Montijo, ao tempo comandados por José Luis Figeiredo). José Cáceres recordou a figura de Gouveia na presença de seu filho e do presidente da Câmara do Montijo, Nuno Canta, que fez questão de se associar ao acto.
Também ao início da corrida, o autarca agraciou na arena o cavaleiro Luis Rouxinol com a Medalha de Ouro do Concelho do Montijo - uma honraria ao toureiro e à Festa de Toiros, que o público reconheceu e agradeceu com fortes aplausos.
Artisticamente, os três cavaleiros - Luis Rouxinol, Filipe Gonçalves e João Ribeiro Telles - esforçaram-se por dar importância a uma coisa que a não teve. Quando não há toiros e falta emoção, o espectáculo tauromáquico cinge-se ao ridículo. E foi isso, precisamente, que ocorreu sábado à noite no Montijo.
Toirecos impróprios e sem importância
Anunciaram-se seis toiros da ganadaria de Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva e três foram reprovados pelo director de corrida Pedro Reinhardt, sendo substituídos em cima da hora por outros de Jorge Mendes. Os de Paulino que foram lidados eram pequenotes (anunciados com 400 e poucos quilos, sem contudo os terem...) e animaizinhos destes retiram o risco, o brilho, a verdade e a emoção -mas sobretudo a seriedade - que são os principais atractivos deste espectáculo. Os de Jorge Mendes, de melhor porte e apresentação, destacaram-se em "terra de cegos" e por isso foram "reis". O último, o mais toiro de todos, foi bom e permitiu a Telles uma actuação que podia ter ido mais além, não tivesse havido tantas passagens (desnecessárias) em falso.
Bem sei e já o referi inúmeras vezes, que nos tempos áureos do toureio em Portugal (os de Núncio, de Batista, de Veiga, de "Capea" e de Ruiz Miguel) os toiros tinham 3 anos e não pesavam muitos mais que 400 quilos. Tinham mobilidade e tinham "gatos na barriga", como os do Montijo. Mas a realidade é que o público, nos tempos que correm, se habituou ao toiro-toiro e não perdoa deslizes como este. O que aconteceu sábado no Montijo foi uma vergonha - daquelas que queimam e deitam uma praça ao fundo. E, mais grave que isso - daquelas que em nada prestigiam e muito menos, antes pelo contrário, dignificam a Festa.
Lides sem brilho, pegas sem emoção
Posto isto, não me alongarei em grandes apreciações - porque onde faltou brilho, sobrou vergonha e nenhuma importância. E a Festa de Toiros é, foi sempre, um espectáculo de e com importância.
Rouxinol foi o profisisonalão de sempre; Filipe Gonçalves reafirmou o grande momento que atravessa, fruto de uma experiência e uma maturidade fortemente consolidadas; e João Telles foi autor de uma grande actuação frente ao terceiro toireco da noite, um Paulino que se fechou em tábuas. Lide esforçada e conseguida. Não é qualquer um que toureia um toiro daqueles como João o toureou. É preciso estar em grande forma e ter grandes cavalos - como com ele acontece. Foi pena que o director Pedro Reinhardt não tenha reconhecido isso e não lhe tenha concedido música. Face à pouca importância que tiveram as lides (e as pegas) pela ridícula falta de presença dos toirecos, esta teria sido a mais bem concedida das honras (música) da noite. Mas...
No que às pegas diz respeito, houve de tudo, mas houve sobretudo uma pouco brilhante presença dos forcados dos três grupos diante dos toiros. Tornaram, em alguns casos, difícil aquilo que não tinha dificuldade. Em suma, raramente estiveram bem com os toirinhos...
Pelos Amadores do Ribatejo pegaram André Martins (à terceira, sempre mal com o toirinho) e Rafael Costa (bem, à primeira); pelos da Tertúlia do Montijo foram caras Luis Carrilho (à segunda) e o cabo Márcio Chapa (à segunda); e pelos Amadores do Montijo, pegaram José Suiças (bem, à segunda) e Ruben Pratas (à primeira).
Corrida sem história, direcção acertada de Pedro Reinhardt, exceptuando a falta de música a Telles no seu primeiro oponente, em suma, uma noite que em nada prestigiou a Festa e muito menos a importância (que a teve e muita) da Monumental do Montijo. Por outras palavras e para ser mais directo: assim se queima uma praça. Depois, queixem-se de que isto vai mal...
Fotos Maria Mil-Homens