segunda-feira, 17 de abril de 2017

Há 40 anos, Lisboa acordou com um toureiro dentro de um caixão à porta do Campo Pequeno...

O toureiro brasileiro esgotou a praça do Campo Pequeno no dia da sua
apresentação, mano-a-mano com Paco Duarte
Em Abril de 1977, há 40 anos, Fernando Guarany aguentou
20 dias e 20 noites à porta do Campo Pequeno, vestido de
toureiro, a reclamar um contrato para ali tourear
Há 40 anos, os lisboetas acordaram com um toureiro dentro de um caixão à
porta do Campo Pequeno. Durante 20 dias e 20 noites faziam-se autênticas
romarias à porta principal da primeira praça de toiros do país para ver o toureiro
brasileiro que dizia só dali sair "morto ou em triunfo". Em 29 de Maio de 1977 ele
esgotou o Campo Pequeno e triunfou. Com o dinheiro que ganhou comprou um bar


O único toureiro brasileiro na história da tauromaquia, Fernando Guarany, esgotou em 1977 o Campo Pequeno, em Lisboa, após ter estado no interior de um caixão à porta da praça de toiros para reivindicar uma oportunidade (foto da direita). A efeméride, que faz parte da História de 125 anos da nosssa primeira praça de toiros, ocorreu há precisamente 40 anos, na tarde de 29 de Maio de 1977 e na passada semana, dia 10, passaram quatro décadas sobre o dia em que Lisboa acordou com um toureiro... dentro de um caixão, à porta da praça de toiros do Campo Pequeno!
4o anos depois da "grande aventura", o novilheiro brasileiro, ainda em actividade, garante que "voltava a fazer o mesmo". "Tudo o que tenho hoje devo-o aos toiros e a essa minha atitude de ter estado um mês à porta do Campo Pequeno para que, por fim, me abrissem as portas e me deixassem lá tourear", justifica.
Com o dinheiro ganho na primeira corrida, há 40 anos, um cachet fora do normal para a época, Guarany comprou um bar que tinha o seu nome e foi santuário de aficionados durante anos em São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
A história passou-se na manhã de 10 de Abril de 1977, Domingo de Páscoa, quando os transeuntes se depararam com um homem vestido de toureiro, no interior de um caixão na entrada principal da praça de toiros do Campo Pequeno, a reivindicar uma oportunidade e munido de um cartaz onde se podia ler: "só saio daqui em triunfo ou morto".
O toureiro brasileiro foi no mesmo dia detido pela PSP e o caixão foi apreendido pelas autoridades, mas horas depois Fernando Guarany era libertado e regressava para a porta principal do Campo Pequeno a reivindicar uma oportunidade.
"Esses tempos foram únicos, jamais esquecerei o alvoroço que isso criou na imprensa portuguesa e na sociedade em geral", recorda.
Munido de capotes, muletas, bandarilhas e estoques (espadas), ali permaneceu 20 dias e 20 noites, reivindicando um contrato para actuar em Lisboa.
Ao fim de 20 dias, a empresa deu-lhe uma oportunidade, contratou-o para uma corrida no dia 29 de Maio desse mesmo ano de 1977, tendo esgotado o Campo Pequeno e exigido à empresa, horas antes, que hasteasse a bandeira do Brasil, porque se assim não fosse "não toureava". Actuou nessa tarde mano-a-mano com Paco Duarte e a cavalo tourearam os já falecidos Gustavo Zenkl e José Zúquete e pegaram os Forcados Amadores da Azambuja. Os toiros pertenciam à ganadaria de Vicente Caldeira.
Passados 40 anos, o toureiro continua no activo e esta temporada tenciona mesmo tourear "três a quatro festejos"para assinalar os 40 anos do seu primeiro passo nas arenas.
Fernando Guarany faz parte, por méritos próprios, da História do Campo Pequeno. E promete doar ao Museu da praça de toiros lisboeta algumas peças do seu espólio, por forma a que passe a estar, como tem direito, na grande sala de recordações da principal praça de toiros nacional.
O sonho de implantar as corridas de toiros no Brasil continua também no seu horizonte, tendo já desenvolvido várias iniciativas nesse sentido.
"Eu tenho divulgado a Festa nas emissoras, nas revistas e televisões do Brasil. Para implementar a tauromaquia no Brasil, tenho desenvolvido ainda vários contactos com os políticos brasileiros ao longo dos últimos anos", explicou.
Fernando Guarany, que goza de grande popularidade no meio artístico brasileiro, recordou que a última vez que se realizou uma corrida de toiros no Brasil foi em 1922, ano em que se assinalou o centenário da independência do país.
"Eu gostava imenso de mostrar aos meus compatriotas a minha arte, mas ainda não perdi a esperança", afirma, cheio de esperança..

Fotos Lucílio Figueiredo e D.R./Arquivo "Farpas"