segunda-feira, 10 de abril de 2017

Tarde de muitas emoções ontem em Vila Franca

Toureiros participantes e autarcas vilafranquenses brindados com cartéis do
Festival emoldurados. Em baixo, Vitor Mendes e Curro Díaz, que ontem actuaram
na "Palha Blanco" no Festival comemorativo do 85º aniversário da fundação do
GFA de Vila Franca - com praça cheia e um ambiente enorme

Miguel Alvarenga - Resultaram em cheio todos os apelos que foram feitos nas vésperas para que enchêssemos Vila Franca e ali fossemos prestar aos seus valorosos Forcados a grande homenagem que eles mereciam na comemoração dos seus 85 anos de glória. A praça “Palha Blanco” registou ontem uma grande enchente e por pouco esgotava (apenas algumas clareiras no sol, sombra à cunha sem caber um alfinete!). Lá fora, pinturas selvagens de anti-taurinos e o vandalismo bem patente na Estátua do Forcado - mas a força da aficion foi bem maior e superou tudo isso. Olé!
O Festival deu seguimento à grande onda de entusiasmo que reina em torno do toureio a pé e Curro Díaz foi autor dos momentos mais marcantes de uma tarde que foi de grandes e sentidas emoções também no toureio a cavalo (com todos a triunfarem com estilos distintos) e sobretudo na arte de pegar toiros, destacando-se pela alma e pela raça o grande e eterno Carlos Teles “Caló”.
Oito toiros (novilhos, no caso) é fruta a mais, mas ontem ninguém arredou pé. Era um Festival de homenagem aos Forcados e o público rendeu-se no princípio ao fim às emoções vividas na arena. Ainda por cima sem a chatice do habitual intervalo - que era coisa que deveria repetir-se em todas as corridas, ou seja, deixar de existir. Aplaudo o director Tiago Tavares por ter mandado avançar a função sem intervalo, ou seja, sem parar o bom ritmo em que decorreu o festival.

Cavaleiros: 5 estilos, 5 triunfos

O toureio equestre esteve representado - e bem - por três dos seus mais veteranos intérpretes, cada qual com seu estilo variado, António Ribeiro Telles, Luis Rouxinol e Ana Batista e por dois outros cavaleiros, Paulo Jorge Santos (um toureiro, infelizmente, pouco visto - e digo infelizmente por que é, na realidade, muito bom) e o jovem praticante António Prates, promissor e aguerrido ginete que vai ter, pela certa, um brilhante futuro e marcar a diferença.
António Telles abriu praça com um colaboraste novilho da Casa Avó (como os dois que se seguiram), brindou ao eterno “Platanito”, seu colaborador e antiga glória da forcadagem vilafranquense e realizou depois uma lide empolgante e em crescendo, no seu melhor estilo clássico e de verdade, destacando-se, como sempre, na praça que o idolatra há tantos anos.
Luis Rouxinol esteve igual a si próprio, que é o mesmo que dizer: em plano de triunfador. Habituou-nos há muitos anos a nunca estar mal. Ferros emotivos, brega extraordinária, um Senhor Toureiro. Sempre!
Ana Batista reaparecia depois de na recta final da última temporada ter sido obrigada a parar por motivo de doença, de que graças a Deus recuperou e ontem esteve em grande nível, deixando transparecer a sua imensa classe e a sua garra de boa toureira. Tudo o que fez foi bem feito, chegou ao público, toureou com pureza e elevou bem alto a essência do bom toureio equestre. Um regresso em grande forma!
A fechar a tarde e depois dos matadores, prosseguiram as lides equestre e Paulo Jorge Santos, com um bom novilho de António Silva, deixou bem patente o seu valor e a sua excelente equitação, a par de nos ter mostrado a sua brilhante quadra de cavalos, uma das melhores e mais sólidas da actualidade. Deixou dito “Estou aqui!” e espera-se agora que as grandes empresas saibam reconhecer-lhe o muito valor que tem e contem com ele para as suas praças. Toureiros assim fazem falta, meus senhores! Paulo Jorge toureou com emoção e com verdade. Terminou com um bom par de bandarilhas, cravado à segunda, depois de na primera abordagem ter deixado só uma bandarilha.
O jovem praticante António Prates é um cavaleiro aguerrido e atrevido. Quer fazer a diferença e comprovou a lógica evolução, fruto de um Inverno de muito trabalho, depois de no ano passado ter dado nas vistas em duas noites na praça de Alcochete. Tem atitude e quer ir longe. Numa só lide procurou provar-nos tudo e mais alguma coisa. No final, pecou por ter trazido o cavalo errado para o novilho de Charrua que tinha pela frente e as coisas não terminaram como se desejava. Mas está a começar, entende-se o seu “querer tudo” e uma coisa é certa: este jovem tem matéria e tem valor para ir longe. E ontem chamou as atenções.

Curro Díaz abriu o livro

No toureio a pé, com que o público de Vila Franca se entusiasma e vibra sempre, a maior nota foi dada pelo matador espanhol Curro Díaz, que começou por lancear muito artisticamente à verónica e desenhou depois uma estética e bonita faena com a muleta a um novilho de Falé Filipe de excelente nota e que merecia a presença do ganadeiro na arena na volta final, o que só aconteceu no novilho seguinte.
Inspirado, Curro Díaz deliciou o público com bonitas e templadas séries pelos dois lados numa extraordinária faena brindada aos céus, à memória do pequeno Adrián.
Antes, a maestria e o domínio do grande Vitor Mendes estiveram bem patentes numa faena esforçada e sem glória a um novilho, também de Falé Filipe, sem qualidade. Mendes esteve por cima da falta de classe do seu oponente e fez os possíveis e impossíveis. O novilho procurava a figura e não tinha um passe. Vitor merecia ter dado a volta à arena pelo seu labor - o público reconheceu o que o director de corrida desconheceu (não permitindo a volta) com uma calorosa ovação.
João D’Alva fez a prova para novilheiro praticante e demonstrou muito querer e imensa atitude. Recebeu o novilho de Falé Filipe com duas largas afaroladas de joelhos e depois desenhou bonitas verónicas e chicuelinas, evidenciando arte com o capote. Bandarilhou com enorme poderio e esteve depois muito artista na faena de muleta, apontando detalhes que asseguram um futuro que pode ser brilhante. Excelente chamada de atenção do valoroso aluno da Escola de Toureio José Falcão, que vamos voltar a ver nesta praça no próximo dia 6 de Maio - a expectativa é muita, a tarde de ontem deixou sabor. João D’Alva deu aplaudida volta à arena acompanhado pelo ganadeiro Carlos Falé Filipe.
Estava também nos currais da “Palha Blanco” um novilho da belíssima ganadaria de Manuel Calejo Pires, com três anos e muita cara, que foi recusado - sobretudo por Curro Díaz - e ficou como sobrero, não saindo à arena. Coisas…

Quase 80 forcados em praça!

Quase 80 forcados estiveram ontem fardados e ao serviço na praça da sua terra. Entre eles, muitos antigos elementos que honraram anos a fio tão prestigiada jaqueta de ramagens - e dois antigos cabos, Jorge Faria e Vasco Dotti. Intervenção valiosa de muitos dos antigos nas cinco pegas e destaque maior para Carlos Teles “Caló”, que pegou com a galhardia costumeira o segundo novilho da tarde, depois de ter rabejado o primeiro.
As restantes pegas foram executadas por Pedro Castelo (à primeira), Bruno Casquinha (à primeira), Ricardo Patusco (à quarta) e Diogo Pereira (à primeira).
Tiago Tavares dirigiu bem o Festival, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Manuel Lourenço, apenas pecando pela não autorização da volta à arena a Vitor Mendes.
Assistiu ao espectáculo o presidente da Câmara de Vila Franca, Alberto Mesquita, bem como outros autarcas da cidade, a quem os Forcados ofereceram num curto acto na arena cartazes emoldurados do Festival. Como sempre, o festejo foi abrilhantado pela fantástica Banda do Ateneu Artístico Vilafranquense.
Guardou-se de início um minuto de silêncio em memória do pequeno aficionado espanhol Adrián, que morreu na véspera. Ao longo da tarde, houve brindes variados dos toureiros e forcados a várias personalidades, entre as quais o ganadeiro Manuel Calejo Pires e o antigo forcado João Franco. “Platanito”, “Caló” e o GFA de Vila Franca foram na generalidade as figuras brindadas pelos cavaleiros.

Fotos Maria Mil-Homens