Miguel Alvarenga - Antes de mais e para acabar de vez com as polémicas e não vir depois algum alarve (alarve, foi isso mesmo que escrevi) acusar-me nas redes sociais (a internet, hoje em dia, serve para tudo isso e muito mais…), devo amainar-vos o juízo e esclarecer que ainda não troquei a minha querida e amada Vespa pelo último e colorido modelo da Ferrari (mas tenho esperança…) por obra e graça dos milhões que (ainda não) recebi da “abastada Família Caetano”, como alguém a classificou no Facebook, que, dizem, “dá de comer” a todos os críticos taurinos (ainda os há em Portugal ou são só a fingir?…).
Passaram quase oito dias da Corrida TV na Póvoa de Varzim e ainda toda a gente fala da lide do João Moura Caetano e do prémio que recebeu e alguns defendem que devia ter recebido o Luis Rouxinol e eu ainda vou mais longo e afirmo que também podia ter recebido o António Telles, para mim e até agora, o maior triunfador desta temporada.
Mas ganhou o Moura Caetano. Numa corrida de seis cavaleiros e ainda por cima onde estiveram todos bem, algum tinha que ganhar. E houve quem não gostasse que a vitória fosse do Caetano e houve quem fosse implicar com a Solange, que era do júri e porque raio não implicaram também com o “Chalana” e com o Dr. Macedo Vieira, que também eram júris? Porque ela é Mulher e sendo Mulher era o elo mais fraco e mais frágil? Isso não é de Homem.
E vamos ao resto, que é o que interessa. Passou quase uma semana e ao João Moura Caetano (parabéns!) se fica a dever a proeza de os que gostaram e os que não gostaram ainda estarem a falar do mesmo assunto, assim como se não houvesse mais nada para falar.
Mas falar é uma coisa e falar sem classe e sem nível é outra. E é isso que tem estado a acontecer por aí, ao Deus-dará, no Facebook, onde já li as coisas mais ordinárias e que em nada abonam em favor do bom nome (que já quase não existe) dos Senhores (esses é que desapareceram do mapa…) da Festa Brava. Graças a Deus, fui educado de outra forma, prezo-me de ser um fidalgo e não me misturar com toda essas gentinha. Estou acima disso.
Vi, por exemplo, fotos de ferros do Caetano cravados a cilhas passadas, como que a protestar pelo facto de ter ganho um prémio cravando dessa forma. Podia desculpá-lo e dizer que o seu toiro se parava no momento da reunião e que o toureiro ficava de repente sem toiro debaixo do braço e por isso os ferros, alguns, foram cravados a cilhas já passadas. Podia, mas não vale a pena. Nada tira o valor à lide empolgante do Caetano, à subtileza da sua arte, à perfeição do seu temple e à forma como lidou e toureou, bordando verdadeiramente o toureio.
Puseram essas fotos no Facebook. E eu pergunto: e as dos outros? Para se criticar, tem que se criticar tendo em conta um universo e não um toureiro isolado. As máquinas digitais hoje são verdadeiras metralhadoras de captar momentos. As fotos dos ferros passados de Moura Caetano são iguaizinhas às fotos de ferros passados dos outros cavaleiros. Todos os cravam e há fotos de todos iguais. É preciso publicá-las para adensar ainda mais a polémica e continuarmos, como verdadeiros estúpidos (eu estou acima desta gente, graças a Deus, sou inteligente, muito mesmo, já no colégio me chamavam Einstein!), a dar armas de mão beijada aos anti-taurinos?
Aparecem hoje em dia lindíssimas fotos de ferros pretensamente cravados ao estribo, mas se publicassem a continuação da sequência haveriam de ver que não foram cravados tão ao estribo como parece. É tudo, afinal, uma questão de simples ilusão de óptica e de boa vontade e de bom senso de quem as tira e de quem as publica. Se quisessem, era um instante enquanto viravam tudo ao contrário, bastava publicar as sequências completas dos ferros de cada cavaleiro… Mas isso, por agora, são contas de outros rosários…
No Facebook, acontece sempre tudo no Facebook, apareceram fotos dessas do Moura Caetano na página do meu bom amigo Miguel Ortega Cláudio. E ele comentou que os ferros ao estribo não se cravam, qualquer coisa assim parecida, nas nalgas dos toiros.
Vai daí, o meu também bom amigo João Cortesão escreveu-lhe uma carta aberta e mandou-o levar nas nalgas.
E eu pergunto, com o maior respeito e a mais profunda amizade que tenho pelos dois (mais pelo João, obviamente, cuja Amizade, pura e verdadeira, vem já dos tempos do meu querido Pai) se era possível, antigamente, os Senhores (ilustres) da crítica tauromáquica mandarem alguém “levar nas nalgas”. Não estou a imaginar um Senhor do nível de um Leopoldo Nunes ou de um Saraiva Mendes escrever uma carta aberta a Senhores do nível de um Nizza da Silva, de um Solilóquio, de um Terrible Pérez ou de um José Manuel Severino e dizerem-lhes para irem “levar nas nalgas”.
A questão que está em causa é apenas e só a decência. Ou antes, a não decência que hoje grassa pelo meio taurino. Com estas guerras de lavadeiras e estas telenovelas mexicanas, continuamos, cantando e rindo, a dar de mão beijada trunfos e mais trunfos aos senhores anti-taurinos. Que a esta hora e se acompanharam toda esta polémica, devem estar, com carradas de razão, a rir a bandeiras despregadas, da ordinarice que reina no meio da tauromaquia.
É por essas e por outras que nos levam cada vez menos a sério, é por essas e por outras que a RTP já só transmite três touradas e qualquer dia nem uma transmitirá… Somos (eles, eu não) alegremente estúpidos. E andamos (andam eles) às turras uns com os outros. Somos (eles) os principais anti-taurinos. Mas ainda não percebemos isso (eles). Precisamente porque somos (eles) demasiado estúpidos.
E, para agravar a situação, agora transformaram o pobre do João Dinis em saco de levar porrada. Cada vez que alguém se irrita, prega uma bofetada no Dinis. E o mau aspecto que isso dá? Por amor de Deus, haja decência.
O Dinis e a Solange cairam em desgraça. Porque também não tiveram inteligência para não cair. São os mal-amados da Festa. Mas daí a baterem no rapaz ou ameaçarem que batem, Santo Deus Nosso Senhor. Desaprovo em absoluto. E estarei sempre solidário, mesmo que não concorde com o que eles escrevem e fazem e dizem, com um companheiro da Imprensa que é ameaçado ou agredido por algum apoderado que perde as estribeiras e não se sabe comportar com o nível e a classe que tinham apoderados como os Senhores Fernando Camacho, Raul Nascimento, Mário Freire, Vidal Patrício, Rogério Amaro ou os ainda e felizmente apoderados Senhores Carlos Amorim, “Nené” e Rui Bento. E outros. Que, felizmente, ainda há Homens decentes neste meio. Mas são cada vez menos.
O João Salgueiro é que tinha razão. Carradas de razão. A Festa perdeu o glamour, perdeu o nível e deixou fugir a classe.
Haja decência, meus Senhores! Levem nas nalgas, façam o que quiserem - mas sempre tudo com decência. A Festa, assim, não vai a lado nenhum. E um dia acaba mesmo.
Fotos D.R. e Armando Alves/Forcadilhas e Toiros