quarta-feira, 20 de setembro de 2017

"É preciso repensar muita coisa", alertou Miguel Alvarenga em entrevista à Rádio Iris a propósito da morte de dois Forcados


"O que se está a passar não sei, mas que é preciso fazer alguma coisa, é. Interpreto a trágica morte de dois Forcados no curto espaço de dez dias como uma triste coincidência, apenas e só. Não quer dizer que agora vão morrer forcados todos os dias, nem isso aconteceu, graças a Deus, com uma grande frequência nos últimos anos, mas a verdade é que estas duas mortes e todas as polémicas que a seguir se levantaram, nomeadamente quanto ao estado das enfermarias das praças de toiros, terão que ser obrigatoriamente motivo de reflexão durante este Inverno e há que fazer uma profunda e cuidada análise a muitas coisas na nossa Festa. Antes que seja tarde de mais" - palavras de Miguel Alvarenga (foto), ontem, numa importante entrevista a Maurício do Vale no programa de tauromaquia "Sombra Sol" da Rádio Iris de Samora Correia.
Convidado a comentar as mortes de dois forcados nos últimos dias, o director do "Farpas" tocou em algumas feridas que convém rever:
"Não sei se as bandarilhas de segurança vieram reforçar a segurança dos Forcados. Creio que é preso por ter cão e preso por o não ter. As antigas cegavam os Forcados, estas permitem que os toiros cheguem muito mais inteiros à pega, com maior potência e se calhar será essa a razão das lesões que mataram os dois Forcados e feriram outros em anos anteriores, ou seja, pancadas fortíssimas".
E acrescentou:
"Quanto à celeuma levantada pelo apetrechamento necessário das enfermarias, não me alargo em comentários, porque não tenho conhecimento de facto, mas remeto-os para o lúcido e corajoso texto do Dr. António Peças, médico cirurgião e antigo forcado, que sabe, melhor que ninguém, do que fala e pôs os dedos em todas as feridas".
"Por outro lado - disse - hoje em dia muitos ganaderos deixaram de criar toiros de lide e estão a criar carne para canhão, animais com 600 e 700 quilos, pesos que não têm nada que ver com a morfologia do toiro. Há que repenser tudo isso, há que escolher se queremos que os Forcados continuem a ser os últimos românticos da Festa ou se há quem esteja a preferir que sejam apenas e só gladiadores".
"Acho que todos os responsáveis pela Festa e todas as associações representativas das várias classes de intervenientes no espectáculo tauromáquico terão que se debruçar muito a sério sobre todas estas questões e decidir qual o caminho a tomar, antes que voltemos a estar todos a chorar a morte de mais forcados", concluiu.
O tema das tragédias que têm enlutado o meio taurino vai voltar a ser tema do programa de Maurício do Vale na Rádio Iris na próxima terça-feira à noite (dia 26), com as presenças em estúdio de José Potier, presidente da Associação Nacional de Grupos de Forcados e dos forcados Carlos Pegado e Pedro Maria Gomes, ambos sobreviventes a gravíssimas lesões no fígado idênticas às que vitimaram os forcados Pedro Primo e Fernando Quintella.

Foto Fernando Clemente/www.parartemplarmandar.com