Muito mais do que simplesmente importante, é urgente e necessário que os aficionados entendam que nesta fase complicada em que permanece a incógnita quanto ao futuro da primeira praça do país, é crucial e decisivo que o Campo Pequeno esgote no próximo dia 29 no festival do Dia da Tauromaquia
Miguel Alvarenga - Infelizmente e por norma os aficionados encolhem os ombros e deixam andar, manifestando uma preocupante indiferença e raramente dando a cara nos momentos difíceis em que é preciso demonstrar a nossa força e a nossa união.
Mas desta vez - e se calhar pela primeira vez - é urgente e necessário que todos entendam que a praça de toiros do Campo Pequeno vai ter que estar esgotada na tarde do próximo dia 29 no grande festival do Dia da Tauromaquia, uma promoção da Federação ProToiro e da sua marca Touradas.
O empresário do mundo do espectáculo (musical) Álvaro Covões já deverá ser nesse dia o novo dono do Campo Pequeno. E é absolutamente necessário, em nome de um futuro que não se avizinha muito risonho para a primeira praça do país, que os aficionados lhe saibam demonstrar a força da Tauromaquia no próximo dia 29 - esgotando a lotação da praça.
Já se percebeu que Covões não vai promover corridas de toiros na "sua" praça. Que o seu negócio "é a música e não os toiros". Mas é importante e decisivo que ele entenda que vai comprar a adjudicação de um espaço que tem mais de cem anos e um historial imenso como praça de toiros. E não como palco de concertos.
Bem sabemos que as obras - que nunca ninguém soube agradecer devidamente à Família Borges - tornaram a praça um espaço polivalente e multiusos, onde agora também se realizam - e ainda bem que assim é - outro tipo de espectáculos. Mas é importante nunca esquecer nem perder de vista que este monumento ex-libris da capital é, primeiro que tudo, uma praça de toiros e foi para isso que foi construído.
Independentemente de se saber neste momento (a incógnita permanece) se vai ser Rui Bento, se vai ser Paula Resende, se vão ser outra vez os dois ou se serão outros, os promotores das corridas de toiros no futuro próximo do Campo Pequeno, o mais importante é assegurar que vai haver temporada e que as corridas de toiros vão continuar a existir na primeira praça do país.
Por mais escandaloso que isso possa ser e por mais estranho que seja o facto de ninguém se ter mexido ou indignado por isso, o novo contrato de adjudicação do Campo Pequeno obriga apenas o novo gestor a promover uma única corrida de toiros por ano. E parece que ainda ninguém viu isso. Fala-se nos mentideros na intenção de Covões nos "fazer o favor" de disponibilizar um máximo de seis datas a quem quiser subarrendar a praça para dar corridas de toiros. Rui Bento já se manifestou decidido e disponível para ser ele a subarrendar as datas, disse-o ontem ao jornal "Correio da Manhã". Tudo vai depender, presume-se, da proposta que Covões lhe fizer. A ele ou a outros.
E é preciso que os aficionados entendam, como ontem titulou o "CM" na notícia, que as touradas neste momento podem estar em risco no Campo Pequeno. E mais do que entenderem, é urgente e necessário que reajam. E não continuem de braços cruzados e ombros encolhidos à espera de que seja o que Deus quiser.
Escrevi há dias que se isto se passasse em Espanha e a incógnita fosse o futuro da Monumental de las Ventas, já teria certamente havido uma "guerra civil". Já tinham vindo os aficionados para a rua manifestar-se e exigir clareza e definição. Por cá, está tudo normal, está tudo tranquilo - e ninguém faz nada.
Mas vamos ter que fazer. No dia 29 vamos ter que esgotar o Campo Pequeno e demonstrar que a Tauromaquia está viva e tem força. Se isso não acontecer, Álvaro Covões terá depois toda a legitimidade para alegar que os seus concertos esgotam sempre a praça e que as touradas não, utilizando, com toda a razão, esse facto para justificar a não realização de corridas de toiros em Lisboa.
Por isso é preciso, é urgente, é necessário e, mais, é crucial e vai ser decisivo para o futuro da Festa que os aficionados se compenetrem da importância que vai ter o facto de esgotar a praça do Campo Pequeno no próximo dia 29. E se isso não acontecer, não se admirem depois de ficarmos reduzidos a uma tourada por ano, e um dia a nenhuma, na primeira praça do país.
Fiz-me entender, meus amigos? Ou vai ser preciso explicar outra vez?
Foto Emílio de Jesus/Arquivo