Publicamos, com a devida vénia, a crónica de Miguel Ortega Cláudio da "noite de terror" vivida ontem na praça de Reguengos de Monsaraz, dada à estava no site taurinews.com
Miguel Ortega Cláudio/Tauronews - Há noites e tardes de toiros que caem numa deriva de medo e angústia que dificilmente se conseguem estancar, foi o caso de ontem em Reguengos de Monsaraz. O astro estava quente e pesado, parecia querer adivinhar tormenta…. E houve!
Noites como esta dão que pensar…
Por um lado, reforçam a teoria de que os toiros – tal como as pessoas – têm dias, porque senão não se explica que dentro da mesma ganadaria surjam indivíduos de carácter tão diferente. Os Castros de Alcochete nada tiveram a ver com os Castros de Reguengos… Ontem pela porta dos sustos da praça "José Mestre Bastista" saíram seis toiros grandes, pesados, complicados, alguns com más ideias e a meterem cavaleiros, bandarilheiros e sobretudo os forcados em sérios apuros.
Por outro lado, porque numa praça de toiros tudo é de verdade, não se representa nada e a tragédia pode andar sempre a pairar numa arena….
Quando vos escrevo estas palavras tenho um nó na garganta… Tenho um amigo, o João José Rosmaninho, no bloco operatório do Hospital do Espírito Santo de Évora a ser operado a uma lesão grave no fígado. A angústia pairou na arena quase toda a noite quando os forcados batiam as palmas os toiros mas na pega do terceiro toiro pairou o pior… Os momentos vividos foram fortes, um toiro a irromper pelo grupo de São Manços com uma velocidade estonteante com os forcados a parecerem peças de dominó a caírem e o João José na cara do toiro… só as tábuas detiveram o ímpeto do animal e a vontade de ficar do João… O embate foi terrível… Também um terceiro ajuda foi derrubado e caiu de má maneira ficando inanimado ao bater com a cabeça perto do estribo da trincheira. As caras dos colegas de grupo, público que estava mais perto do acontecido e bombeiros eram de pânico… Se Deus quiser, tudo isto não passará de um susto!
Como vos disse em cima os toiros marcaram a noite… Pelas complicações impostas, os cavaleiros tiveram que mostrar muito oficio e vontade, para lhe conseguir arrancar alguma coisa e dar a volta.
João Ribeiro Telles, andou em bom plano na lide do que abriu praça, um toiro com mobilidade, e até meio da lide com uma certa qualidade. O João, cravou bons ferros em bonitas abordagens, rematando os mesmos com toureria e garbo, acabou a lide com um bonito palmo. Com o quarto talvez o mais “fácil” da noite, o João andou em plano superior! Bem nos compridos, nos curtos a actuação foi em crescendo e conseguiu quase o impossível fazer esquecer por momentos o pânico vivido anteriormente. Rematou a lide com dois ferros do outro mundo, principalmente o último que pôs a praça a aplaudir de pé. O João e o Ilusionista formam uma parelha que põem o público a vibrar com o bom toureio a cavalo. Olé!
Luis Rouxinol Jr., sorteou um lote quase impossível, o seu primeiro era bruto e só acometia pela certa sempre tentando colher o cavalo de má maneira e o quinto um manso metido em tábuas que de lá não saia de maneira nenhuma. O cavaleiro de Pegões teve que suar a gota gorda para dar a volta a ambos os toiros! No seu primeiro cravou bons ferros, desenvolveu a lide adequada ao oponente e agradou ao público. No quinto recebeu o Castro numa grande sorte gaiola, depois teve que fazer das tripas coração para conseguir cravar os ferros no toiro. Só a cesgo e na porta dos curros o conseguiu farpear. Lide de muito oficio com o público a reconhecer, a valorizar, sabendo ver as dificuldades que o Luís tinha por diante e por isso não lhe regateou aplausos.
António Prates, nos seus dois toiros tentou sempre agradar ao público presente nas bancas, que preencheu quase na totalidade os lugar que podiam ser vendidos. No terceiro a lide foi de menos a mais e acabou em plano de triunfo gordo, o ferro com que rematou a lide foi genial, público de pé em estrondosa ovação . No sexto teve que meter toda a carne no assador para cravar os ferros a um toiro que caçava moscas quando via o cavalo por diante… O António foi valente, não voltou a cara à luta e a série de curtos teve boa nota, os remates foram bonitos e os recortes toureiros.
A noite para os forcados foi terrorífica… Chegando mesmo a corrida a estar interrompida no fim da lide do quarto toiro por por falta de ambulâncias para transportar os forcados colhidos para o hospital de Évora…
Abriu praça um estoico Duarte Dias pelos Amadores de São Manços, que bateu as palmas ao toiro por seis vezes e de lá saiu maltratado… Pedro Pontes, foi para a dobra e a sesgo resolveu com eficácia o primeiro grande problema da noite.
João José Rosmaninho, foi o escolhido para a cara do quarto e como já vos escrevi em cima os momentos vividos na arena são indescritíveis, também nesta tentativa Carlos Placas terceiro ajuda caiu inanimado na arena fazendo temer o pior aos presentes. O Carlos, felizmente recuperou a consciência ainda na enfermaria da praça e realiza exames durante a noite no hospital. Para a dobra saltou Jorge Valadas com eficiência resolveu o problema à primeira tentativa.
Para a cara do quinto foi Manuel Trindade que à quarta e a sesgo pegou outra prenda…
Paulo Caturra, bateu a palmas ao segundo da noite por quatro vezes, sempre desfeiteado pelas pelas duras investidas do oponente. O Paulo, depois de pisado de má maneira na cara pelo toiro e o primeiro ajuda recolheram à enfermaria. Para a dobra saltou o cabo Ricardo Cardoso que a sesgo e com ajudas carregadas teve que lhe ir à cara mais duas vezes saindo também ele muito maltratado desta pega.
André Mendes, à quarta tentativa pegou o quarto da noite, um toiro bruto e a tirar a cara como muitos dos seus irmãos quando se sentiam agarrados.
Carlos Polme, fechou a noite à terceira tentativa numa grande pega, fechado de pernas e braços como uma lapa suportou derrotes intermináveis de mais um toiro complicado.
Dirigiu a corrida Domingos Jeremias, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme.
Fotos João Silva/@João R. Telles e tauronews.com
![]() |
João Telles, fantástico em Reguengos, "abriu-nos" o apetite para o vermos esta semana na terça e na quinta na Moita |
![]() |
A duríssima pega em que se lesionou gravemente o forcado João José Rosmaninho, do Grupo de São Manços |