terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Póvoa de Varzim: Catedral Nortenha da Tauromaquia começa amanhã a ser demolida


Nuno Salvação Barreto foi o grande impulsionador da
construção da Monumental Praça de Toiros da Póvoa de
Varzim, inaugurada em 19 de Junho de 1949, há 71 anos
Nos anos 90, a Monumental viveu tardes de grande fulgor
com lotação esgotada nas recordadas 
Corridas TV/Norte
organizadas pelo saudoso empresário Manuel Gonçalves
Há dois anos, os aficionados da Póvoa de Varzim exigiram
Liberdade na última corrida televisionada desde a sua praça

A demolição da emblemática Monumental Praça de Toiros da Póvoa de Varzim, que foi durante muitos anos o grande baluarte da Tauromaquia no Norte, inicia-se amanhã, quarta-feira, dando posteriormente lugar a um espaço multiusos denominado Póvoa Arena, que receberá actividades culturais e desportivas, mas que não incluirá a tauromaquia.


O anúncio do arranque das obras decorreu na última reunião da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, presidida por Aires Pereira, do PSD, que anunciou que a obra de 8,7 milhões de euros teve aprovação do Tribunal de Contas e tem uma duração prevista de 24 meses.


O novo espaço terá capacidade para 3 mil espectadores, contando ainda com estabelecimentos comerciais e de restauração, além dos balneários e camarins para usufruto dos artistas e atletas que vão passar pela Arena.


O autarca referiu que “a actual Praça de Toiros será demolida para dar lugar à Póvoa Arena”, que apesar do nome não contempla a tauromaquia.


Morre assim, sem pena nem glória, aquela que chegou a ser considerada a Catedral Nortenha da Tauromaquia e por onde passaram as maiores figuras do toureio mundial durante anos e anos.


Morre sem que os chamados representantes do sector tauromáquico, nomeadamente a Federação PróToiroo Clube Taurino Povoense - que entregou ao presidente da Assembleia Municipal uma petição com mais de 10 mil assinaturas contra a demolição do tauródromo - tenham conseguido fazer alguma coisa para evitar este desfecho.


Muitos anos de tradição tauromáquica


No século XIX, as corridas de toiros e espectáculos de cavalos na Póvoa de Varzim ocorriam dentro da Fortaleza da Póvoa. Posteriormente foram criadas praças de toiros improvisadas, construídas em madeira, no Campo das Cobras, junto à Rua Santos Minho. A utilização do Campo das Cobras como recinto de touradas é bastante antiga, está comprovada a existência de uma praça de toiros neste local no século XVIII, quando se faz nota da construção de um teatro em 1793 ao lado da praça de toiros.


No Alto de Martim Vaz e no início do século XX, o Estádio Gomes de Amorim foi usado como recinto de touradas e espetáculos equestres. O projecto para uma praça de toiros permanente na Póvoa de Varzim surge durante o Estado Novo por influência de Nuno Salvação Barreto, forcado e empresário reconhecido, que dirigiu ao tempo o Casino da Póvoa


Artur Aires foi o grande impulsionador da construção da actual Monumental, bem como do primeiro Museu Tauromáquico. A rua que hoje envolve a praça de toiros tem o seu nome.


O projecto de Fevereiro de 1949 é do Arquitecto Alfredo Coelho de Magalhães. A praça foi construída junto ao Alto de Martim Vaz e a corrida inaugural teve lugar a 19 de Junho de 1949, com a participação dos cavaleiros tauromáquicos Simão da Veiga Jr. e José Rosa Rodrigues. Em 1959, são substituídas as bancadas de madeira por betão num projecto do Eng. Mário Fernandes da Ponte.


Gerida durante muitos anos por Nuno Salvação Barreto, que ali levou as grandes figuras do toureio do seu tempo, a Monumental da Póvoa de Varzim conheceu depois momentos de grande fulgor nos anos 90 quando o empresário Manuel Gonçalves ali passou a organizar todos os anos a Corrida RTP/Norte, que esgotava a lotação do tauródromo. Foi também nesta emblemática praça que se realizou nos anos 90 uma das recordadas Corridas "Farpas", organizada também por Manuel Gonçalves, em que participaram os cavaleiros João Moura e João Moura Jr. (então amador), o matador José Luis Gonçalves e o ainda novilheiro Luis Vital "Procura" e os forcados Amadores de Lisboa.


A praça de toiros foi adquirida pela Câmara Municipal em 23 de Maio de 1984, por escritura pública, à Empresa de Recreios da Póvoa de Varzim. A compra incluiu o acervo documental e museológico da Biblioteca Tauromáquica, ali instalada desde 1962.


Em 2008, um empresário alemão propôs transformar a Praça de Toiros num Biergarten (espaço de lazer, entretenimento e cultura) semelhante aos que existem em Munique, na Alemanha. Projecto que não se concretizou.


Em Junho de 2018 foi anunciado pela Câmara que a praça seria transformada em multiusos e deixaria de receber touradas. Com um investimento superior a oito milhões de euros, será construído um multiusos que acolherá as mais variadas atividades desportivas e culturais ao longo de todo o ano.


Nos últimos anos apenas se realizavam duas touradas por ano. No Verão de 2018 a Monumental da Póvoa de Varzim acolheu as suas duas últimas corridas. 


Em Junho de 2019 foi anunciado que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim iria demolir a praça de toiros para criar um novo equipamento multiusos.


No dia 18 de Julho de 2019, quando para lá estava anunciada uma corrida de toiros, a Câmara retirou a trincheira da praça, formalizando desta forma o primeiro passo para a demolição que amanhã se vai iniciar.


Fotos D.R.


A emblemática Catedral da Tauromaquia no Norte começa
amanhã a ser demolida para dar 
lugar, dentro de dois anos,
a um pavilhão multiusos onde jamais se realizarão
espectáculos tauromáquicos