terça-feira, 18 de novembro de 2025

Empresas/2025 - Rui Bento, o Homem do Ano

Miguel Alvarenga - No que aos empresários tauromáquicos diz respeito, Rui Bento (foto de cima) é, sem sombra de dúvidas, o Homem do Ano. A grande revelação é José Maria Charraz. Vamos ao primeiro balanço da temporada: os empresários. Seguem-se os artistas em próximos dias.

O público disse claramente que queria ir aos toiros, houve muitas tardes e noites de praças cheias e outras esgotadas. 2025 foi um ano de afirmação da tauromaquia como uma das mais apetecíveis manifestações da nossa tradição e da nossa cultura. Dizer o contrário é mentir.

Foi um ano altamente positivo para a maioria dos empresários taurinos. O IVA desceu, as praças encheram, desta vez não se podem queixar, nem vir, com os falsos choradinhos do costume, lamentar que perderam dinheiro…

Rui Bento (empresa Doses de Bravura) é, sem sombra para dúvidas, o grande empresário de 2025. Assumindo parcerias nas praças de Almeirim (com a Santa Casa da Misericórdia), da Nazaré (com a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré) e da Figueira da Foz (com a associação Coliseu Figueirense), muitos dos principais grandes êxitos da temporada (de que destaco a corrida com Morante na Nazaré) foram nas suas praças. Só na Nazaré, esgotaram três das quatro corridas que ali levou a cabo e a outra encheu, havendo a destacar ainda a realização, pelo segundo ano consecutivo, da louvável novilhada da Orelha de Ouro.

Além destas praças, Rui Bento foi também responsável esta temporada pela promoção da corrida da Feira de Maio em Azambuja, que constituiu um grande sucesso de bilheteira e artístico.

O sucesso de Rui Bento e a forma de saber estar e saber fazer diferente tiveram o reconhecimento internacional da super-empresa mexicana Fusión Internacional por la Tauromaquia, que o chamou para liderar, juntamente com o antigo matador espanhol António Barrera, o apoderamento do matador Daniel Luque e a gestão da muitas praças que a FIT explora em Espanha, entre as quais as de Olivença, Badajoz e Salamanca.

Neste fim de temporada - e de ano - e depois de já ter tido um grande destaque em Espanha como colaborador da empresa Chopera (antes de assumir em 2006 a gerência do Campo Pequeno), Rui Bento regressa em força a Espanha e mantém o seu peso em Portugal. É o taurino lusitano mais importante do momento.

Em Lisboa, no Campo Pequeno, pelo sexto ano consecutivo, desde há um com apenas direito a promover quatro touradas, continuou Luis Miguel Pombeiro, desta vez - e depois de um Inverno altamente polémico com a trapalhada de ter assumido duas parcerias com empresários diferentes… - associado a José Maria Charraz, que se destacara já pela forma séria e ousada com que geria algumas importantes praças do Alentejo, como as de Moura e Beja.


José Maria Charraz (foto de cima) constituiu uma mais valia para Pombeiro - sem o apoio (e o fôlego que o novo parceiro lhe veio dar) do antigo cabo dos Forcados de Beja, certamente que Diego Ventura e Roca Rey não teriam pisado a arena do Campo Pequeno...

Pese embora o facto de ter sido, um ano mais, palco de apenas quatro corridas, já não tendo, nem de longe nem de perto, a força e o significado que tinha no mundo taurino português, o Campo Pequeno registou uma boa entrada na noite de abertura celebrando os 45 anos de alternativa do Maestro Paulo Caetano; e esgotou por duas vezes, na corrida do regresso de Diego Ventura e na última com Roca Rey. Duas vitórias importantes e dois marcos de afirmação de José Maria Charraz.

A de 22 de Agosto - com oito cavaleiros e quatro grupos de forcados, uma coisa completamente disparatada e que se espera não tenha repetição em 2026 - foi uma corrida desajustada no meio de uma temporada de grandes cartéis e, ainda apara mais, tragicamente marcada pela morte do jovem forcado Manuel Maria Trindade, do Grupo de São Manços. Que Deus o tenha em descanso.

Esperemos que não se repita neste Inverno a tristemente célebre trapalhada das parcerias que Pombeiro protagonizou há um ano… mas a verdade é que o próprio nos informou na semana passada que ainda não estava certa a continuidade da “sociedade” com Charraz… pelo que tudo é de esperar... Adiante.

Santarém foi palco de três corridas de praça cheia, voltando a Associação Sector 9 a marcar a diferença. Apesar de as cartas, mesmo depois de baralhadas, serem sempre as mesmas (quero dizer: os cartéis terem quase todos os anos os mesmos toureiros, exceptuando os matadores, que têm sido a novidade), a verdade é que o jogo continua a ser um sucesso. Sabem fazer as coisas bem feiras, com aficion e com imensa classe. E isso continua a marcar a diferença. E a ser um exemplo para todos.

Pena, só, que tenham trazido Roca Rey em 2024 e Manzanares em 2025 como únicos matadores, sem darem oportunidade a toureiros portugueses de brilhar ao lado deles. Como antigamente sempre acontecia nas corridas mistas que se realizavam na Monumental “Celestino Graça”.

Para 2026, houve já quem noticiasse que a Associação Sector 9 pretendia montar um mano-a-mano entre Diego Ventura e João Moura Jr. (desavindos há alguns anos, depois das tristemente célebres declarações de Ventura ofendendo o Maestro Moura), bem como repetir o matador Roca Rey. A associação ainda não confirmou essas hipóteses…

Em Reguengos de Monsaraz estreou-se este ano a Associação Reguengos Aficion, um formato idêntico ao de Santarém, maioritariamente composta por antigos elementos do grupo de forcados local, que montou atractivos cartéis e pode gabar-se de ter tido uma intervenção brilhante nesta sua primeira temporada.

Na praça do Cartaxo, exceptuando a corrida de Junho (procissão das velas), não foram brilhantes (e a chuva não ajudou) as outras promoções da associação composta igualmente por antigos forcados que gere a praça ribatejana. Como sempre, a corrida de encerramento da temporada em 1 de Novembro foi anunciada e não se realizou porque choveu…

No Redondo, valeu a corrida das festas e pouco mais. Tratando-se de uma praça coberta, era de esperar um maior empenho na organização de mais corridas, mas a realidade é que o Coliseu continua a contar pouco para o campeonato… apesar de reunir todas as condições para poder contar muito mais.

Em Évora, os dinâmicos empresários António Alfacinha e Carlos Ferreira continuam a levar por diante um trabalho brilhante e de muito rigor. 2025 foi uma temporada fantástica, com cartéis atractivos, a seriedade do toiro-toiro e muito entusiasmo do público, que por várias vezes encheu as bancadas.


Menos brilhante do que se esperava foi a temporada da empresa Toiros com Arte, de Jorge Dias e Samuel Silva (foto de cima), neste seu terceiro ano de actividade e depois de muito ter prometido e muito ter feito nos primeiros tempos.

Exceptuando praticamente três promoções - a primeira corrida da temporada no Montijo, o mano-a-mano de Diego Ventura com Duarte Fernandes; a corrida de comemoração do centenário da praça de Arruda dos Vinhos; e a última em Portalegre, a encerrona de Moura Júnior - as corridas que montaram noutras praças, nomeadamente nas de Coruche e Chamusca, não tiveram os resultados que se pretendiam e se impunham. Nesta última praça, registou-se uma boa afluência de público na corrida mista da Ascensão, o mesmo já não se podendo dizer da última, a de mudança do cabo do GFA da Chamusca, onde apresentaram um descabido mano-a-mano de dois cavaleiros sem qualquer historial como competidores… que, obviamente, não atraiu público.

Houve em 2025 uma notória quebra no impacto que a Toiros com Arte teve quando aqui chegou. Diz-se que as praças do Montijo, de Coruche e da Chamusca irão a concurso e que há vários pretendentes de força na calha. Se as perderem, como tudo leva a crer que aconteça, Jorge Dias e Samuel Silva ficam reduzidos a Portalegre, a Arruda e às duas ou três pequenas praças que já geriam no Alentejo. Depois de terem chegado a formar parceria com Pombeiro no Campo Pequeno (em 2024), resta agora saber se recuperam, com serenidade, bom senso e melhor organização, a força e a dinâmica com que arrancaram há três anos… ou se o seu tempo chegou ao fim.


Em Vila Franca de Xira estreou-se Bernardo Alexandre (foto de cima), antigo forcado do grupo da cidade, à frente de uma equipa composta ainda por Ricardo Castelo (ex-cabo do GFA de Vila Franca), pelo advogado Eduardo Borba Castro e pelo também empresário Rui Gato Rodrigues.

Não tinham tarefa fácil sucedendo a Ricardo Levesinho, emblemático e carismático empresário da “Palha Blanco”, que abandonara o barco no final da temporada anterior, abdicando do direito de opção que lhe proporcionava continuar por mais um ano ao leme, amuado com a polémica do cancelamento da corrida mista da Feira de Outubro, mas, principalmente, abalado e agastado com uma crise financeira que lhe vinha retirando o fôlego nos últimos tempos.

Bernardo Alexandre chamou a imprensa e os aficionados no início das suas funções para apresentar os planos e os cartéis da temporada vilafranquense. Os cartéis não eram muito imaginativos e, na maioria, baseavam-se no formato “mais do mesmo”.

A primeira corrida, em Maio, não se realizou porque os três cavaleiros se recusaram a tourear, alegando que o piso da arena estava impróprio. Havia ambiente no exterior da praça e este incidente não favoreceu minimamente a imagem da nova empresa - embora tivesse sido alheia ao que se passou.

A corrida deu-se uns dias depois com um novo cartel - um mano-a-mano que não foi suficiente para atrair público às bancadas da “Palha Blanco”.

No Colete Encarnado vieram os dois cavaleiros “de sempre” João Telles e Francisco Palha e a pé toureou o francês Sebastián Castella, matador que deu os primeiros passos em Vila Franca e ainda ali mantém grandes amizades, mas que lidou dois toirinhos sem presença e que retiraram importância ao seu labor. A praça encheu, mas a corrida teve pouca história.

Na Feira de Outubro, as coisas também não correram de feição aos novos empresários. Faltou o matador David de Miranda na corrida mista e em lugar de o substituirem, optaram por dar aos cavaleiros os dois toiros que lhe estavam destinados. Os cavaleiros iam tourear um toiro cada e assim tourearam dois, ficando a lide a pé a cargo do novilheiro Tomás Bastos. A decisão da empresa não agradou aos aficionados.

A ausência de David de Miranda, forçada por colhida na véspera em Espanha, aconteceu “em cima da hora” - mas quando se contrata um matador-figura, a tourear quase todos os dias, sujeito a sofrer uma colhida (como aconteceu) tem que existir um plano b, que a empresa, por inexperiência, não tinha.

A corrida de terça à noite teve pouco público. O cartel era aceitável - mas pouco apelativo, mantendo, como se disse anteriormente, o formato de “mais do mesmo”. Faltou um cartel especial em Vila Franca.

Em suma: houve vontade e houve empenho por parte do novo grupo empresarial que se estreou na “Palha Blanco”. Faltou experiência para evitar ou dar melhor solução aos incidentes verificados (o cancelamento da corrida em Maio e a não substituição de Miranda em Outubro) - mas os erros são aprendizagens. Por isso se espera que 2026 traga novos rumos - e melhores sucessos - ao grupo de Bernardo Alexandre em Vila Franca de Xira.

Ricardo Levesinho (Tauroleve) saiu de Vila Franca, mas continuou na Moita. Continuou “mais ou menos”. Agora, diz-se, em parceria com um empresário residente em França e que foi forcado nos Amadores da Moita. A praça celebrou 75 anos e comemorou-os com uma corrida mista em Julho - que foi um fracasso enorme, sem atrair público às bancadas. A Feira de Setembro decorreu também sem grande entusiasmo. Levesinho foi um empresário importante e que esteve alguns anos uns pontos bem acima da concorrência. Depois aconteceu “a queda de um anjo”. Lamentável. Muito lamentável. 

Em Salvaterra de Magos, a equipa/comissão formada por Luis Pires dos Santos, José Rafael, António Manuel Silva e José da Costa, manteve o nível a que elevou a centenária praça de toiros ribatejana com atractivos cartéis e sempre a aposta na verdade do toiro-toiro. Luis Pires dos Santos voltou a promover também boas corridas a norte, nas praças que gere na zona raiana. E também em Elvas, em Setembro, desta vez sem Bastinhas e apenas com uma corrida (costumavam ser duas).

Exceptuando uma ou duas organizações pontuais a norte, a empresa Toiros & Tauromaquia, de Margarida e António José Cardoso, reduziu este ano a sua actividade à praça de Alcochete, com bons cartéis (entre os quais uma triunfal encerrona de Francisco Palha, a primeira da sua carreira) e casas cheias na Feira do Barrete Verde em Agosto.

Depois de Paulo Vacas de Carvalho ter dado por terminada a sua missão brilhante de duas décadas ao leme da praça de Montemor-o-Novo e com o imóvel a precisar de obras e em risco de ficar este ano sem corridas, José Maria Charraz deitou mãos à empreitada, solucionou a necessária intervenção em tempo recorde e "salvou a Pátria": não realizou uma corrida em Setembro, mas sim duas e mais uma novilhada, promovendo uma feira taurina. Mais uma intervenção positiva do empresário alentejano nesta temporada de 2025, havendo ainda que destacar, entre outras, as suas boas organizações nas praças de Beja e de Moura.

Em São Manços e em Vila Viçosa, o antigo forcado Nuno Leão voltou a deitar cartas com a promoção de excelentes corridas - e há que destacar a bonita atitude de suspender a corrida de Agosto depois da morte do forcado Manuel Trindade, do Grupo de São Manços, em Lisboa. Seria mais rentável transformar a corrida numa homenagem à memória do malogrado forcado, esgotar a praça e amealhar uns valentes euros, mas Nuno Leão optou pelo luto e simplesmente cancelou a corrida. Aplausos para a lição que a todos deu este empresário.

Em Alter do Chão, o também antigo forcado Américo Rolo voltou a esgotar a praça na tradicional corrida de 25 de Abril com um atractivo e bem montado cartel; e em Sobral de Monte Agraço, depois do sempre bem rematado festival misto também no dia 25 de Abril, José Luis Gomes esgotou um ano mais a praça na tradicional corrida de Setembro, com seis cavaleiros, um elenco variado e com estilos para todos os gostos, repetindo a prestigiada ganadaria Lopes Branco depois do triunfo do ano anterior.

Depois de perderem as praças do Montijo e da Figueira da Foz, José Luis Zambujeira e João Anão herdaram de Pombeiro as de Idanha-a-Nova e de Alcácer do Sal - onde promoveram corridas de sucesso e mantiveram o nível elevado e a seriedade costumeira das suas cuidadas organizações.


Rafael Vilhais (foto de cima) marcou a temporada com as suas impecáveis organizações na praça das Caldas da Rainha, sobressaindo este ano com a reaparição de Pedrito de Portugal na tradicional corrida de 15 de Agosto, havendo apenas a lamentar a escassa qualidade dos toiros Veiga - que quase deitaram por terra o que podia ter sido um grande sucesso (com praça esgotada, ainda por cima).

No mesmo dia 15 de Agosto, Rui Palma (em parceria com a Santa Casa da Misericórdia) voltou a repetir a proeza de esgotar a praça da Messejana.

Em Monforte, também com uma nova associação a gerir a praça, há a registar a realização de uma corrida com um atractivo cartel e que foi a única que contou em Portugal com a presença do matador “Juanito”.

No início da temporada, destaque para três importantes festivais: o de Mourão, organizado por Joaquim Grave; o de Sobral de Monte Agraço, organizado por José Luis Gomes; e o de Santa Eulália, organizado por Alberto Barradas (Memorial José Tello Barradas). Sempre atractivos e sempre com bons cartéis.

Este ano, felizmente, foram menos as touradas realizadas em praças portáteis. Essas “touradas desmontáveis” aceitavam-se nos tempos em que Fernando dos Santos, José Trincheira e Chibanga, entre outros, as promoviam em localidades, sobretudo a norte, onde não existiam praças de toiros fixas. Depois, passaram a realizar-se em toda a parte e por dá cá aquela palha, sem a mínima justificação plausível. Felizmente, a moda acabou. A tauromaquia é um espectáculo de classe - não é para barracas

Do outro lado do Atlântico, a Tertúlia Tauromáquica Terceirense marcou mais uma vez pontos com a excelente organização da Feira das Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo, em Junho, havendo que destacar a encerrona de João Moura Jr. com lotação esgotada.

No mês de Julho, a União Tauromáquica do Ramo Grande promoveu a sua corrida (mista) em Angra, com praça cheia e a agradável revelação de um matador que conquistou os aficionados terceirenses: o espanhol Ismael Martín, que por isso mesmo vai ser repetido na edição de 2026 desta já tradicional Corrida do Ramo Grande.

Fotos M. Alvarenga