sábado, 17 de agosto de 2019

Bastinhas roubado na Arruda...

Vasco Pereira, cabo dos Amadores de Vila Franca (melhor grupo), Francisco
Palha (melhor lide) e David Moreira (melhor pega), também do Grupo de Vila
Franca, foram ontem os vencedores da noite. Mas o prémio ao cavaleiro foi
sonoramente protestado pelo público, cheio de razão
Foi a segunda lide de Marcos Bastinhas, ao quarto e bravo toiro de Jorge de
Carvalho, a que merecia o prémio. Mas...
A primeira lide de Francisco Palha não teve a importância que se queria pela
diminuta apresentação do toirito. Ontem não era uma novilhada... era
supostamente uma corrida de toiros!
Francisco esteve "à Palha" no quinto toiro da noite, um toiro sério e exigente
com o trapio que não teve o seu primeiro
Duas lides "à Moura" com Miguel a justificar que não foi por acaso que na véspera
obteve o triunfo de quatro orelhas e um rabo em Espanha


Marcos Bastinhas foi ontem escandalosamente roubado (é o termo) na Arruda e Francisco Palha até ficou espantado quando anunciaram que o prémio da melhor lide era para ele...

Miguel Alvarenga - Se o júri tivesse atribuído o prémio a Francisco Palha pela lide do seu segundo toiro, quinto da ordem, ainda vá que não vá, a indignação teria sido menor, mas existiria na mesma. Como existiu. Com uma ruidosa vaia do público quando anunciaram que o prémio era dele pela lide do segundo toiro da noite, primeiro do seu lote. Nada contra a triunfal actuação de Palha ontem na Arruda dos Vinhos, antes pelo contrário, esteve muito bem. Mas a sua primeira lide perdeu toda e qualquer importância, por mais que lha queiram dar, pela pequenez, falta de trapio e insignificância do toirito do Engº Jorge de Carvalho, que nem foi mau de todo mas não tinha classe para uma corrida como é esta em data tradicional das animadas festas locais. Poderia ter saído perfeitamente numa novilhada. Numa corrida de toiros, não.
A lide que levantou o público das bancadas foi (viram todos, só não viu o júri...) a de Marcos Bastinhas ao quarto toiro da corrida, um toiro bem apresentado, com trapio e bravo em qualquer parte do mundo. Começou Marcos muito bem nos compridos, aguentando, dando toda a prioridade ao toiro, cravando dois de nota altíssima e em terrenos de compromisso. Alegre, irreverente, mas acima de tudo toureiro, dando continuidade à inesquecível imagem de marca que seu querido pai passeou pelas arenas ao longo de quarenta anos, Bastinhas continuou a sua actuação em ritmo crescente com ousados ferros curtos a vencer o piton contrário e a entrar pelo toiro dentro e terminou com dois grandes pares de bandarilhas. O público, que preenchia ontem três quartos da lotação da praça, entrou em delírio, levantou-se e aclamou o jovem cavaleiro como triunfador maior da noite. Os prémios... isso, na nossa Festarola, já pouco importam e quase nada significam.
O primeiro toiro da corrida era também de presença insignificante e retirou igualmente o brilho à lide de Marcos Bastinhas - que esteve bem e exuberante, mas sem matéria prima para um grande triunfo.
Francisco Palha é um triunfador nato, foi ele que nas últimas três temporadas e quando isto andava tudo adormecido, devolveu à Festa a sua verdadeira essência, o risco, a emoção, e continua a ser um cavaleiro que pisa a linha de fogo em todas as actuações, parando corações, causando alvoroço nas bancadas.
O facto de ter ganho um prémio que não merecia (porque a lide do seu primeiro toiro, repito, não teve a importância desejada pelo facto de ter estado perante um toirito insignificante no que a presença e trapio diz respeito), não retira, de forma alguma, força ao seu triunfo de ontem no quinto toiro da corrida, um toiro sério e exigente a que cravou emotivos e ousados ferros "à Palha".
Como é um homem bem formado, educado e respeitador - um Senhor -, ele próprio manifestou on seu espanto quando lhe atribuiram o prémio e chegou mesmo a justificar esse espanto a Marcos Bastinhas, assim como quem diz "deram-mo a mim, mas era teu".
Miguel Moura chegava à Arruda depois de um triunfo apoteótico em Espanha na véspera, onde cortara quatro orelhas e um rabo em Navalvillar del Pela (Badajoz) e justificou que isso não aconteceu por acaso. Está super afinado, moralizado desde o triunfo no Campo Pequeno e ontem protagonizou duas excelentes actuações, sobretudo a segundo, ao último toiro da corrida (também muito mais toiro que o seu primeiro), destacando-se na brega e na lide "à Moura" e na cravagem dos ferros, em sortes frontais que resultaram emotivas, rematando depois muito bem e com o temple "da casa".
Bem as quadrilhas dos três cavaleiros, com intervenções oportunas e q.b., sem capotazos a mais: Sérgio Santos "Parrita" e João Bretes (este ontem a substituir Gonçalo Veloso, ainda não recuperado da violenta colhida que sofreu na véspera na Messejana) com Bastinhas; Diogo Malafaia e Jorge Alegrias com Palha; e João "Belmonte" e André Rocha com Moura.
As pegas - cujas sequências vamos a seguir aqui mostrar ao pormenor - foram emotivas e rijas. Os Amadores de Vila Franca ganharam o prémio de melhor grupo em praça e o seu forcado David Moreira ganhou com merecimento o prémio para a melhor pega (quinta), mas há que louvar também e realçar a actuação dos pouco vistos Forcados Amadores da Arruda dos Vinhos, que mesmo com menor rodagem mostraram estar em grande forma.
Pelos vilafranquenses pegaram Francisco Faria à primeira, Pedro Sousa à terceira e David Moreira à primeira. Pelo grupo anfitrião foram caras João Costa à primeira, Pedro Belmonte à segunda e Hélder Silva à segunda. Os dois grupos estiveram bem e muito coesos nas ajudas.
Os toiros do Engº Jorge de Carvalho tiveram apresentação e comportamento variados, não repetindo o êxito que a ganadaria obteve em Julho no Campo Pequeno. Os três da primeira parte não tiveram apresentação condigna para uma corrida da importância desta e em que se festejava o 50º aniversário da divisa, com pesos de pouco mais de 400 quilos e ainda por cima sem grande rigor, foram sempre anunciados com "um peso estimado" - que não é propriamente o mesmo que um peso certo... Os três últimos tinham muito mais trapio e o quarto destacou-se pela bravura.
Ao início da corrida foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória de Joaquim Bastinhas e também de Ricardo Silva "Pitó", saudoso forcado do Grupo de Vila Franca que morreu nesta arena há dezassete anos. Francisco Faria, na primeira pega da noite e o cavaleiro Francisco Palha, brindaram aos céus em sua memória. Houve ainda dois significativos brindes do Grupo de Vila Franca e também de Francisco Palha a Jorge Faria, antigo cabo do grupo, que vivera nas horas anteriores a angústia e o drama do desaparecimento de seu filho António, que entretanto deu ontem à tarde sinais de vida e informou estar bem, mas cujo paradeiro continua a ser desconhecido.
A corrida foi bem dirigida por Ana Pimenta, que está a dar um ar de frescura na direcção das corridas e que ontem esteve assessorada pelo médico veterinário José Manuel Lourenço, tendo sido o popular José Henriques o cornetim da corrida, brindando os toureiros com a arte dos seus toques.

Fotos Mónica Mendes