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| Foi a segunda lide de Marcos Bastinhas, ao quarto e bravo toiro de Jorge de Carvalho, a que merecia o prémio. Mas... |
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| A primeira lide de Francisco Palha não teve a importância que se queria pela diminuta apresentação do toirito. Ontem não era uma novilhada... era supostamente uma corrida de toiros! |
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| Francisco esteve "à Palha" no quinto toiro da noite, um toiro sério e exigente com o trapio que não teve o seu primeiro |
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| Duas lides "à Moura" com Miguel a justificar que não foi por acaso que na véspera obteve o triunfo de quatro orelhas e um rabo em Espanha |

Marcos Bastinhas foi ontem escandalosamente roubado (é o termo) na Arruda e Francisco Palha até ficou espantado quando anunciaram que o prémio da melhor lide era para ele...
Miguel Alvarenga - Se o júri tivesse atribuído o prémio a Francisco Palha pela lide do seu segundo toiro, quinto da ordem, ainda vá que não vá, a indignação teria sido menor, mas existiria na mesma. Como existiu. Com uma ruidosa vaia do público quando anunciaram que o prémio era dele pela lide do segundo toiro da noite, primeiro do seu lote. Nada contra a triunfal actuação de Palha ontem na Arruda dos Vinhos, antes pelo contrário, esteve muito bem. Mas a sua primeira lide perdeu toda e qualquer importância, por mais que lha queiram dar, pela pequenez, falta de trapio e insignificância do toirito do Engº Jorge de Carvalho, que nem foi mau de todo mas não tinha classe para uma corrida como é esta em data tradicional das animadas festas locais. Poderia ter saído perfeitamente numa novilhada. Numa corrida de toiros, não.
A lide que levantou o público das bancadas foi (viram todos, só não viu o júri...) a de Marcos Bastinhas ao quarto toiro da corrida, um toiro bem apresentado, com trapio e bravo em qualquer parte do mundo. Começou Marcos muito bem nos compridos, aguentando, dando toda a prioridade ao toiro, cravando dois de nota altíssima e em terrenos de compromisso. Alegre, irreverente, mas acima de tudo toureiro, dando continuidade à inesquecível imagem de marca que seu querido pai passeou pelas arenas ao longo de quarenta anos, Bastinhas continuou a sua actuação em ritmo crescente com ousados ferros curtos a vencer o piton contrário e a entrar pelo toiro dentro e terminou com dois grandes pares de bandarilhas. O público, que preenchia ontem três quartos da lotação da praça, entrou em delírio, levantou-se e aclamou o jovem cavaleiro como triunfador maior da noite. Os prémios... isso, na nossa Festarola, já pouco importam e quase nada significam.
O primeiro toiro da corrida era também de presença insignificante e retirou igualmente o brilho à lide de Marcos Bastinhas - que esteve bem e exuberante, mas sem matéria prima para um grande triunfo.
Francisco Palha é um triunfador nato, foi ele que nas últimas três temporadas e quando isto andava tudo adormecido, devolveu à Festa a sua verdadeira essência, o risco, a emoção, e continua a ser um cavaleiro que pisa a linha de fogo em todas as actuações, parando corações, causando alvoroço nas bancadas.
O facto de ter ganho um prémio que não merecia (porque a lide do seu primeiro toiro, repito, não teve a importância desejada pelo facto de ter estado perante um toirito insignificante no que a presença e trapio diz respeito), não retira, de forma alguma, força ao seu triunfo de ontem no quinto toiro da corrida, um toiro sério e exigente a que cravou emotivos e ousados ferros "à Palha".
Como é um homem bem formado, educado e respeitador - um Senhor -, ele próprio manifestou on seu espanto quando lhe atribuiram o prémio e chegou mesmo a justificar esse espanto a Marcos Bastinhas, assim como quem diz "deram-mo a mim, mas era teu".
Miguel Moura chegava à Arruda depois de um triunfo apoteótico em Espanha na véspera, onde cortara quatro orelhas e um rabo em Navalvillar del Pela (Badajoz) e justificou que isso não aconteceu por acaso. Está super afinado, moralizado desde o triunfo no Campo Pequeno e ontem protagonizou duas excelentes actuações, sobretudo a segundo, ao último toiro da corrida (também muito mais toiro que o seu primeiro), destacando-se na brega e na lide "à Moura" e na cravagem dos ferros, em sortes frontais que resultaram emotivas, rematando depois muito bem e com o temple "da casa".
Bem as quadrilhas dos três cavaleiros, com intervenções oportunas e q.b., sem capotazos a mais: Sérgio Santos "Parrita" e João Bretes (este ontem a substituir Gonçalo Veloso, ainda não recuperado da violenta colhida que sofreu na véspera na Messejana) com Bastinhas; Diogo Malafaia e Jorge Alegrias com Palha; e João "Belmonte" e André Rocha com Moura.
As pegas - cujas sequências vamos a seguir aqui mostrar ao pormenor - foram emotivas e rijas. Os Amadores de Vila Franca ganharam o prémio de melhor grupo em praça e o seu forcado David Moreira ganhou com merecimento o prémio para a melhor pega (quinta), mas há que louvar também e realçar a actuação dos pouco vistos Forcados Amadores da Arruda dos Vinhos, que mesmo com menor rodagem mostraram estar em grande forma.
Pelos vilafranquenses pegaram Francisco Faria à primeira, Pedro Sousa à terceira e David Moreira à primeira. Pelo grupo anfitrião foram caras João Costa à primeira, Pedro Belmonte à segunda e Hélder Silva à segunda. Os dois grupos estiveram bem e muito coesos nas ajudas.
Os toiros do Engº Jorge de Carvalho tiveram apresentação e comportamento variados, não repetindo o êxito que a ganadaria obteve em Julho no Campo Pequeno. Os três da primeira parte não tiveram apresentação condigna para uma corrida da importância desta e em que se festejava o 50º aniversário da divisa, com pesos de pouco mais de 400 quilos e ainda por cima sem grande rigor, foram sempre anunciados com "um peso estimado" - que não é propriamente o mesmo que um peso certo... Os três últimos tinham muito mais trapio e o quarto destacou-se pela bravura.
Ao início da corrida foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória de Joaquim Bastinhas e também de Ricardo Silva "Pitó", saudoso forcado do Grupo de Vila Franca que morreu nesta arena há dezassete anos. Francisco Faria, na primeira pega da noite e o cavaleiro Francisco Palha, brindaram aos céus em sua memória. Houve ainda dois significativos brindes do Grupo de Vila Franca e também de Francisco Palha a Jorge Faria, antigo cabo do grupo, que vivera nas horas anteriores a angústia e o drama do desaparecimento de seu filho António, que entretanto deu ontem à tarde sinais de vida e informou estar bem, mas cujo paradeiro continua a ser desconhecido.
A corrida foi bem dirigida por Ana Pimenta, que está a dar um ar de frescura na direcção das corridas e que ontem esteve assessorada pelo médico veterinário José Manuel Lourenço, tendo sido o popular José Henriques o cornetim da corrida, brindando os toureiros com a arte dos seus toques.
Fotos Mónica Mendes











