segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Trouxe La Puebla no coração - e vou voltar!

Morante de la Puebla, o "culpado" deste ciclo festivo que já se tornou tradição
Milhares nas ruas para assistir ao encierro, ontem de manhã, a que assistimos
no terraço do antigo Ayuntamiento, na famosa Esquina del Reloj
O desfile dos Legionários é qualquer coisa de fantástico
A procissão de San Sebastián, santo padroeiro de La Puebla del Rio, dominou
a manhã de ontem. Momentos de fé
Ainda o desfile da Banda dos Legionários
Morante ontem na novilhada que se realizou com praça esgotada e um enorme
ambiente


La Puebla del Rio e a sua festa, a procissão, o encierro e a novilhada, marcaram o dia de ontem ali para as bandas de Sevilha. Um ambiente único em torno de convicções de fé e de amor ao deus toiro, onde Morante, o génio, assume um protagonismo especial sem nunca perder a simplicidade e a humildade junto dos seus. Fui às festas - únicas - de San Sebastián. De que ele é o "principal culpado". E trouxe La Puebla, Morante e as suas gentes no coração

Miguel Alvarenga - Já tinha estado em La Puebla del Rio, a tão aficionada vila mesmo ali às portas de Sevilha, durante muitos anos conhecida por ser a terra dos famosos irmãos Peralta, rejoneadores que marcaram uma época importante na afirmação do toureio a cavalo em Espanha - e que nos últimos trinta anos mais famosa sa tornou por ali ter recebido Diego Ventura, filho adoptivo, como seu pai, João Ventura, e mais ainda por ser a terra natal de um dos grandes génios do toureio a pé, José António Morante Camacho, que todo o mundo conhece por Morante de la Puebla.
Já lá tinha estado, mas nunca pelas festas de San Sebastián, o santo padroeiro de La Puebla, umas festas únicas e que desde há cinco anos assumem um destaque tão especial "por culpa" de Morante, ídolo daquela gente, com que se mistura nas ruas, nos copos, nos cafés e nas muitas peñas taurinas precisamente porque é ele próprio também um deles e mantém, apesar da fama e da glória que conquistou por seus méritos geniais nas arenas de todo o mundo, a simplicidade e a humildade que o marcaram desde o dia em que nasceu.
"Morante tem a culpa de tudo. Sem o seu impulso e o seu entusiasmo não teria sido possível consolidar este ciclo festivo", escreveu o jornalista Álvaro R. del Moral no "El Correo de Andalucia", a destacar merecidamente todo o empenho que o famoso matador colocou na realização, na organização e na implantação destas festas que, como já escrevi, têm esse "color especial" que é a marca única e inigualável de Sevilha, mas também um "sabor aos sanfermines de Pamplona" com o seu encierro - que dominou a manhã de ontem, a par de procissão.
Do terraço do antigo Ayuntamiento, na famosa Esquina del Reloj, pude assistir à saída do andor com a imagem de San Sebastián, que depois ficou ali colocado mesmo na esquina, como assistente principal do encierro, aclamado pelos milhares de entusiastas que desde manhã cedo tinham já dificuldade em encontrar um lugar para assistir e viver toda a festa, abrilhantada também pelos desfiles das várias bandas, entre as quais a de La Puebla e também a dos Legionários, que já na véspera tinha dado à noite o toque de saída para os festejos.
Manuel Ruiz de Lopera, figura emblemática do Real Bétis, deu a nota de abertura, juntamente com Morante, para o início da festa, ambos aclamados pela população que enchia a rua principal por onde, pouco depois do meio-dia, haviam de correr rumo à praça portátil os novilhos-toiros de Dolores Rufino para a novilhada da tarde, espectáculo de oportunidade aos novos a que ontem já tive oportunidade de aqui me referir.
Terminada a emoção matinal da procissão, do desfile de bandas e do encierro, a festa prosseguiu nas ruas e muito em especial nas peñas taurinas de La Puebla, a que tem o nome do próprio Morante, mas sobretudo a Peña Toreros del Poyeton, onde se concentraram muitas das figuras do mundo taurino que ontem ali acorreram, entre as quais os antigos matadores de toiros José António Campuzano (apoderado de Roca Rey), Emílio Muñoz e Juan José Padilla, os actuais diestros Oliva Soto, Rafael Serna e Juan Ortega e algumas estrelas do mundo empresarial como Toño Matilla (apoderado de Morante) e Pedro Rodríguez Tamayo, braço direito de Ramón Valência na empresa Pagés da Real Maestranza de Sevilha. De Portugal foram o director de corrida Marco Gomes e sua Mulher, Ana Meira, o cabo dos forcados do Aposento da Chamusca, Pedro Coelho dos Reis (Pipas) e Fernando e Guiomar Marques (companheiros super agradáveis desta incursão inesquecível ao mundo de Morante), os pais de Pedro Marques, o médico dentista mais aficionado de Portugal e que goza em La Puebla (e não só) de uma popularidade e de uma estima iguais às do Papa em Roma. Ele é, sem favor, com realismo, o braço direito de Morante e é também hoje - pude constatar isso de perto - um dos taurinos nacionais mais influentes no país vizinho e um dos mais acarinhados pelos grandes senhores do mundo taurino espanhol.
Em La Puebla conheci também Rafael e Pepi, os afáveis pais de Morante de la Puebla, gente sã, gente simples, que sabem receber como poucos e com a grandeza dos seus modos. E desfrutei da simpatia de Eli Garrido, a Mulher de Morante. E de todos os amigos que o rodeiam, que o idolatram, mas a que ele trata com a mesma naturalidade de sempre.
Nestes dias - que se não esquecem - visitei El Rocío (debaixo de uma chuva incrível no dia de sábado, dia para que estava aprazados os festejos em La Puebla e ficaram adiados para ontem, domingo, quando o sol finalmente sorriu e permitiu que toda aquela população e os muitos visitantes que ali ocorreram pudessem finalmente viver todo um dia de exaltação às suas convicções de fé e também ao seu amor pelo deus toiro), rezei diante da Virgem del Rocío, que deixou o seu Santuário e por uns tempos, até Maio, está na Igreja de Almonte, ali ao lado, desfrutei de um ambiente único, passeei pelas calles tão emblemáticas que circundam a Real Maestranza de Sevilha e vivi três dias maravilhosos - de sonho.
Trouxe La Puebla, Morante e as suas gentes no coração.

Fotos M. Alvarenga