quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Há 33 anos: uma entrevista (actualíssima!) de Manuel Jacinto à "Nova Gente"

"Apesar de todo o meu optimismo, reconheço que actualmente o mundo taurino se rege por outros parâmetros em que o dinheiro se sobrepõe à arte, o que é pena. Já é usual constituirem-se claques, como no teatro, isto é, mal o cavaleiro acaba de cravar o primeiro ferro, já se ouve a claque a pedir música. Qualquer dia só triunfa quem tiver o maior poder económico" - as palavras, sábias e actualíssimas, são do antigo bandarilheiro Manuel Jacinto, que foi também empresário, apoderado e competente director de corrida, numa entrevista concedida há 33 anos (!) ao saudoso Fernando Penalva na revista "Nova Gente" - que desencantámos no baú de recordações pela importância e, repetimos, pela assombrosa actualidade que tem.

"Gente da Tauromaquia" era a página que Fernando Penalva, realizador e produtor da RTP, assinava semanalmente na "Nova Gente" e por onde passaram inúmeras figuras do mundo taurino nacional.

Nesta entrevista, dada à estampa a 10 de Dezembro de 1989, já lá vão 33 anos, o então bandarilheiro Manuel Jacinto contava a sua história, revelando que toureara pela primeira vez com apenas 12 anos de idade, enfrentando uma bezerra no pátio do extinto matadouro da Malveira, terra de onde é natural, sob o olhar do cavaleiro José Brilha de Matos e do bandarilheiro Florêncio Canas.

Depois enveredou pela vida nas arenas, onde foi um dos melhores bandarilheiros do seu tempo, fazendo a prova de praticante em Novembro de 1973 e tomando a alternativa na Moita a 10 de Setembro desse mesmo ano. Ao tempo desta entrevista, Manuel Jacinto já somava mais de 850 corridas.

O consagrado toureiro, que hoje continua a ser uma presença assídua nas nossas praças (na foto de cima, assistindo no passado dia 11 à corrida celebrada em Sobral de Monte Agraço, a praça onde se estreou), lamentava nesta entrevista que "o toureio a pé não vingue" e frisava que "com a despedida de José Júlio ficou ainda mais pobre a arte de Belmonte".

Nesse ano de 1989, Manuel Jacinto referia que "se tivesse que atribuir qualquer troféu pelas actuações desta época, o cavaleiro triunfador seria sem dúvida João Salgueiro, espectacular, valente e com uma performance de verdadeiro artista".

Foto M. Alvarenga