quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Entrámos no Grupo de WhatsApp dos Empresários: eles estão a ferro e fogo com os Forcados!

Miguel Alvarenga - Já não há “amadores p’ra manter a tradição” como os que foram cantados no fado dos “Saltimbancos”. 2025 é, decididamente, o ano da Revolta dos Pegadores (de toiros). Fartos de serem há anos os Bobos da Corte, enfrentando os toiros com coragem e a corpo limpo, sem bandarilhas nem capotes, os Forcados querem agora passar a cobrar bem. Mais até que muitos cavaleiros. 2.450€ por grupo se pegar sózinho numa praça de primeira categoria. Há ginetes que nem metade disso cobram nos dias de hoje…

Ficam desde já sabendo que apoio os Forcados a 200 por cento. Isso do amadorismo é já uma histórica patética do passado. Eles são os últimos valentes da tauromaquia. Mas já deixaram de ser os últimos românticos, como lhes chamavam até há bem pouco tempo. Isso do romantismo e do amadorismo são coisas que passaram à história. Os Forcados reclamam hoje um profissionalismo igual ou superior, mesmo, ao dos toureiros. Não querem continuar a ser carne para canhão. Se levam gente às praças - e levam! - e se levam com o toiro em cima, têm que ser bem pagos por isso.


Mas então, só este reparo: deixem-se de hipocrisias, acabem lá com essa ridícula denominação de Amadores, tenham a coragem de se anunciar como Forcados Profissionais daqui e dali. Não finjam que continuam a ser amadores, porque já o não são. Deixem isso para as histórias do passado.



Acho muito bem, apoio a 200 por cento a Revolta dos Pegadores, o seu “25 de Abril” contra a “ditadura” dos empresários. Mas os empresários - que, curiosamente, são quase todos antigos forcados e, mesmo assim, estão contra os forcados… - é que não estão pelos ajustes. Mais: estão mesmo à beira de um ataque de nervos. E nós fomos confirmar isso mesmo…

O “Farpas” entrou no Grupo de WhatsApp dos Empresários Tauromáquicos e assistiu ontem a uma troca de galhardetes muito acalorada, quase uma espécie de tsunami que tem como epicentro os novos contratos (reivindicações para eles, “imposições” para a APET) propostos pelas associações de Forcados e de Toureiros - documentos a que tivemos acesso. Com os toureiros, ainda vá que não vá. Com os forcados, os empresários estão a ferro e fogo.


Paulo Pessoa de Carvalho, presidente da APET (Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos), diz mesmo que estamos em situação de guerra (com os forcados): “Uma guerra tem sempre prejuízos para ambos os lados, mas se vamos à guerra, temos que ser consequentes e firmes, independentemente das suas consequências".


O presidente da APET anunciou que esta semana vai reunir com a Direcção da Associação de Forcados (ANGF), depois de amanhã. E que também pediu uma reunião com a Direcção da Associação de Toureiros (ANDT), de que ontem ainda não tinha tido resposta.



O meio empresarial está em grande alvoroço. E há mesmo quem ameace com posições mais radicais: Samuel Silva, da empresa Toiros com Arte, que também é forcado, ameaça suspender todos os festejos taurinos que tem agendados (festivais e corridas) se estes casos não forem entretanto resolvidos. Diz que o que se está a passar entre as associações tauromáquicas “é uma grande vergonha”.

Os empresários tauromáquicos membros da APET, a associação da classe, estão a ferro e fogo com os toureiros e, sobretudo, com os forcados, depois de estes, através das suas respectivas associações (Associação Nacional de Toureiros e Associação Nacional de Grupos de Forcados), terem apresentado os seus cadernos (contratos) reivindicando (“impondo”, refere o presidente da APET, Paulo Pessoa de Carvalho) mais dinheiro (leia-se: honorários no caso dos grupos de forcados; descontos para o antigo Sindicato e o Fundo de Assistência, por parte dos toureiros).


A maior celeuma que está a provocar a resistência dos empresários diz respeito aos valores (cachet’s) exigidos pelos grupos de forcados para pegarem em praças de 1ª categoria (2.475€ se for só um grupo; 1.770€ se forem dois ou mais), de 2ª categoria (1.770€ e 1.240€ para as duas situações anteriormente descritas, isto é, corridas de um só grupo ou de dois ou mais), e de 3ª categoria (1.130€ e 885€, respectivamente).



Estes novos valores dizem respeito a todos os grupos de forcados associados na ANGF, pelo que deixam de existir, como parece que existiam antes, grupos de primeira e grupos de segunda. Há quem diga que as novas exigências partiram de alguns grupos de primeira, devido ao facto de, nos últimos dois anos, muitos deles terem pegado um número substancialmente menor de corridas do que antigamente, ao contrário do que aconteceu com “grupos menores” que se fartaram de pegar - provavelmente porque cobravam menos.

A partir de agora, se fossem aceites as reinvindicações da ANGF, os empresários passariam a pagar os mesmos honorários a um grupo “de segunda” e a um grupo “de primeira”, estando os principais grupos convictos de que as empresas optariam por eles em detrimento dos “menores” (a que teriam de passar a pagar o mesmo cachet).


Os empresários consideram que a maioria das praças nacionais não comporta pagamentos “tão altos” aos grupos de forcados (em alguns casos, superiores mesmo aos honorários dos cavaleiros…) e defendem que muitos dos considerados “grupos menores” até levam muito mais gente às praças (adeptos) do que os “maiores”.


Na generalidade, os empresários, e a avaliar pela acesa troca de comentários ontem no seu grupo de WhatsApp, consideram que os cabos dos grupos de forcados e a própria Direcção da ANGF não fazem a mínima noção dos custos de uma corrida de toiros.


Ontem à tarde, a discussão do tema forcados foi animada e bem quente entre os vários empresários que estiveram disponíveis para opinar e trocar impressões. Dá mesmo a impressão que a maioria deles não tem mais nada que fazer do que estar uma tarde inteira agarrados aos telemóveis a discutir o sexo dos anjos num grupo de WhatsApp...


A conversa aqueceu quando Samuel Silva, da empresa Toiros com Arte, ameaçou cancelar todos os espectáculos taurinos que tem agendados (festivais e corridas de toiros) “até que as coisas estejam resolvidas”, considerando que “isto que se está a passar entre associações é impensável e uma falta de respeito muito grande da ANGF”.




“Se ‘Maomé não vai à montanha, então terá que ir a montanha a Maomé’. Estou disposto a cancelar todos os espectáculos taurinos até sermos recebidos pela ANGF (Direcção e seus associados). É uma vergonha o que se está a passar!” - defendeu Samuel Silva (foto de cima), com a frontalidade que o caracteriza.


Ricardo Marques, cabo do Grupo de Forcados Académicos de Coimbra e, pelos vistos, também com acesso ao grupo dos empresários no WhatsApp, veio prometer que “da minha parte, tudo farei para que seja possível chegarmos a um entendimento bom para todos”. E deixou claro: “Se possível, coloquem esta minha decisão no grupo da ANGF. Já que as decisões são tomadas sem o consentimento da maior parte dos cabos! Podem mesmo copiar e dizer que fui eu que disse, que não tem problema algum”.


O empresário Florindo Ramalho entrou em cena para informar que também a Associação Nacional de Toureiros lhe tinha comunicado que “não iam aceitar a nossa decisão em assembleia de pagar os valores da época passada, ou era pago o valor por eles estipulado ou nação havia seguro dos toureiros”.


E ainda a propósito das “imposições” dos forcados, lembrou o empresário António Nunes que “não foi nada que eu não tivesse dito na assembleia. Não podemos ser reféns da ANGF, mas ninguém ligou ao que eu disse! Enfim…”.


Luis Miguel Pombeiro, por seu turno, lembrou que já tinha feito uma proposta, “que ninguém levou a sério”, de as praças até 2.500 lugares terem a tabela antiga, o que seria plausível de negociar. “Na minha opinião, deveriam convocar uma assembleia-geral de carácter urgente, com todos a aceitar a ultrapassagem do prazo legal de 15 dias, e convocar mesmo a ANGF para se tentar um acordo que possa satisfazer ambas as associações” - sugeriu Pombeiro.


“A ANGF (entenda-se, a Direcção) já foi convocada e não quis vir. A maioria dos cabos não faz ideia do que se está a passar, se não forem convocados directamente não conseguiremos chegar ao diálogo com eles. Do mau estar instalado não fazem ideia!” - escreveu, por sua vez, o empresário e antigo forcado Luis Pires dos Santos (ex-cabo dos Forcados Amadores de Coimbra).


“Alguns já sabem e nada fazem. Agoira querem estar nem com deus e o diabo” - opinou o também empresário e ex-forcado António Pedro Vasco.



Já perto das 18h00 (a conversação iniciara-se pouco depois das 15h00), entrou finalmente em cena Paulo Pessoa de Carvalho, o presidente da Associação de Empresários, procurando acalmar as hostes e informando que estava marcada uma reunião esta semana com a Direcção da Associação de Forcados.

Pessoa de Carvalho teve mesmo o cuidado de aconselhar os empresários a que “não assinem o contrato” (com os grupos de forcados) nos actuais moldes “até que a Direcção da APET dê o resultado dessa mesma reunião aqui neste grupo”.


Relativamente à Associação Nacional de Toureiros (antigo Sindicato dos Toureiros), Pessoa de Carvalho informou os empresários de que vai também tentar marcar uma reunião para esta semana, mas, sublinhou, “como disse na Assembleia-Geral, as decisões tomadas devem ser cumpridas custe o que custar, caso contrário mais vale não as tomar”.


“Uma guerra tem sempre prejuízos para ambos os lados - acrescentou o presidente da APET - mas se vamos à guerra, temos que ser consequentes e firmes, independentemente das suas consequências”.


Paulo Pessoa de Carvalho prometeu que informará assim que tiver novidades e, entretanto, relembrou aos empresários para que apresentem uma lista para a próxima Assembleia-Geral Eleitoral, onde se procurarão eleger os novos corpos sociais da APET.


João Vasco Lucas, ex-forcado, apoderado e também empresário, informou entretanto os parceiros do grupo que no último fim-de-semana falou com Francisco Macedo, presidente da Associação de Forcados (estiveram ambos na Ilha Terceira a participar no Fórum Mundial da Cultura Taurina) e “vi da parte dele mais abertura a um 4º escalão de praças, do que a qualquer outra medida. Resta saber em quanto estariam dispostos a baixar o cachet para esse novo escalão”.


Mais radical e mais duro foi o empresário (e também antigo cabo de forcados) José Luis Zambujeira, que entrou no grupo para opinar que “é preciso que os empresários também dêem um murro na mesa e tê-los no sítio para também se tomar uma decisão radical. De uma vez por todas, se não está tudo lixado! Tem sido a ANGF, agora a ANDT também, amanhã o que será?”.




Entretanto, ia a conversa animada quando Pombeiro voltou ao grupo para lembrar que “alguém sugeriu que se falasse com os Cabos, ainda na primeira parte da AG, mas depois decidiu-se que não seria de bom tom ultrapassar a Direcção da ANGF. Tudo bem. Mas em conversa com alguns soube que os Grupos não sabem o que se está a passar… Mais, que a votação da subida dos cachet’s não foi por unanimidade, mas por maioria com diferença de um voto ou dois… Se já há reunião entre Direcções, APET e ANGF, então esperamos pelo resultado e depois reunimos todos?”.


Entretanto, alguém informou que no próximo dia 4 de Fevereiro (terça-feira da próxima semana) haverá uma reunião dos cabos de grupos de forcados para falarem dos temas levantados na última reunião magna da APET.


Depois de muitas outras intervenções de empresários como José Luis Gomes, Carlos Ferreira, João Filipe Santos, João Santana e João Anão, entre outros, chegou ao grupo o também cabo de forcados Nuno Matos, igualmente empresário, para pedir “calma” e concluir que depois de “tanta discussão", "vai ficar tudo na mesma”.


João Anão considerou que “mais estranho é qualquer associação nossa parceira tomar decisões sem nos consultar e previamente discutir, sabendo que quem põe tudo a acontecer somos nós (os empresários)!”.


O presidente Paulo Pessoa de Carvalho regressou então ao grupo para informar que está marcada uma reunião entre as direcções da APET e da ANGF para a próxima quinta-feira (amanhã) às 19h00. “Agradeço a intensa participação, mas neste momento vamos aguardar por o final dessa reunião”, disse. 


E despediu-se dos empresários, acrescentando ainda que aguarda também por uma resposta da Associação de Toureiros (ANDT). “Espero que tenha no mínimo a consideração de a dar, depois se verá” - afirmou, a terminar.


Já com a conversa quase no fim, voltou Samuel Silva:


“Sinceramente, depois de falar com o Francisco Macedo, fiquei com a ideia que nem a Direcção da ANGF, nem os seus associados, têm a mínima noção dos custos associados a uma corrida de toiros. Acham que tudo é um mar de rosas e que nós (empresários) temos que assumir tudo! E o mais grave é que acham que têm razão e a redução do IVA é desculpa para tudo! Fiquei bastante desiludido, porque não têm mesmo a noção da realidade e agora entendo muita coisa!”.


Em breve, não perca, as cenas dos próximos capítulos...


Fotos M. Alvarenga/efeito photomania e D.R.