segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Momentos de pânico ontem em Abiul: as fotos da assustadora colhida de Duarte Fernandes

À espera da saída do toiro, montando o cavalo "Heron"

As fotos falam por si e retratam os momentos do grande susto vivido ontem na praça de Abiul, a mais antiga do país, no concelho de Pombal, quando o segundo toiro da tarde, um possante e agressivo exemplar da ganadaria de Herdeiros de Varela Crujo, com quatro anos de idade, nascido em Novembro de 2020, ferrado com o nº 29 e com 585 quilos de peso, colheu e derrubou com violência o cavalo "Heron", com o ferro da coudelaria de Inácio Ramos, e o jovem cavaleiro Duarte Fernandes, que ficou inicialmente debaixo do cavalo e depois alguns momentos à mercê do toiro, que entretanto se desembolou de um corno e infringiu uma cornada ao cavalo, "abaixo da barriga". Mas, felizmente, Duarte Fernandes nada sofreu, para além do enorme susto - que fez também parar os corações dos espectadores.

"São coisas que acontecem, a mim já aconteceram. Temos que estar preparados para elas. Felizmente, o Duarte nada sofreu, eu afligi-me quando vi que o toiro se tinha desembolado e receei que ainda lhe pregasse uma cornada" - disse-nos já esta manhã o tio do cavaleiro, Rui Fernandes, que ontem também toureava ao lado do sobrinho em Abiul.

O saudoso matador espanhol Sebastián Palomo Linares disse um dia numa entrevista que "é normal um toureiro levar uma cornada, anormal é ouvires na televisão a notícia de que um padre foi colhido por um toiro...". E esta máxima do famoso Palomo Linares aplica-se não apenas aos toureiros, como se pode aplicar também aos cavalos dos toureiros. 

O que ontem aconteceu em Abiul, faz parte desta profissão de risco. E Duarte Fernandes tem sido um toureiro que tem vivido em mais que uma ocasião os dois lados da medalha - a glória e a tragédia. Ainda em Maio, na Feira de Santo Isidro em Madrid, perdeu o cavalo "Ilusión", vítima de cornada e que não resistiu aos ferimentos, acabando por morrer. O seu tio Rui Fernandes viveu idêntica situação de tragédia há uns anos em Sevilha. Estas coisas podem acontecer...

O acidente de ontem em Abiul ocorreu no segundo toiro da tarde, quando Duarte Fernandes ainda nem lhe tinha cravado o primeiro ferro. O nº 29 da ganadaria de Varela Crujo saíu à arena com imensa pata, como se costuma correr, perseguindo o cavalo e assustando os espectadores pela sua agressividade e emoção. Duarte recebeu-o sózinho, sem a intervenção dos seus bandarilheiros e, num chamado momento de aperto, quando pretendia fazer uma inversão de marcha mesmo ali na nossa frente, o toiro voltou também para trás, foi direito ao cavalo e derrubou-o com uma violência e uma força assustadoras, provocando também a queda do cavaleiro.

Gerou-se a confusão na arena, o cavaleiro Gilberto Filipe (que assistia à corrida na trincheira) foi dos primeiros a saltar e a tentar socorrer cavalo e cavaleiro, a que num ápice se juntaram vários bandarilheiros, forcados e também o tio Rui Fernandes. Nas bancadas, viveram-se momentos de muita angústia e ansiedade, sobretudo no momento em que o toiro derrubou o cavalo e Duarte Fernandes ficou debaixo deste, acabando por rolar para a direita e levantar-se sem que o toiro, felizmente, lhe tocasse. Podia ter sido uma situação gravíssima e entre os espectadores houve mesmo quem gritasse, levasse as mãos à cabeça e receasse o pior. 

Um espectador mesmo a meu lado, recordou que assistiu em 1966 no Campo Pequeno à colhida mortal de Joaquim José Correia "Quim-Zé" e que aqueles momentos de ontem lhe fizeram lembrar, pela semelhança que tiveram, essa fatídica tarde em Lisboa.

Cavalo e cavaleiro recolheram ao pátio de quadrilhas, a ferida do cavalo provocada pela cornada foi tapada com ligaduras, o próprio médico veterinário que assessorava a directora de corrida Sandra Strecht, Dr. José Luis da Cruz, esteve junto do cavalo a prestar os primeiros socorros e o animal foi imediatamente levado para Lisboa, onde ao início da noite foi operado no Hospital Veterinário Universitário da Faculdade de Medicina Veterinária, na Ajuda. Segundo nos informou esta manhã Rui Fernandes, a operação "correu bem e agora há que esperar pelas próximas 48 horas, a ver se não surge nenhuma infecção, mas à partida o cavalo vai recuperar".

Depois de prestados os primeiros socorros ao cavalo e de o mesmo ser transportado para Lisboa, Duarte Fernandes regressou à trincheira, com o semblante carregado e sempre com o pai, João Marques, a seu lado, bem como o tio Rui Fernandes e o avô Rui, que também se encontrava na trincheira.

Duarte voltou à praça para lidar outro toiro da mesma ganadaria em quinto lugar e protagonizou uma actuação perfeitamente arrasadora, empolgante e que deixou a praça em delírio, arriscando numa lide de enorme impacto, a confirmar a sua imensa raça e o seu desmedido valor. Depois da tragédia, a Glória. Em letras grandes!

Mais logo, a detalhada análise de Miguel Alvarenga à segunda corrida da Feira do Bodo em Abiul.

Fotos M. Alvarenga


Duarte "aquecendo" o cavalo "Heron" antes da corrida


Poderoso e agressivo, o toiro de Varela Crujo criou grande emoção
ao perseguir "à carga" o cavalo de Duarte Fernandes mal entrou
em praça. Duarte aguentou firme e parou-o, mas num momento
em, que pretendia "inverter a marcha", sofreu a colhida


Gilberto Filipe foi o primeiro a saltar à arena para tentar
socorrer, a corpo limpo, cavalo e cavaleiro


Momentos da pânico e ansiedade. Podia ter sido muito grave
Depois do acidente, Duarte teve o pai sempre ao lado

E depois da tragédia, a Glória! Duarte deixou a praça em delírio!