Miguel Alvarenga - Diego Ventura surpreendeu o meio taurino nacional (ou talvez não tanto como isso...) ao anunciar sexta-feira passada, durante a corrida em Portalegre, numa entrevista à Rádio Elvas, que decidira não voltar tão cedo a tourear em Portugal.
Com todo o respeito pela Rádio Elvas, que tem sido incansável no apoio à Festa Brava, Ventura tinha à sua volta, na trincheira da praça de Portalegre, críticos taurinos e responsáveis por programas de tauromaquia radiofónicos bem mais importantes a quem dar a novidade - mas não quis.
E justificou, quanto a mim, a sua decisão, da pior forma que o podia ter feito: fazendo-de de vítima. Estilo: assobiam-me, criticam-me e tentam destruir-me. Ai ele é isso? Então nunca mais cá volto!
Não foi, a meu ver, a forma mais inteligente de fazer passar uma mensagem que, quanto a mim, é apenas e simplesmente uma estratégia.
Portugal precisa de Ventura? Claro que precisa - por mais que os pseudo-cronistas conservadores digam o contrário. Só as Figuras foram contestadas, discutidas, protestadas, até. Dos fracos não rezou nunca a história. Ventura enche as praças, cria celeuma, provoca discussão. E num país onde, sem essas coisas, vivemos num marasmo cinzentão, é evidente que toureiros como Ventura fazem cá falta. Muita falta mesmo.
E Ventura, precisa de Portugal? Acredito que também precisa. Ele é hoje em dia, juntamente com Pablo Hermoso, um dos dois grandes de Espanha e do mundo do rejoneio. Um dos mais bem pagos, também. Mas os "cachet's" que vem cobrar a Portugal dão jeito a qualquer pessoa. Eu, se viesse aqui buscar 60 mil euritos, não me importava nada que me assobiassem e até me atirassem garrafas para a arena. O dinheiro já estava no bolso...
Agora o resto: um toureiro com a garra, a força de vontade e, sobretudo, as ganas de vencer que tem Ventura - veio do nada, andou anos "aos papéis", subiu a corda a pulso, chegou onde chegou pelo seu mérito - não pode baixar assim os braços e desistir, "desertar", só porque aqui há uns quantos que o assobiam e o "perseguem". Há que ir à luta, que conquistar quem está contra. Isso aconteceu com Mestre Batista, aconteceu com João Moura, aconteceu até com João Núncio. Contestados quando apareceram, acabaram por conquistar quem os queria destruir. É o que Ventura tem que fazer - em lugar de ir embora.
Ao contrário de Pablo Hermoso de Mendoza, Diego Ventura criou em Portugal muitos anti-corpos, fruto de uma postura algo arrogante, às vezes. O "ameaçar" um espectador no Campo Pequeno, por muito enervado que pudesse estar com os assobios, foi um erro que motivou depois que muitos dos meninos ditos críticos disparassem em todas as direcções contra ele.
Ventura criou guerras - ou criaram-lhas - com alguns cavaleiros portugueses. Salgueiro, nomeadamente. No ano passado, chegou a dizer numa entrevista à revista "6 Toros 6" que cavaleiros lusos levavam as famílias para as praças só para o assobiarem. É evidente que, por muito bom que ele seja - e é - o ambiente à sua volta nunca foi o melhor em Portugal. Mas isso, quanto a mim, não implicava uma desistência. Pelo contrário, tinha que o fazer "ir à guerra", continuar, lutar, batalhar. Foi sempre o que caracterizou as grandes figuras. E Ventura é uma grande figura.
Pode isto ser uma estratégia? Também pode. Ventura pode renunciar a tourear um ano ou dois em Portugal, continuar a cavalgada de triunfos em Espanha, no México, etc., e dentro de duas temporadas voltar ao nosso país e exigir mais dinheiro ainda.
Penso que o toureiro terá tempo suficiente para meditar, estudar, debruçar-se sobre os prós e os contras desta sua decisão - e voltar atrás. Ninguém o mandou embora. A falange dos "contras" é mínima em relação às dos que o admiram, o aplaudem e lhe reconhecem o valor que, na verdade tem. Entendo a sua mágoa. Não de pode faltar ao respeito a um toureiro que só nesta temporada abriu duas vezes a "porta grande" da principal praça do mundo, a de Madrid. Que esgotou Lisboa e saíu em ombros sempre que ali actuou. Não toleram as "mordidelas" do "Morante"? Mas esquecem-se que a tauromaquia de Ventura não se limita a isso.
Ventura faz falta a Portugal - e Portugal faz falta à carreira de Ventura. Acredito que ao anunciar a decisão de tão cedo aqui não actuar, se precipitou, o fez a quente, em cima ainda dos assobios de Portalegre. Talvez não tivesse sido uma decisão premeditada - se não, teria comunicado isso de outra forma, talvez em conferência de imprensa e não "no meio" de umas declarações de circunstância à Rádio Elvas. Criou mais um vendaval - mas isso, nele, é normal. Em Novembro, vão ver, vamos tê-lo de novo em grande na Golegã. E para o ano, estou certo, outra vez nas nossas praças!
Foto Carlos Nuñez/Toromedia/"Farpas"