segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Afinal, em que ficamos?...

Eles mexem-se, eles existem. A nós, os que aparentemente nos deviam
representar e defender, pedem "calma" e "tranqulidade"... Depois, admirem-se!





Miguel Alvarenga - Vamos ser claros (como sempre) e evitar as más interpretações do costume. Não sou, Deus me livre, anti-"Prótoiro". Estaria dessa forma do lado dos anti-taurinos. E não estou. Por mais que tenha entendido há muito tempo que os anti-taurinos, os verdadeiros, estão dentro da Festa - e não no exterior.
A Federação "Prótoiro" foi criada há dois anos com belíssimas intenções - que, infelizmente, não se cumpriram. Somos portugueses e por isso, isso não espanta. O português, por norma, deixa andar - e desenrasca-se como pode.
Num momento em que subiam de tom os ataques contra a arte tauromáquica, impunha-se que os defensores da mesma se unissem, formassem um movimento, uma federação, qualquer coisa ao estilo da "Plataforma" que nasceu em Espanha, por forma a que, unidos, fossemos uma só voz em defesa da Tauromaquia. A "Prótoiro", quando foi criada, pretendia, penso, ser isso e muito mais. Só que não foi.
Durante quase dois anos, a "Prótoiro" limitou a sua actividade à venda de t-shirt's à porta do Campo Pequeno e à recolha de dedadas dos aficionados num painel do pintor Júlio Pomar. Chegou a assumir, em comunicado, a sua ineficácia, prometendo que a história ia mudar. Mas não mudou.
Há dias, anunciou a formação de uma Comissão Executiva e enviou-nos a todos uma foto "de família" em que se identificam caras conhecidas do meio taurino e outras nem tanto. Voltei a acreditar. Não foi a primeira vez que a "Prótoiro" veio a terreiro dizer "agora é que é, agora é que vamos fazer o que em dois anos nunca fizemos".
Nem uma semana tinha passado e a Comissão deu barraca. Quanto o site "naturales-tauromaquia" revelou (ninguém sabia? Ou ninguém queria levantar ondas?...), na última semana, que na próxima quinta-feira, dia 19, seria discutida no Parlamento a petição anti-taurina que visa acabar com as corridas de toiros em Portugal, a Frente de Acção Pró Taurina (um movimento criado há dois anos, também, na rede social "Facebook", duzentos por cento mais activa e dinâmica que a "Prótoiro") apressou-se a convocar os aficionados a marcar presença, nesse dia, na Assembleia da República. A seguir, outro louvável movimento "virtual", os "Aficionados de Portugal", igualmente nascido no "Facebook", afinou pelo mesmíssimo diapasão e também convocou os aficionados a irem quinta-feira à "casa dos deputados".
Pelo meio, veio a "Prótoiro" contrariar as intenções destes dois movimentos. Que não devíamos ir, que não se devia levantar ondas, que o que era preciso era "calma" e "tranquilidade"...
Vamos, não vamos, é para ir, não é para ir? - afinal em que ficamos?
A intenção pode não ter sido essa e eu acredito que o não foi, mas a verdade é que a "Prótoiro" destabilizou, confundiu, dividiu. E, quer queira, quer não, veio a público "desconvocar" a convocação dos dois movimentos referidos.
Depois, procurou emendar-se e subscreveu um comunicado conjunto com a Frente e os "Aficionados", onde nem disse sim, nem não sobre a ida ao Parlamento. Confuso e meio atabalhoado, esse "comunicado a três" (estão na moda as "Troikas"...) foi uma espécie de "nim". Há emendas, muitas vezes, mais estúpidas que os sonetos...
Entretanto, também o site "naturales", descobriu que no portal do governo estava a ser criado um movimento anti-taurino. Vieram conselhos para que votassemos no "2º movimento"... de Educação Visual e Tecnológica... para evitar que "contra" fossem recebidos em audiência pelo primeiro-ministro.
Hoje, a "Prótoiro" voltou a assinar um "comunicado" a três, outra vez com a Frente e os "Aficionados", apelando desta vez a que votassemos, afinal, para combater o movimento anti-taurino, num novo movimento, este criado pelo pequeno cavaleiro amador António Prates...
Fiquei incrédulo e sem perceber se seria verdade ou brincadeira. A "cura", para derrotar os "anti", passa, afinal, por um movimento virtual criado por um toureiro de 12 anos?
É louvável que o pequeno Prates tome todas e mais algumas iniciativas em defesa da Festa. Só lhe fica bem. Além de, valha a verdade, lhe servir de promoção. Daí a vir a Federação das federações dizer-nos que esse é o movimento em que todos devemos votar para derrotar os anti-taurinos... parece a história (recente, também) do senhor ministro da Economia, que descobriu de repente que a salvação da crise passa pelos pastéis de nata. Às tantas, parece que andamos mas é todos a brincar...
O que mais me preocupa não é isso: é esta gente não ver o ridículo das situações que cria...
Mas o pessoal dos toiros foi sempre assim, por sistema: baralhado, desunido, confundido, sem saber onde é o norte e onde fica o sul. É por aí...
Fez-se um barulho dos diabos em torno da Petição do Dr. Moita Flores. Festivais, fim-de-semana taurino em Santarém, aplausos em directo pela televisão no Campo Pequeno, eu sei lá... Feitas as contas, as cento e tal mil assinaturas conseguidas ficaram guardadas numa gaveta da Câmara de Santarém, porque, contou-me há um mês o vereador Valente, se destinavam a avançar se avançasse a petição dos anti-taurinos e, "como esta não avançou", guardaram-se. Mas afinal ela avançou e...
Entretanto, a "Prótoiro" fez um trabalho notável, há que reconhecer, elaborando um extenso documento, entregue no Parlamento, onde se explicam os "porquês" da razão de existência do espectáculo tauromáquico. Mas não é uma petição, não sobe ao hemiciclo, em suma: não serve para nada...
Face a isto, perguntam os aficionados: vamos ou não vamos ao Parlamento na quinta-feira?
Subscrevo por inteiro as palavras hoje escritas por Patrícia Sardinha, no site "naturales": "a verdade é esta: o que ali vai ser discutido diz-me respeito! Diz-nos respeito! (...) o que ali se vai falar comanda a minha vida e desse assunto depende a minha felicidade. E por uma questão de consciência, por uma questão de lealdade à Festa, eu irei lá dia 19".
Os anti-taurinos vão. Já convocaram uma concentração em São Bento. E nós, seguimos o conselho da "Prótoiro" e ficamos em cada, calmos e tranquilos? Ou mandamos esta "Prótoiro" às malvas e vamos todos em peso ao Parlamento?
Se as primeiras figuras do toureio (principais interessadas) lá foram o mês passado, quando estava em perigo o aumento do IVA nos espectáculos taurinos, acham que é menos grave, menos preocupante e mais "deixa andar", quererem acabar de vez com as corridas de toiros em Portugal?
Foi por estas e por outras que acabaram com as corridas na Catalunha - não se esqueçam.
Já agora, em jeito de remate, pergunto: alguém sabe por que razão o meu querido amigo Bernardo Mesquitella, que considero um aficionado válido, credível e dinâmico, abandonou há poucos meses as fileiras da "Prótoiro"? Talvez possa estar nessa saída a resposta para muitas das questões e das angústias que se colocam em torno desta Federação que, uma vez mais, ninguém entende bem para que serve, afinal...

Foto D.R.