Eles mexem-se, eles existem. A nós, os que aparentemente nos deviam representar e defender, pedem "calma" e "tranqulidade"... Depois, admirem-se! |
Miguel Alvarenga - Vamos ser claros
(como sempre) e evitar as más interpretações do costume. Não sou, Deus me
livre, anti-"Prótoiro". Estaria dessa forma do lado dos
anti-taurinos. E não estou. Por mais que tenha entendido há muito tempo que os
anti-taurinos, os verdadeiros, estão dentro da Festa - e não no exterior.
A Federação "Prótoiro" foi
criada há dois anos com belíssimas intenções - que, infelizmente, não se
cumpriram. Somos portugueses e por isso, isso não espanta. O português, por
norma, deixa andar - e desenrasca-se como pode.
Num momento em que subiam de tom os
ataques contra a arte tauromáquica, impunha-se que os defensores da mesma se
unissem, formassem um movimento, uma federação, qualquer coisa ao estilo da
"Plataforma" que nasceu em Espanha, por forma a que, unidos, fossemos
uma só voz em defesa da Tauromaquia. A "Prótoiro", quando foi criada,
pretendia, penso, ser isso e muito mais. Só que não foi.
Durante quase dois anos, a
"Prótoiro" limitou a sua actividade à venda de t-shirt's à porta do
Campo Pequeno e à recolha de dedadas dos aficionados num painel do pintor Júlio
Pomar. Chegou a assumir, em comunicado, a sua ineficácia, prometendo que a
história ia mudar. Mas não mudou.
Há dias, anunciou a formação de uma
Comissão Executiva e enviou-nos a todos uma foto "de família" em que
se identificam caras conhecidas do meio taurino e outras nem tanto. Voltei a
acreditar. Não foi a primeira vez que a "Prótoiro" veio a terreiro
dizer "agora é que é, agora é que vamos fazer o que em dois anos nunca fizemos".
Nem uma semana tinha passado e a
Comissão deu barraca. Quanto o site "naturales-tauromaquia" revelou
(ninguém sabia? Ou ninguém queria levantar ondas?...), na última semana, que na
próxima quinta-feira, dia 19, seria discutida no Parlamento a petição
anti-taurina que visa acabar com as corridas de toiros em Portugal, a Frente de
Acção Pró Taurina (um movimento criado há dois anos, também, na rede social
"Facebook", duzentos por cento mais activa e dinâmica que a
"Prótoiro") apressou-se a convocar os aficionados a marcar presença,
nesse dia, na Assembleia da República. A seguir, outro louvável movimento
"virtual", os "Aficionados de Portugal", igualmente nascido
no "Facebook", afinou pelo mesmíssimo diapasão e também convocou os
aficionados a irem quinta-feira à "casa dos deputados".
Pelo meio, veio a "Prótoiro"
contrariar as intenções destes dois movimentos. Que não devíamos ir, que não se
devia levantar ondas, que o que era preciso era "calma" e
"tranquilidade"...
Vamos, não vamos, é para ir, não é para
ir? - afinal em que ficamos?
A intenção pode não ter sido essa e eu
acredito que o não foi, mas a verdade é que a "Prótoiro"
destabilizou, confundiu, dividiu. E, quer queira, quer não, veio a público
"desconvocar" a convocação dos dois movimentos referidos.
Depois, procurou emendar-se e subscreveu
um comunicado conjunto com a Frente e os "Aficionados", onde nem
disse sim, nem não sobre a ida ao Parlamento. Confuso e meio atabalhoado, esse
"comunicado a três" (estão na moda as "Troikas"...) foi uma
espécie de "nim". Há emendas, muitas vezes, mais estúpidas que os
sonetos...
Entretanto, também o site
"naturales", descobriu que no portal do governo estava a ser criado
um movimento anti-taurino. Vieram conselhos para que votassemos no "2º movimento"...
de Educação Visual e Tecnológica... para evitar que "contra" fossem
recebidos em audiência pelo primeiro-ministro.
Hoje, a "Prótoiro" voltou a
assinar um "comunicado" a três, outra vez com a Frente e os
"Aficionados", apelando desta vez a que votassemos, afinal, para
combater o movimento anti-taurino, num novo movimento, este criado pelo pequeno
cavaleiro amador António Prates...
Fiquei incrédulo e sem perceber se seria
verdade ou brincadeira. A "cura", para derrotar os "anti",
passa, afinal, por um movimento virtual criado por um toureiro de 12 anos?
É louvável que o pequeno Prates tome
todas e mais algumas iniciativas em defesa da Festa. Só lhe fica bem. Além de,
valha a verdade, lhe servir de promoção. Daí a vir a Federação das federações
dizer-nos que esse é o movimento em que todos devemos votar para derrotar os
anti-taurinos... parece a história (recente, também) do senhor ministro da
Economia, que descobriu de repente que a salvação da crise passa pelos pastéis
de nata. Às tantas, parece que andamos mas é todos a brincar...
O que mais me preocupa não é isso: é
esta gente não ver o ridículo das situações que cria...
Mas o pessoal dos toiros foi sempre
assim, por sistema: baralhado, desunido, confundido, sem saber onde é o norte e
onde fica o sul. É por aí...
Fez-se um barulho dos diabos em torno da
Petição do Dr. Moita Flores. Festivais, fim-de-semana taurino em Santarém,
aplausos em directo pela televisão no Campo Pequeno, eu sei lá... Feitas as
contas, as cento e tal mil assinaturas conseguidas ficaram guardadas numa
gaveta da Câmara de Santarém, porque, contou-me há um mês o vereador Valente,
se destinavam a avançar se avançasse a petição dos anti-taurinos e, "como
esta não avançou", guardaram-se. Mas afinal ela avançou e...
Entretanto, a "Prótoiro" fez
um trabalho notável, há que reconhecer, elaborando um extenso documento,
entregue no Parlamento, onde se explicam os "porquês" da razão de
existência do espectáculo tauromáquico. Mas não é uma petição, não sobe ao
hemiciclo, em suma: não serve para nada...
Face a isto, perguntam os aficionados:
vamos ou não vamos ao Parlamento na quinta-feira?
Subscrevo por inteiro as palavras hoje
escritas por Patrícia Sardinha, no site "naturales": "a verdade
é esta: o que ali vai ser discutido diz-me respeito! Diz-nos respeito! (...) o
que ali se vai falar comanda a minha vida e desse assunto depende a minha
felicidade. E por uma questão de consciência, por uma questão de lealdade à
Festa, eu irei lá dia 19".
Os anti-taurinos vão. Já convocaram uma
concentração em São Bento. E nós, seguimos o conselho da "Prótoiro" e
ficamos em cada, calmos e tranquilos? Ou mandamos esta "Prótoiro" às
malvas e vamos todos em peso ao Parlamento?
Se as primeiras figuras do toureio
(principais interessadas) lá foram o mês passado, quando estava em perigo o
aumento do IVA nos espectáculos taurinos, acham que é menos grave, menos
preocupante e mais "deixa andar", quererem acabar de vez com as
corridas de toiros em Portugal?
Foi por estas e por outras que acabaram
com as corridas na Catalunha - não se esqueçam.
Já agora, em jeito de remate, pergunto:
alguém sabe por que razão o meu querido amigo Bernardo Mesquitella, que
considero um aficionado válido, credível e dinâmico, abandonou há poucos meses
as fileiras da "Prótoiro"? Talvez possa estar nessa saída a resposta
para muitas das questões e das angústias que se colocam em torno desta
Federação que, uma vez mais, ninguém entende bem para que serve, afinal...
Foto D.R.