terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Exclusivo: Bernardo Mesquitella explica por que saíu da "Prótoiro"


A "Prótoiro" é essencial...
mas noutros moldes!

Bernardo da Costa (Mesquitella) - Meu caro Miguel, ao ver o meu nome mencionado no "Farpas Blogue", sinto-me na obrigação de prestar alguns esclarecimentos. Quando recebi o convite para colaborar com a "Prótoiro" em part-time aceitei  de imediato, nem me preocupei em que condições.  Não tenho a menor dúvida que a Federação Portuguesa das Associações Taurinas é essencial para o futuro da Tauromaquia em Portugal.
Entretanto, recebi um telefonema comunicando-me que a "Prótoiro" não tinha situação financeira para a minha continuidade. Fui dispensado, repito, telefonicamente, o que na minha modesta opinião é, no mínimo, desilegante. Fui convidado num almoço e acho que essa comunicação merecia no mínimo um lanche! Agora a sério, devia ter sido feita pessoalmente. Fui forcado, habituei-me a dar a cara...
Iniciei a minha colaboração com a "Prótoiro" no dia 1 de Julho. Assustei-me com o "toiro" que tinha pela frente. A época já ia avançada e a "Prótoiro" nem sequer recibos tinha para passar a quem descontava. Comecei a ouvir queixas de todo o lado, tínhamos que AGIR e rapidamente, sob pena de cairmos no descrédito. Não havia gestão absolutamente nenhuma, e mais grave, nem estratégia.
Nos quatro meses que colaborei com a Federação solicitei, por várias vezes, uma reunião com os responsáveis. Tinha ideias, tinha vontade, queria AGIR. Essa reunião nunca existiu. Apenas uma entrega de dossiers no início de Julho, por parte do Secretário-Geral, o doutor Diogo Costa Monteiro, com quem tenho óptima relação, e conversas informais com algumas pessoas.
Outro dos graves problemas da "Prótoiro" é a falta de comunicação sobre a sua actividade. Tem sido practicamente nula e não fazia parte das minhas competências.  Como diz o Rui Bento e bem, nos toiros em Portugal há pouco profissionalismo. Não quero, de modo algum, dizer que as pessoas que lá estão são incompetentes, mas têm a sua actividade profissional. Não se podem dedicar a tempo inteiro. A "Prótoiro" está em segundo lugar. Não há tempo nem para uma reunião que foi sucessivamente adiada e por fim anulada. A "Prótoiro" não pode ser amadora, assim sendo parece uma brincadeira de miúdos. E a Festa, hoje em dia, precisa de ser defendida a sério, sob pena de sofrer um forte abanão. Por outro lado, quem anda dentro da praça (quem dá o litro) tem de sentir que está a ser bem representado. Nestes quatro meses que lá estive dediquei-me a tempo inteiro, porque acredito que só assim é possível.
Os descontos para a "Prótoiro" foram um insucesso, pelas razões atrás apresentadas. Do valor estipulado para a temporada apenas se conseguiu 20% do previsto. Há várias razões para esta situação. Por exemplo, tive queixas, nomeadamente, de transportadores de toiros, bandas, etc. . Nem sequer foram convidados para a apresentação da "Prótoiro" no Campo Pequeno. Iriam ser  "obrigados" a descontar para uma instituição de que nunca tinham ouvido falar...
Posso, por outro lado, relatar-lhe um caso passado com alguém com responsabilidade na Tauromaquia: a um pedido de desconto, recebi uma carta de um ganadero afirmando que "apesar de ser director da APCTL-Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, desconheço a existência de qualquer protocolo com a 'Prótoiro' e por outro lado não passei procuração a ninguém para assumir responsabilidades por mim".
Ou é uma grande distracção ou isto é parece-me muito grave!!!  Também a falta de recibos no início da temporada foi um erro crasso.
Entretanto a "Prótoiro" nomeou uma Comissão que não será remunerada, para a qual não me convidaram. Só posso ficar a pensar que o meu trabalho não serviu, ou porque sou incómodo por dizer sempre aquilo que penso...
Quanto ao futuro, gostaria de dizer que vai ser bom, mas se não houver uma mudança radical, profissionalismo, dedicação a "full time", não me parece que vingue.
A "Prótoiro" tem que estar na linha da frente, devia ter estado, por exemplo, representada na discussão do aumento do IVA, que vai prejudicar seriamente as empresas que organizam espectáculos tauromáquicos. Não esteve por indisponibilidade de quem a representa!?
Tem que ter uma gestão rigorosa. Não pode pagar uma verba mensal a uma empresa de comunicação que não comunica nada, porque não recebe conteúdos para o fazer.
A "Prótoiro", o que fez, raramente o divulgou. É preciso acabar com a pescadinha de rabo na boca: "A 'Prótoiro' não faz nada, não desconto. A 'Prótoiro' não faz mais porque não recebe os descontos, assinados em Protocolo com as diversas associações taurinas". 
Saio de consciência tranquila e desejo que a "Prótoiro" siga em frente, porque, repito, é ESSENCIAL, representante duma classe, tradicionalmente, desunida. Se alguém se sentiu visado aceite-o como uma crítica construtiva, um alerta para uma mudança a muito curto prazo.
Quero agradecer a todos que colaboraram comigo, mas em especial à empresa do Campo Pequeno, que foi exemplar, bem como ao Hugo e ao David da Associação Nacional de Toureiros, inexcedíveis na sua colaboração.  Se fossem todos assim....
Viva a Festa de Toiros em Portugal!

Foto D.R.