sábado, 8 de setembro de 2012

Carta/resposta ao meu amigo Armando João Moura


Meu caro Armando João,
Li atenta e interessadamente a carta (comunicado, penso, por que as cartas são enviadas ao destinatário e não a outros...) que me escreveste e que está publicada no site da Solange (podem ir ler, se fizeram favor, basta clicar aqui: www.touroeouro.com), àcerca do que escrevi sobre os teus "toiros" (ganadaria com o nome da Senhora Tua Mãe). Agradeço, primeiro que tudo, as lições àcerca dos encastes (Murubes, etc.). De facto, reconheço e assumo, não tenho grande cultura taurina, sobretudo no que respeita a toiros e a encastes. Sou, disse-o sempre, jornalista. Aficionado e propriamente entendido, já o fui mais. Neste momento e com esta Festa, já não percebo nada. Mas disso percebes tu - e eu sei que sim.
Depois, agradeço-te o facto de me teres escrito. Na verdade, os Amigos dizem na cara dos Amigos aquilo que têm a dizer - e não pelas costas. Prezo e estimo a Amizade que tenho por ti há muitos, mesmo muitos, anos. E não esperava de ti outra coisa, que não fazeres o que fizeste. Dizeres o que tinhas a dizer - sem ser pelas costas.
Talvez não tenhas interpretado bem, mas eu esclareço-te. Se são deste ou daquele encaste, não sei. Que são pretos (até podiam não ser) e têm cornos, como os outros, isso têm. Mas que não são toiros como os outros, isso não são. E a opinião não é só minha. Lê, por favor, tudo o que se escreveu nos vários sites e blog's sobre a corrida de Lisboa - e sobre os teus "toiros".
Claro que se me for pôr na frente deles, levarei uma tareia. Mas sabes tão bem, como eu sei, que estes "toiros" não têm a agressividade dos outros, não transmitem emoção nenhuma, são aqueles a que Ventura até pôs no Montijo o chapelinho (sombrero) na cabecinha, andam ali à roda, estilo "boi manso", servem para este tipo de espectáculo - e as primeiríssimas Figuras exigem-nos. Ninguém tem dúvidas disso e ninguém escreveu ou disse o contrário.
Que os terás todos vendidos e que não os vais mandar para o matadouro, não tenho dúvida nenhuma. E ainda bem que assim é.
Como referi no que escrevi, toda a vida houve filmes de terror, de guerra, de amor, de desenhos animados, etc. Como tal, no mundo dos toiros, também há - ou deve haver - corridas para todos os gostos. O António Telles, por exemplo, não é Toureiro para toiros destes - os tais a que o João Salgueiro chamou um dia "nhoc-nhoc's". Mas isso não menospreza os teus "toiros", os teus encastes. São precisos "toiros" destes para quem tem espectáculos destes montados. Como também escrevi, não deixa de ter valor tudo aquilo que o Pablo fez no Campo Pequeno, mesmo sem ter pela frente toiros-toiros daqueles que "apertam" e que fazem suores frios a quem está na bancada. Se a praça encheu e se quase sete mil almas o obrigaram a dar três voltas e meia à praça (acho que nunca vi um toureiro dar três voltas e meia ao Campo Pequeno, pelo menos nos últimos anos), ninguém tem legitimidade para dizer que não foi um triunfo rotundo, apoteótico. E que quem leva gente às praças é o Pablo, como é o Ventura - e são estes "toiros". Até me admira - e estranhei - que não tenhas sido também chamado à praça.
Quanto à apresentação, sabes, tão bem como eu sei, que alguns deles tinham pouquíssima apresentação e nenhum trapio para virem a Lisboa - nisso, és bem mais entendido que eu e terás que o reconhecer.
Quanto a outras considerações que fazes, interpreto-as por teres escrito tudo isso "a quente", por teres interpretado mal o que escrevi, por teres imaginado, ou alguém to ter feito crer, que havia "maldade" nas minhas palavras.
Não houve, nem há, Armando João. Constatei apenas um facto, que a generalidade da crítica também constatou: faltaram toiros de verdade no Campo Pequeno na quinta-feira. Mas isso não significa que os teus "toiros" não prestem. Prestam, sim senhor, para este tipo de espectáculo - e são precisos. E há público para eles, ou não tivesse enchido o Campo Pequeno.
Entendidos? Recebe um abraço amigo.

Miguel Alvarenga

Foto D.R.