António Manuel Barata Gomes (à direita) este ano na Moita com o cavaleiro José Luis Cochicho |
Primeiro foi a controvérsia, a polémica,
o tentarem apertar-lhe o cerco e deixá-lo isolado com os seus meninos nos
braços. Depois, acabaram por reconhecer aquilo que alguns sabiam (por que o
conheciam), mas outros duvidavam: Barata Gomes não se tornou empresário para
"fazer frente ao Campo Pequeno" ou para "lixar quem quer que
fosse" e muito menos para buscar protagonismo num meio onde já o tinha.
Veio por bem. E o tema das "exclusivas" acabou por ser frutífero,
positivo e bom para a Festa. Fica a primeira análise à temporada de 2013
destacando um dos factos que indiscutivelmente a marcou: a "Troika"
triunfou. Não por que tivesse chegado armada para entrar numa guerra contra os
instalados, vencendo-os por ter poder (económico, sobretudo). Apenas e só por
que foi gerida e liderada por um homem de bem.
Miguel Alvarenga - Longe ainda dos
primeiros balanços de uma temporada que, apesar da crise, decorreu com algum
sucesso e que no próximo fim-de-semana termina oficialmente, é tempo de começar
a destacar alguns factos que a marcaram. Vamos deixar para depois a análise
artística e a eleição (que alguns já anteciparam...) de quem foi - e quem não foi - triunfador (avaliação sempre altamente subjectiva, como se sabe).
Pode ser polémico e será certamente
discutível, mas a verdade é que se alguém (claro que entre muitos mais, que a
seu tempo aqui referiremos) marcou este ano taurino foi este Senhor: António
Manuel Barata Gomes.
Antigo forcado (do Aposento da Moita e
da selecção dos Lusitanos que nos anos 70 e 80 triunfou em arenas do México e
da Venezuela), Barata Gomes é, primeiro que tudo, uma figura simpática,
acarinhada e respeitada no meio taurino, sobretudo pela actividade que mais o
tornou notado nos últimos anos: a sua função à frente dos destinos do mais
aficionado dos restaurantes nacionais, a "Casa das Enguias" na
Lançada (Montijo).
Sem precisar, pelo seu já vasto
currículo no mundo da tauromaquia, do protagonismo que tantos ambicionam, o
popular Tó Manel (como é conhecido no meio) quis este ano ir mais além e embarcou
na viagem empresarial, experiência que já na temporada anterior experimentara
associado ao conhecido António Manuel Cardoso "Nené".
Formou a empresa "Campo e
Praça" (associado a Albino Caçoete), assegurou a gestão de importantes
praças de toiros, entre as quais as da Moita, de Coruche, de Évora e de
Estremoz e, não contente com isso, chamou a si cinco dos principais cavaleiros
nacionais - António e João Telles, João Salgueiro, Rui Fernandes e Vitor
Ribeiro - estreando a modalidade das "exclusivas" - que de início
tanta celeuma gerou. O grupo que liderou ficou conhecido no meio pela
"Troika".
Inicialmente e como acima referi, as
"exclusivas" (que inicialmente foram anunciadas como obra única de
Caçoete, mas depois se percebeu serem, afinal, coisa de Barata Gomes) foram
recebidas pelos empresários taurinos como um "bicho de sete cabeças".
A empresa do Campo Pequeno abriu as hostilidades e anunciou logo à partida que
excluía a hipótese de contratar os cavaleiros do grupo. À partida, disse-me
mesmo - nunca há fumo sem fogo e aqui, pelo que sei, havia mesmo incêndio...
- que a estratégia de Barata Gomes era precisamente fazer oposição (e
dificultar a vida) ao Campo Pequeno, uma praça e um projecto que ainda hoje tem, diz-se, debaixo de olho...
Outros empresários afinaram pelo mesmo
diapasão, afirmando não contratar os cavaleiros das "exclusivas". O
caminho não estava, de princípio, fácil para Barata Gomes, que, por ser um
homem sério e de palavra, acabou, já na recta final da temporada, a ter que montar
corridas em praças onde alugou datas, apenas e só para cumprir os compromissos
(número de espectáculos) que assumira com os seus toureiros.
Com o andar da carruagem, que é o mesmo
que dizer, com o passar da temporada, tudo foi ao seu lugar. A tempestade,
afinal, era apenas num copo de água. Os cavaleiros do grupo de Barata Gomes
foram - e fartaram-se de ir - todos às praças geridas pela empresa do Campo Pequeno e passaram também
por arenas geridas por outros empresários. Por outras palavras, "acabaram
todos por poisar" - e por se entender - depois da guerra que à partida
tinham aberto à nova empresa e ao novo projecto.
António Manuel Barata Gomes, com a
diplomacia e a seriedade que sempre caracterizaram a sua postura de vida,
acabou, indiscutivelmente, por protagonizar um dos factos que marcaram esta
temporada de 2013. O tema das "exclusivas" deu que falar, agitou as
hostes nos primeiros meses do ano, mas, verdade seja dita, fez correr dinheiro,
assegurou o bem-estar dos toureiros que integraram este grupo, criou postos de
trabalho nas muitas corridas que organizou e, acima de tudo, em nada foi
prejudicial, pelo contrário, à Festa.
Uma coisa é aparecerem aventureiros que
prometem e prometem e depois estoiram; outra coisa é surgirem no meio
empresários sérios, com poder económico, sem golpadas e com visão para
investir, para arriscar e para engrandecer o espectáculo tauromáquico,
independentemente - e indiferentes - ao ano de crise que se viveu.
António Manuel Barata Gomes teve uma
caminhada exemplar pela temporada de 2013. A sua empresa contribuiu para o
prestígio da Festa. A sua atitude, que muitos criticaram e amaldiçoaram no
princípio, acabou por revelar-se frutífera e positiva.
Vai continuar? Vai voltar a gerir praças
e a "exclusivar" toureiros? Talvez tenha que meditar, que alterar
alguns formatos e que apostar mais em diversificar os cartéis (errou este ano
ao repetir quase sempre os mesmos artistas, embora se entenda que o tinha que
fazer) - mas era bom que continuasse. Porque a Festa, nos momentos conturbados
que se atravessam, só tem a ganhar com investidores assim.
Fotos Emílio de Jesus e Carmona/D.R.