segunda-feira, 28 de outubro de 2013

"Exclusivas" da "Troika": o tema que agitou a temporada

António Manuel Barata Gomes (à direita) este ano na Moita com o cavaleiro
José Luis Cochicho
António Manuel Barata Gomes (primeiro da esquerda) em 17 de Junho de 1979 na
Monumental do México, integrando os Forcados de Portugal (grupo que foi
o embrião dos Amadores Lusitanos), vendo-se ainda na foto, a seu lado e
da esquerda para a direita: Silvino Bento, Francisco Costa Montezo, Rogério Amaro,
Fernando Hilário, Carlos Serra e José Paulo (atrás), os críticos José António Lázaro
e Virgílio Palma Fialho e "Machinó"; em baixo, à frente, Armando Ferreira e José
Luis Figueiredo. Um grupo... e pêras!


Primeiro foi a controvérsia, a polémica, o tentarem apertar-lhe o cerco e deixá-lo isolado com os seus meninos nos braços. Depois, acabaram por reconhecer aquilo que alguns sabiam (por que o conheciam), mas outros duvidavam: Barata Gomes não se tornou empresário para "fazer frente ao Campo Pequeno" ou para "lixar quem quer que fosse" e muito menos para buscar protagonismo num meio onde já o tinha. Veio por bem. E o tema das "exclusivas" acabou por ser frutífero, positivo e bom para a Festa. Fica a primeira análise à temporada de 2013 destacando um dos factos que indiscutivelmente a marcou: a "Troika" triunfou. Não por que tivesse chegado armada para entrar numa guerra contra os instalados, vencendo-os por ter poder (económico, sobretudo). Apenas e só por que foi gerida e liderada por um homem de bem.

Miguel Alvarenga - Longe ainda dos primeiros balanços de uma temporada que, apesar da crise, decorreu com algum sucesso e que no próximo fim-de-semana termina oficialmente, é tempo de começar a destacar alguns factos que a marcaram. Vamos deixar para depois a análise artística e a eleição (que alguns já anteciparam...) de quem foi - e quem não foi - triunfador (avaliação sempre altamente subjectiva, como se sabe).
Pode ser polémico e será certamente discutível, mas a verdade é que se alguém (claro que entre muitos mais, que a seu tempo aqui referiremos) marcou este ano taurino foi este Senhor: António Manuel Barata Gomes.
Antigo forcado (do Aposento da Moita e da selecção dos Lusitanos que nos anos 70 e 80 triunfou em arenas do México e da Venezuela), Barata Gomes é, primeiro que tudo, uma figura simpática, acarinhada e respeitada no meio taurino, sobretudo pela actividade que mais o tornou notado nos últimos anos: a sua função à frente dos destinos do mais aficionado dos restaurantes nacionais, a "Casa das Enguias" na Lançada (Montijo).
Sem precisar, pelo seu já vasto currículo no mundo da tauromaquia, do protagonismo que tantos ambicionam, o popular Tó Manel (como é conhecido no meio) quis este ano ir mais além e embarcou na viagem empresarial, experiência que já na temporada anterior experimentara associado ao conhecido António Manuel Cardoso "Nené".
Formou a empresa "Campo e Praça" (associado a Albino Caçoete), assegurou a gestão de importantes praças de toiros, entre as quais as da Moita, de Coruche, de Évora e de Estremoz e, não contente com isso, chamou a si cinco dos principais cavaleiros nacionais - António e João Telles, João Salgueiro, Rui Fernandes e Vitor Ribeiro - estreando a modalidade das "exclusivas" - que de início tanta celeuma gerou. O grupo que liderou ficou conhecido no meio pela "Troika".
Inicialmente e como acima referi, as "exclusivas" (que inicialmente foram anunciadas como obra única de Caçoete, mas depois se percebeu serem, afinal, coisa de Barata Gomes) foram recebidas pelos empresários taurinos como um "bicho de sete cabeças". A empresa do Campo Pequeno abriu as hostilidades e anunciou logo à partida que excluía a hipótese de contratar os cavaleiros do grupo. À partida, disse-me mesmo - nunca há fumo sem fogo e aqui, pelo que sei, havia mesmo incêndio... - que a estratégia de Barata Gomes era precisamente fazer oposição (e dificultar a vida) ao Campo Pequeno, uma praça e um projecto que ainda hoje tem, diz-se, debaixo de olho...
Outros empresários afinaram pelo mesmo diapasão, afirmando não contratar os cavaleiros das "exclusivas". O caminho não estava, de princípio, fácil para Barata Gomes, que, por ser um homem sério e de palavra, acabou, já na recta final da temporada, a ter que montar corridas em praças onde alugou datas, apenas e só para cumprir os compromissos (número de espectáculos) que assumira com os seus toureiros.
Com o andar da carruagem, que é o mesmo que dizer, com o passar da temporada, tudo foi ao seu lugar. A tempestade, afinal, era apenas num copo de água. Os cavaleiros do grupo de Barata Gomes foram - e fartaram-se de ir - todos às praças geridas pela empresa do Campo Pequeno e passaram também por arenas geridas por outros empresários. Por outras palavras, "acabaram todos por poisar" - e por se entender - depois da guerra que à partida tinham aberto à nova empresa e ao novo projecto.
António Manuel Barata Gomes, com a diplomacia e a seriedade que sempre caracterizaram a sua postura de vida, acabou, indiscutivelmente, por protagonizar um dos factos que marcaram esta temporada de 2013. O tema das "exclusivas" deu que falar, agitou as hostes nos primeiros meses do ano, mas, verdade seja dita, fez correr dinheiro, assegurou o bem-estar dos toureiros que integraram este grupo, criou postos de trabalho nas muitas corridas que organizou e, acima de tudo, em nada foi prejudicial, pelo contrário, à Festa.
Uma coisa é aparecerem aventureiros que prometem e prometem e depois estoiram; outra coisa é surgirem no meio empresários sérios, com poder económico, sem golpadas e com visão para investir, para arriscar e para engrandecer o espectáculo tauromáquico, independentemente - e indiferentes - ao ano de crise que se viveu.
António Manuel Barata Gomes teve uma caminhada exemplar pela temporada de 2013. A sua empresa contribuiu para o prestígio da Festa. A sua atitude, que muitos criticaram e amaldiçoaram no princípio, acabou por revelar-se frutífera e positiva.
Vai continuar? Vai voltar a gerir praças e a "exclusivar" toureiros? Talvez tenha que meditar, que alterar alguns formatos e que apostar mais em diversificar os cartéis (errou este ano ao repetir quase sempre os mesmos artistas, embora se entenda que o tinha que fazer) - mas era bom que continuasse. Porque a Festa, nos momentos conturbados que se atravessam, só tem a ganhar com investidores assim.

Fotos Emílio de Jesus e Carmona/D.R.