domingo, 29 de junho de 2014

Ontem no Montijo: Gilberto, Mara, a festa dos Forcados... e "mais do mesmo"!

Lupi, Rouxinol, Gilberto e Mara, o quarteto de ontem na Monumental do Montijo
Público do Montijo aplaudiu ontem a noite triunfal de Gilberto Filipe
Mara Pimenta deslumbrou ontem os aficionados no Montijo. Nas fotos de baixo, o
cabo Ricardo Figueiredo recebendo as homenagens da Adega de Pegões como
autor da melhor pega da noite (à esquerda) e Mara Pimenta brindando a António
Ventura, seu mestre (foto da direita)




Miguel Alvarenga - Quando pisam a arena, quando se movem na trincheira, marcam a saudade de um tempo perdido. Valeu a pena ter ido ontem ao Montijo para rever fardados figuras como os antigos cabos António Sécio (que em Outubro de 1966 pegou no Campo Pequeno o toiro "Carvoeiro" de Rio Frio, que matou Quim-Zé Correia) e Rogério Amaro ou como a eterna glória da forcadagem montijense que é José Luis Horta, o enorme "Machinó". E tantos mais.
A noite dos 50 anos do Grupo de Forcados Amadores do Montijo ficou marcada por uma actuação memorável do grupo, à antiga, a lembrar épocas de glória, com seis pegas à primeira e apenas uma à segunda, todas executadas por elementos actuais, mas todas elas, também, com intervenções, a ajudar, de antigos forcados. O público aplaudiu o grupo de pé no final. Ao intervalo, houve na arena uma singela homenagem ao grupo pela Tertúlia S. Pedro e na entrada principal da Monumental foi descerrada pelo presidente da Câmara, Nuno Canta, uma placa alusiva ao 50º aniversário dos Amadores do Montijo. Também os três cavaleiros, Luis Rouxinol, Gilberto Filipe (que substituiu João Moura) e Manuel Lupi dedicaram actuações ao grupo, em honra do qual nas cortesias a banda cantou os "Parabens a Você".
Brilhantes, as sete pegas foram executadas, por esta ordem, por lio Lopes, Ricardo Almeida, Ricardo Parracho, Manuel Carlos (este ao novilho-toiro de Passanha lidado pela amadora Mara Pimenta, na única pega executada à segunda tentativa), João Damásio, o cabo Ricardo Figueiredo e o veterano Isidoro Cirne. Havia um troféu em disputa para a melhor pega, oferecido pela Adega de Pegões - o que não costuma ocorrer quando está em praça um só grupo - e o mesmo recaíu sobre a pega do cabo Ricardo Figueiredo.
Além do novilho de Passanha (pesado, bem apresentado e que deu excelente jogo) lidado em quarto lugar por Mara Pimenta, sairam ontem à arena do Montijo seis toiros de Rio Frio, de apresentação e peso desigual, mas de bom comportamento na generalidade, justificando-se em pleno a chamada à praça de Tiago Lupi, representante da divisa, no final do espectáculo. Os toiros foram
recolhidos a cavalo, alternadamente, pelos campinos de Rio Frio e pela dupla José Manuel Pires da Costa/João Paulo Fernandes. Bem, como sempre.
Artísticamente, no que aos cavaleiros diz respeito, não fossem as duas grandes actuações de Gilberto Filipe, indiscutivelmente o grande triunfador da corrida e a lufada de ar puro (e de certezas no futuro) dada por Mara Pimenta... e teria sido uma noite de "mais do mesmo", enfadonha e arrastada, com tudo igual ao costume...
Luis Rouxinol está sempre bem, às vezes, até, enervantemente bem. Ontem, esteve regular no primeiro toiro e mal no segundo, alguma vez tinha que acontecer, para não ser sempre igual, ao ponto de falhar dois ferros e recusar, com honradez, dar a volta com o forcado.
Manuel Lupi não repetiu o surpreendente triunfo da sua reaparição em Santarém. Desta vez, esteve como estava dantes: bem, mas sem grande destaque. Teve, no entanto, alguns ferros de muito bom nível e reafirmou, isso sim, que está de volta decidido a marcar.
Gilberto Filipe luta esforçada e dignamente há mais de dez anos (tem uma década de alternativa no seu historial e muitos mais anos, antes, como praticante) e tem pautado a sua trajectória por altos e baixos. Há dois anos que anda em alta e ontem esteve mesmo em plano altíssimo. Está moralizado e bem montado (como os melhores) para ir em frente. Rui Bento vai levá-lo ao Campo Pequeno. Este pode ser o ano de Gilberto - e, na forma em que se encontra, não tenham dúvidas de que o vai ser.
Paco Ojeda, o colombiano César Rincón e, bem mais recentemente, Diego Ventura, foram exemplos de toureiros que lutaram e se fartaram de lutar para serem reconhecidos, até que um dia triunfaram em Madrid e se tornaram famosos. Mais vale tarde que nunca e nunca vai ser tarde para Gilberto Filipe dar o salto. Porque tem todas as condições para o fazer. O Montijo não é Madrid e Portugal não é Espanha, por cá os triunfos valem o que valem, que é nada, mas não quero acreditar que o sucesso de Gilberto ontem não lhe tenha servido para nada. É um bom cavaleiro, um bom toureiro e está no seu momento. Força - e em frente!
O outro caso da noite de ontem chama-se Mara Pimenta, é a nova estrela do toureio feminino e promete mesmo ir muito longe. Tem graça, tem figura e tem, sobretudo, "gancho" com o público, como dizem nuestros hermanos. Tem bons cavalos, tem bom mestre (António Ventura) e tem, principalmente, um querer enorme e uma vontade desmedida de ser alguém neste complicado mundo dos toiros.
Mara Pimenta tem sentido de lide, sabe o que faz e onde faz, notam-se-lhe progressos importantes, ontem foi ela quem mais deslumbrou, quem mais aqueceu as bancadas. Vai ser, já ninguém tem dúvidas, um caso sério. Onde tourear, muitos estarão lá. Mara já tem seguidores, o que é um facto notável para quem se iniciou há tão pouco tempo.
A praça encheu, a festa dos forcados foi bonita, Gilberto Filipe foi o triunfador, Mara Pimenta deslumbrou - e o Montijo foi apenas isto. Sem mais nada de importante.
Pedro Reinhardt dirigiu bem, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva e nos toques esteve, brilhante, o cornetim Nuno Narciso. Entre os bandarilheiros, destacaram-se David Antunes, Josué Salvado, Duarte Alegrete, Tiago Santos e Nuno Oliveira.

A seguir, não perca: os Momentos de Glória (fotos de Duarte Justino), as pegas uma a uma e o registo dos Famosos que ontem estiveram em Alcochete.

Fotos Duarte Justino e M. Alvarenga