Lupi, Rouxinol, Gilberto e Mara, o quarteto de ontem na Monumental do Montijo |
Público do Montijo aplaudiu ontem a noite triunfal de Gilberto Filipe |
Miguel Alvarenga - Quando pisam a arena,
quando se movem na trincheira, marcam a saudade de um tempo perdido. Valeu a
pena ter ido ontem ao Montijo para rever fardados figuras como os antigos cabos
António Sécio (que em Outubro de 1966 pegou no Campo Pequeno o toiro
"Carvoeiro" de Rio Frio, que matou Quim-Zé Correia) e Rogério Amaro
ou como a eterna glória da forcadagem montijense que é José Luis Horta, o
enorme "Machinó". E tantos mais.
A noite dos 50 anos do Grupo de Forcados
Amadores do Montijo ficou marcada por uma actuação memorável do grupo, à
antiga, a lembrar épocas de glória, com seis pegas à primeira e apenas uma à
segunda, todas executadas por elementos actuais, mas todas elas, também, com
intervenções, a ajudar, de antigos forcados. O público aplaudiu o grupo de pé
no final. Ao intervalo, houve na arena uma singela homenagem ao grupo pela
Tertúlia S. Pedro e na entrada principal da Monumental foi descerrada pelo
presidente da Câmara, Nuno Canta, uma placa alusiva ao 50º aniversário dos
Amadores do Montijo. Também os três cavaleiros, Luis Rouxinol, Gilberto Filipe
(que substituiu João Moura) e Manuel Lupi dedicaram actuações ao grupo, em
honra do qual nas cortesias a banda cantou os "Parabens a Você".
Brilhantes, as sete pegas foram
executadas, por esta ordem, por Hélio Lopes, Ricardo Almeida, Ricardo Parracho,
Manuel Carlos (este ao novilho-toiro de Passanha lidado pela amadora Mara
Pimenta, na única pega executada à segunda tentativa), João Damásio, o cabo
Ricardo Figueiredo e o veterano Isidoro Cirne. Havia um troféu em disputa para
a melhor pega, oferecido pela Adega de Pegões - o que não costuma ocorrer
quando está em praça um só grupo - e o mesmo recaíu sobre a pega do cabo
Ricardo Figueiredo.
Além do novilho de Passanha (pesado, bem
apresentado e que deu excelente jogo) lidado em quarto lugar por Mara Pimenta,
sairam ontem à arena do Montijo seis toiros de Rio Frio, de apresentação e peso
desigual, mas de bom comportamento na generalidade, justificando-se em pleno a
chamada à praça de Tiago Lupi, representante da divisa, no final do
espectáculo. Os toiros foram
recolhidos a cavalo, alternadamente,
pelos campinos de Rio Frio e pela dupla José Manuel Pires da Costa/João Paulo
Fernandes. Bem, como sempre.
Artísticamente, no que aos cavaleiros
diz respeito, não fossem as duas grandes actuações de Gilberto Filipe,
indiscutivelmente o grande triunfador da corrida e a lufada de ar puro (e de
certezas no futuro) dada por Mara Pimenta... e teria sido uma noite de
"mais do mesmo", enfadonha e arrastada, com tudo igual ao costume...
Luis Rouxinol está sempre bem, às vezes,
até, enervantemente bem. Ontem, esteve regular no primeiro toiro e mal no
segundo, alguma vez tinha que acontecer, para não ser sempre igual, ao ponto de
falhar dois ferros e recusar, com honradez, dar a volta com o forcado.
Manuel Lupi não repetiu o surpreendente
triunfo da sua reaparição em Santarém. Desta vez, esteve como estava dantes:
bem, mas sem grande destaque. Teve, no entanto, alguns ferros de muito bom nível
e reafirmou, isso sim, que está de volta decidido a marcar.
Gilberto Filipe luta esforçada e dignamente há mais
de dez anos (tem uma década de alternativa no seu historial e muitos mais anos,
antes, como praticante) e tem pautado a sua trajectória por altos e baixos. Há
dois anos que anda em alta e ontem esteve mesmo em plano altíssimo. Está
moralizado e bem montado (como os melhores) para ir em frente. Rui Bento vai
levá-lo ao Campo Pequeno. Este pode ser o ano de Gilberto - e, na forma em que
se encontra, não tenham dúvidas de que o vai ser.
Paco Ojeda, o colombiano César Rincón e,
bem mais recentemente, Diego Ventura, foram exemplos de toureiros que lutaram e
se fartaram de lutar para serem reconhecidos, até que um dia triunfaram em
Madrid e se tornaram famosos. Mais vale tarde que nunca e nunca vai ser tarde
para Gilberto Filipe dar o salto. Porque tem todas as condições para o fazer. O
Montijo não é Madrid e Portugal não é Espanha, por cá os triunfos valem o que
valem, que é nada, mas não quero acreditar que o sucesso de Gilberto ontem não
lhe tenha servido para nada. É um bom cavaleiro, um bom toureiro e está no seu
momento. Força - e em frente!
O outro caso da noite de ontem chama-se
Mara Pimenta, é a nova estrela do toureio feminino e promete mesmo ir muito
longe. Tem graça, tem figura e tem, sobretudo, "gancho" com o
público, como dizem nuestros hermanos. Tem bons cavalos, tem bom mestre
(António Ventura) e tem, principalmente, um querer enorme e uma vontade
desmedida de ser alguém neste complicado mundo dos toiros.
Mara Pimenta tem sentido de lide, sabe o
que faz e onde faz, notam-se-lhe progressos importantes, ontem foi ela quem
mais deslumbrou, quem mais aqueceu as bancadas. Vai ser, já ninguém tem
dúvidas, um caso sério. Onde tourear, muitos estarão lá. Mara já tem
seguidores, o que é um facto notável para quem se iniciou há tão pouco tempo.
A praça encheu, a festa dos forcados foi
bonita, Gilberto Filipe foi o triunfador, Mara Pimenta deslumbrou - e o Montijo
foi apenas isto. Sem mais nada de importante.
Pedro Reinhardt dirigiu bem, assessorado
pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva e nos toques esteve,
brilhante, o cornetim Nuno Narciso. Entre os bandarilheiros, destacaram-se
David Antunes, Josué Salvado, Duarte Alegrete, Tiago Santos e Nuno Oliveira.
A seguir, não perca: os Momentos de
Glória (fotos de Duarte Justino), as pegas uma a uma e o registo dos Famosos
que ontem estiveram em Alcochete.
Fotos Duarte Justino e M. Alvarenga