terça-feira, 8 de julho de 2014

Mara Pimenta, a nova estrela do toureio feminino: "Medo, só de defraudar o público... do toiro, não!"

A nova estrela do toureio feminino durante a entrevista ao "Farpas"
Mara Pimenta e o apoderado João Pedro Bolota. "Vai tourear entre 20 a 25
corridas este ano"
, adianta o empresário
Com o apoderado João Pedro Bolota e sua filha Clotilde



Tem 18 anos, já deu nas vistas, já toda a aficion a conhece e vem somando êxitos nas praças pode onde passa. Apoderada por João Pedro Bolota, Luis Rouxinol foi o seu primeiro mestre e agora quem a ensina são os Ventura, pai e filho. Mara Pimenta, a nova princezinha do toureio a cavalo, sabe bem o que quer e para onde vai. No próximo dia 3 de Agosto faz a prova para cavaleira praticante em Azambuja. A alternativa há-de vir depois, "assim que me sentir preparada". A estreia foi em 2012 no Coliseu do Redondo. Marcar a diferença e nunca desiludir os que a apoiam são os seus primordiais objectivos. Medo do toiro, nem por isso. Medo, só mesmo de "estar mal". A entrevista foi em Alcochete, em casa do apoderado Bolota, mesmo à beira da piscina. "Não tenho assim muito jeito para estas coisas", começou por dizer-me meio a medo. Mas depois a conversa foi fluindo. Vamos ouvi-la.

Entrevista de
Miguel Alvarenga

- Nasceste onde e de onde te veio essa inspiração para o toureio?
- Nasci em Santarém. Vivo em Almeirim, mas nasci em Santarém. Na minha família nunca houve ninguém ligada à tauromaquia, mas eu sempre gostei desde pequenina, ia às corridas e comecei a montar a cavalo aos dez anos...
- Onde?
- Numa escola de equitação em Santarém, do Pedro Neves. Andei lá uns cinco, seis anos. Depois o meu pai conheceu o Francisco Penedo, apoderado de Luis Rouxinol e as coisas aconteceram naturalmente. Fui para lá aprender. Foi há quatro anos.
- Foi o teu mestre?
- Foi. Comecei com o Luis Rouxinol, mas agora estou com o Diego Ventura. Surgiu esta oportunidade e eu agarrei-a. O Luis agora tem o filho a tourear, tem menos tempo e por isso mudei.
- Onde toureaste pela primeira vez?
- Foi em 2012, estreei-me a 5 de Maio no Coliseu do Redondo.
- E quais foram as sensações nesse dia?
- Quando entrei na arena, dei não sei quantas voltas a aquecer o cavalo... depois, quando o cornetim tocou, só pensava onde estava a porta dos cavalos para me ir embora... estava super nervosa (risos). Mas depois correu bem...
- Tens irmãos?
- Tenho um irmão pequenino.
- Quando é que disseste aos teus pais que querias ser toureira e como é que eles reagiram?
- Desde pequenina que eu lhes dizia que queria ser cavaleira. O meu pai sempre me apoiou, a minha mãe não gostou muito da ideia, mas foi-se habituando...
- E vai às corridas?
- Vai, só não vai às que são mais longe.
- Foi difícil entrar neste mundo?
- Não tive grandes dificuldades, a sério. Não foi muito fácil, mas também não posso dizer que tenha sido muito difícil.
- O exemplo de outras cavaleiras foi um incentivo para ti?
- Foi, claro que foi, mas por um lado não facilita muito, porque já há muitas cavaleiras... mas o importante é tentar marcar a diferença, querer sempre mais.
- Tiveste uma grande actuação na última corrida do Montijo, o que sentiste?
- Uma sensação extraordinária. Foi uma das melhores sensações da minha vida.
- Foi a tua melhor actuação?
- Não. Para mim, a melhor, até agora, foi em Oliveira de Frades. Correu muito, muito bem, foi diferente.
- E agora já vais tirar a prova de praticante...
- Sim, dia 3 de Agosto num festival em Azambuja.
- Continuas a estudar?
- Acabei este ano o 12º ano e agora vou decidir se vou já para a universidade ou se vou parar um ano para me dedicar a sério ao toureio e depois recomeçar os estudos. O meu pai já investiu muito em mim e tenho que saber dar valor a isso. Se fôr neste momento para a universidade, vou acabar por não ter tempo, nem para uma coisa, nem para a outra. Tenho que optar pelo que quero mesmo fazer e o que eu quero muito é mesmo tourear. Mas sei que é essencial tirar um curso, tenho uma boa média e sempre quis entrar em medicina dentária, por isso vou ter que um dia conseguir conciliar as duas coisas. Não sei, vamos ver...
- Quem são as tuas referências no toureio, os teus ídolos?
- A nível mundial é o Ventura e aqui em Portugal, para mim, o melhor é o Rouxinol.
- Estiveste primeiro em casa de Rouxinol, agora estás na de Ventura, como é que lá foste parar?
- Aconteceu porque tinha que acontecer, não sei, foi um mero acaso. Têm sido extraordinários comigo, tanto o pai, como o Diego, tenho aprendido e evoluído imenso com eles, são coisas que nunca vou poder pagar na vida. Têm feito muito por mim. São pessoas fantásticas. Quando o Diego cá está em Pancas vou para lá treinar, quando não está treino com seu pai durante a semana. São pessoas fantásticas.
- O mundo dos toiros é um mundo só para homens?
- Não, claro que não!
- Uma mulher pode triunfar?
- Claro que sim. Eu acho que uma mulher até tem mais facilidade em chegar ao público!
- Até aqui, as coisas têm-te corrido bem. Alguma vez tiveste vontade de desistir?
- Não, nunca. Acho que quando alguma coisa corre mal, aí é que se vê se os toureiros são de verdade ou não, aí é que têm que continuar a lutar e a querer mais.
- Tens medo?
- Isso toda a gente tem. Mas não tenho medo do toiro, tenho é medo de defraudar o público, de falhar, de não estar bem, de alguma coisa não correr como eu quero, tenho medo sobretudo de desiludir as pessoas que mais me apoiam e que acreditam em mim. Disso, sim, tenho medo, muito medo mesmo. É por isso que trabalho imenso todos os dias, levanto-me às sete ou oito da manhã para ir logo montar e por isso procuro não desiludir ninguém, mas tenho sempre esse medo. Do toiro, não...
- Tens um bom apoderado, João Pedro Bolota e uns bons mestres, os Ventura. Isso é meio caminho andado, Mara?
- Com a ajuda deles, tudo se torna mais fácil. As corridas boas que o meu apoderado me tem arranjado são oportunidades que não posso deixar passar em vão. O meu pai também me ajuda muito, os Ventura nem se fala, são pessoas que estão sempre a meu lado e que não me deixam ficar mal, mas o importante é eu corresponder, é estar bem. É tantar fazer o meu melhor naqueles dez minutos em que estou na arena. São apenas dez minutos...
- E os teus amigos, o que dizem de seres toureira?
- Gostam e apoiam, vão sempre ver-me às corridas, tenho amigos extraordinários.
- Depois da prova de praticante, que tipo de casaca vais usar, vais optar por uma mais feminina, como as que usa a Sónia Matias?
- Já mandei fazer uma, não é bem vermelha nem é bordeau, mas é mais ou menos dessas cores. É uma casaca mais cintada, talvez mais feminina, mas dentro do estilo tradicional, como não podia deixar de ser.
- Para quando a alternativa?
- Para já vou fazer a prova de praticante. Depois, quando me sentir preparada, claro que tenciono tomar a alternativa.

Fotos Ana de Alvarenga