"Dez de dez. O coração do toureio
português bate com mais força que nunca duas décadas depois da sua
reinauguração. Emoções 'à flor da pele'. No seu máximo potencial. Mais arte e
mais público numa temporada 'redonda' de acontecimentos únicos. E não só a cavalo,
pois a já histórica actuação de 'El Juli' no passado mês de Junho implicou uma
mudança para a aficion lusa e deu um noov impulso ao toureio a pé no país"
- é assim que a jornalista Maribel Pérez abre as quatro páginas da última edição
da revista "6 Toros 6" (que agora não é vendida em Portugal)
inteiramente dedicadas a "uma década de esplendor em Lisboa" (Campo
Pequeno) através de uma interessante e oportuna entrevista a Rui Bento, o
gerente taurino da primeira praça de toiros de Portugal. Idêntico destaque à
Temporada Sensacional do Campo Pequeno foi dado, como já aqui referimos, pela
revista "Aplausos". No entanto e pelo facto de a "6 Toros 6"
ter deixado de se vender entre nós, é sobre esta que nos vamos debruçar hoje
aqui em particular.
"A nível de acontecimentos, da
apresentação dos toiros e do compromisso de alguns toureiros, creio que esta
foi a temporada de maior consistência artística e na qual ocorreram coisas que
ficaram muito à flor da pele e que assentaram na sensibilidade dos aficionados.
Foi um ano importante por tudo. Para mim, particularmente, foi uma década como
gestor e empresário da praça de Lisboa que culminou com uma média de público
que subiu de 75 a 81 por cento. Foram 10 temporadas e é bonito ao final de uma década
registar que uma temporada, a nível de presença de público e e de rotundidade
artística tenha funcionado como aconteceu este ano. A sensação final é a do
dever cumprido", afirma Rui Bento e acrescenta:
"Estes dez anos ensinaram-nos a
crescer a nível pessoal e profissional; corrigiram-se erros que sempre se
cometem, procurou-se a forma de ter uma comunicação mais adaptada às realidades
de hoje e de trazer os toureiros jovens, os forcados, que arrastam muita
juventude e a possibilidade de trazer figuras do toureio com um peso tão
importante como 'El Juli', Pablo Hermoso de Mendoza ou Diego Ventura, mais as
figuras jovens do toureio a cavalo de Portugal. Com todos eles, reuniram-se
todos os públicos numa temporada que, desde a apresentação dos cartéis, caíu
muito bem nos aficionados".
Questionado sobre se o aumento de
público (no Campo Pequeno) corresponde também a um florescimento da aficion aos
toiros em Portugal, Rui Bento defende que "Lisboa é uma referência e tem a
obrigação de sê-lo e com o trabalho e o êxito que está tendo, está
crescendo". E explica:
"O público tem o Campo Pequeno como
uma praça-chave e como o êxito dos festejos aconteceu, as pessoas vão
predispostas a viver o triunfo aqui, o que consequentemente se vai arrastando a
outras praças, como Vila Franca de Xira, Santarém, Moita, Setúbal, Figueira da
Foz, Abiul... que também este ano registaram boas entradas de público e com
êxito dos toureiros. Isso notou-se especialmente no toureio a pé, que depois da
actuação de 'El Juli' em Junho (Campo Pequeno), houve um empurrão em todo o
país no que respeita aos festejos a pé que se programaram depois. Foi um facto
que, se Deus quiser, terá repercussão no futuro".
Rui Bento reafirma que o triunfo de
"El Juli" em Lisboa foi como que "um antes e um depois" e
recorda que "há 60 anos não havia em Lisboa uma saída em ombros com tanta
emoção, com tanta gente atrás do toureiro", salientando que "nessa
noite houve gente que permaneceu nas imediações da praça até às quatro ou cinco
da manhã".
O gestor taurino da praça de Lisboa cita
depois outros triunfos de matadores este ano em praças portuguesas, como os de
Juan del Álamo também no Campo Pequeno, de "El Fandi" em Abiul, de
Pedrito de Portugal em Vila Franca e de Juan José Padilla na Moita, concluindo
que "El Juli fez despertar a aficion portuguesa para o toureio a pé em
Portugal como há muito tempo não acontecia".
O antigo matador de toiros reconhece que
"está a faltar-nos um maior número de corridas com toureiros a pé para que
rompam alguns toureiros portugueses" e cita os casos de António João
Ferreira, de Nuno Casquinha e de Manuel Dias Gomes, bem como dos novilheiros
"Juanito", Diogo Peseiro e Sérgio Nunes.
Quanto ao toureio a cavalo e às figuras
portuguesas, Rui Bento destaca os triunfos no Campo Pequeno de Luis Rouxinol,
João Moura Júnior, João Telles, Marcos Bastinhas, Rui Salvador e Ana Batista e
ainda dos jovens Miguel Moura, Jacobo Botero e Parreirita Cigano. E conclui que
"há quatro ou cinco toureiros jovens (cavaleiros) que podem despoletar
definitivamente e outros quantos que levam já vários anos e que não dão o passo
definitivo e que cada vez se lhes vai ser mais difícil".
Sobre o ano fantástico dos forcados, Rui
Bento recorda que no Campo Pequeno houve "quatro ou cinco pegas que
ficaram para a História", referindo em particular duas de Marcelo Loia
(cabo do Aposento do Barrete Verde de Alcochete) e também a de António Goes
(Amadores de Santarém).
Rui Bento reconhece ainda que "está
a emergir o toiro português" e que há neste momento muitas ganadarias
"que investem" e que se pode "apostar nelas para o toureio a
pé".
A abertura do Museu do Campo Pequeno,
visitado já por mais de 8 mil pessoas desde a sua inauguração em 2 de Junho; o
arranque do canal televisivo "Campo Pequeno TV", sendo a empresa de
Lisboa a única no mundo a lançar uma iniciativa deste género; e ainda a grande
promoção da nossa Tauromaquia feira recentemente pela empresa do Campo Pequeno
na China, na Feira Internacional de Macau, são ainda outros temas em destaque
nesta edição da "6 Toros 6".
Quanto a projectos para o próximo ano,
Rui Bento anuncia "uma temporada com a presença de todos os que triunfaram
e com outros que não estiveram em Lisboa e que estão aí 'no banco' à espera de
meterem a cabeça".
"Há coisas a melhorar",
reconhece. E adianta ainda a intenção de repetir em Lisboa toureiros como
"El Juli", Pablo Hermoso e Diego Ventura e também a de trazer José
Tomás, afirmando que esse "será um dos desafios da empresa do Campo
Pequeno" e, pessoalmente, uma das suas "grandes ilusões".