Anos 60, quando a Feira da Golegã tinha outro sabor: Frederico Cunha (à esquerda, na foto, com o também cavaleiro tauromáquico José Luis Sommer d'Andrade) e, em baixo, numa foto actual |
"Com este tipo de toiros que se
toureiam agora, que pouca ou nenhuma emoção dão, vamos às praças e ao segundo
ou terceiro toiro já estamos fartos da corrida. Os toiros não investem, caiem,
a maior parte das vezes é uma monotonia. As corridas de agora têm muito menos
emoção. Essa é a grande diferença que existe entre os meus tempos e os de
hoje" - verdades, provavelmente incómodas e talvez politicamente incorrectas, mas verdades, proferidas pelo antigo cavaleiro tauromáquico Frederico Cunha (foto de cima) numa entrevista que promete dar muito que falar (muito, mesmo!) concedida a João Queiroz e publicada este mês na edição da revista "Novo Burladero" (ao lado).
"Agora só querem cavalos que andem
de lado, que façam números, que dêem as mãos, que façam piruetas (...) O cavalo
hoje está feito para o 'número', não está feito para tourear. Cada um tem o seu
número, que era uma coisa que antes não existia. Dantes, toureava-se", diz ainda o antigo toureiro.
"O problema é que os rejoneadores
espanhóis começaram a fazer aqueles 'números' com os cavalos (...) Os
cavaleiros portugueses, em vez de continuarem a nossa tradição, não! Vá de
imitá-los! (...) Ao tentar imitá-los, perdemos o comboio. E não há dúvida que
hoje, quem controla isto tudo, é o Pablo e o Ventura! (...) Hoje no Campo
Pequeno, aquilo só está cheio se vier o Ventura ou o Pablo. Parece que vão lá
só bater palmas a eles (...) Antes, o público tinha gosto que os portugueses
estivessem por cima dos espanhóis".
Pode custar a ouvir (ler), mas Frederico Cunha nunca teve papas na língua. Leiam, que vale a pena, a entrevista na íntegra, onde o cavaleiro passa em revista a sua carreira e diz de sua justiça no que respeita ao momento actual.
Foto Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com