sexta-feira, 31 de maio de 2019

Chamusca: muito calor, sectores de sol às moscas e triunfos de Rouxinol e Casquinha

Sol às moscas. Em tempo de calor, como o que estava ontem na Chamusca,
as corridas têm que ser à noite. É necessário e urgente que os empresários
repensem a Festa
Um aficionado e uma aficionada que mereciam ontem ter recebido também um
troféu. Não é qualquer um que está três horas à torreira do sol, a derreter
com 40 graus, para ver uma tourada...
Ao contrário do sol, os sectores de sombra estavam cheios
Valor, arte, entrega, como se fosse sempre um principiante. Luis Rouxinol
assinou ontem na Chamusca duas grandes actuações
Filipe Gonçalves foi autor de duas lides de muito mérito, sobressaindo na
última com os quiebros que entusiasmaram o público
Um espectacular par de bandarilhas do enorme João Ferreira! Único!
A António João Ferreira tocou ontem a fava. O terceiro toiro da tarde não tinha
um passe, fugia do toureiro. O valoroso matador fez os possíveis e os impossíveis
e não havia mesmo mais nada a fazer...
Nuno Casquinha realizou ontem uma grande faena ao quarto toiro da tarde, um
belíssimo exemplar da ganadaria de Manuel Veiga. O ganadero Carlos Veiga foi
premiado com volta à arena no quinto toiro, com Luis Rouxinol e o forcado Luis
Leitão dos Amadores da Chamusca


Miguel Alvarenga - Com os sectores de sombra muito compostos e os de sol às moscas (pudera, com 40 graus alguém aguenta?...) realizou-se ontem na Chamusca a tradicional corrida mista de quinta-feira de Ascensão. Os cavaleiros Luis Rouxinol e Filipe Gonçalves lidaram dois toiros cada e os matadores António João Ferreira e Nuno Casquinha (em clara desvantagem) tiveram direito a enfrentar apenas só um cada. Ou seja, foi uma corrida mista assim-assim, onde existiu da parte da organização mais respeitinho pela arte equestre que pelo toureio a pé...
E depois, já estou cansado de o alertar, era preciso que as empresas repensassem tudo. Quem é que tem coragem para estar três horas à torreira do sol, com 40 graus, a ver uma tourada? Estas corridas, quer se queira, quer não se queira, têm que realizar-se à noite. E estou a falar da Chamusca. Agora imaginem o que vai ser nas corridas que estão anunciadas para o próximo mês noutras praças, sobretudo nas do Alentejo... Passa pela cabeça de alguém ir aos toiros e ficar ao sol, com este calor? A mim não me apanham mais em touradas à tarde (e estava à sombra). Praia com ele! Façam-nas à noite.
Apesar de tudo - e até do calor - a corrida foi agradável. Exceptuando o primeiro de Rouxinol e o toiro manso e fugitivo que tocou (em azar) a António João Ferreira, os toiros de Manuel Veiga tiveram nota alta e o ganadero Carlos Veiga foi premiado, merecidamente, com volta à arena no quinto. Destacaram-se o quarto, lidado por Nuno Casquinha e os quinto e sexto, lidados por Rouxinol e Filipe Gonçalves. O segundo da ordem, que coube a Filipe Gonçalves, também não complicou.
Ainda não foi desta que se viu Rouxinol não triunfar. Começa mesmo a ser impensável que isso possa acontecer. É um toureiro de nível superior e que dá sempre a cara como se fosse um principiante. O primeiro toiro da tarde era difícil e Luis Rouxinol deu-lhe a volta, sem contudo conseguir a exuberância e o brilhantismo que depois atingiu no quinto, sobretudo com o elástico cavalo Douro, com que levou o público ao rubro. Lide perfeita, Rouxinol no seu melhor.
Filipe Gonçalves lidou bem o seu primeiro toiro, bregando com acerto e cravando com emoção. No último, de excelente nota, o cavaleiro algarvio deu o seu máximo, com quiebros que entusiasmaram o público, terminando com um grande par de bandarilhas e ainda um de palmo a pedido do público. Houve entrega, profissionalismo e muira raça nas duas lides de Filipe Gonçalves.
Os toiros não complicaram a vida aos forcados do dois grupos da terra. Pelos Amadores da Chamusca foram caras Nuno Luís (que se despediu) à primeira, tendo também despido a jaqueta João Botas, que interviu como ajuda nesta primeira pega da corrida; e Luis Leitão, que concretizou à segunda, despedindo-se também das arenas.
Pelo Aposento da Chamusca pegaram João Diogo à primeira e Alexandre Mira à segunda.
A parte a pé, intercalada entre as lides dos cavaleiros e, como atrás referi, só com um toiro para cada matador, teve na faena de Nuno Casquinha os melhores momentos, já que o toiro de António João Ferreira (terceiro da ordem) não deu ao matados quaisquer opções.
António João esteve muito bem com o capote, recebendo o toiro com bonitas e cingidas verónicas, a que Casquinha respondeu com um quite por chicuelinas. No tércio de bandarilhas esteve enorme, com o poder e arte que dele fazem um dos primeiros, o valoroso João Ferreira, irmão do matador. Na faena de muleta, António João Ferreira fez os possíveis e os impossíveis, passou a vida atrás do toiro mansote e fugitivo, que não quis nada com ele, mesmo assim deixou bonitos apontamentos da arta que lhe corre nas veias e o público dedicou-lhe no final uma carinhosa ovação. Era impossível fazer mais do que ele fez.
Nuno Casquinha enfrentou em quarto lugar e depois de na arena se ter prestado homenagens às ganadarias de Noberto Pedroso e de Manuel Veiga, um toiro de nota alta e que aproveitou da melhor forma. Artista com o capote, poderoso com as bandarilhas, realizou depois uma templada e muito valorosa faena de muleta, reafirmando uma vez mais o muito valor e a imensa raça com que se está a consagrar. É um toureiro importante e o público está a reconhecer-lhe o valor.
Na direcção da corrida, com acerto e competência, esteve o antigo forcado Marco Cardoso, um dos novos "inteligentes", que dirigira já a corrida de Almeirim, tendo ontem estado assessorado pelo médico veterinário Dr. José Manuel Lourenço.
Estavam em disputa os troféus "Engº Jorge Duque" (melhor pega), "Dr. João Duque" (melhor lide a cavalo) e "Fundação Rafael e Maria Rosa Neves Duque" (melhor lide a pé), tendo os mesmos sido conquistados, respectivamente, por Nuno Luís (dos Amadores da Chamusca, primeira pega da corrida), Luis Rouxinol e Nuno Casquinha.
O júri era composto pelos consagrados forcados Carlos Empis e Nuno Megre e pelo médico veterinário Dr. Manuel Romão. E ninguém protestou, antes pelo contrário, a decisão que tomaram.

Fotos M. Alvarenga