segunda-feira, 27 de maio de 2019

Moita foi praça cheia: Forcados foram reis e Rouxinol Jr. virou tudo do avesso!

Era isto que se queria, se exigia e se impunha: a praça da Moita voltou a encher!
João Moura, ainda e sempre, a dar lições, a ensinar e a tratar os toiros por tu
António Telles, maestro de cátedra 
Luis Rouxinol Jr. foi ontem o grande triunfador da corrida da Moita e deu mais
um importantíssimo grito de alerta. Chegou à primeira fila, é já uma estrela
consagrada e a sua presença passa, por mérito dele, a ser exigida a partir de
agora nas grandes corridas da temporada
Enorme a pega de João Luz (Vila Franca) ao primeiro toiro da tarde - que foi
de glória para os dois grupos com seis grandes pegas à primeira
Leonardo Mathias, cabo do Aposento da Moita, estreou-se nestas funções
na sua praça com esta valente pega ao segundo toiro da corrida de ontem
O pegão de Guilherme Dotti (Vila Franca) ao terceiro Palha da corrida
João Ventura (Aposento da Moita) pegando o quarto toiro. Inédito: foi também
chamado a dar a volta à arena o rabejador Luis Fera
Pedro Silva (Vila Franca) na quinta pega da tarde e, em baixo, a pega "do
outro mundo", ao sexto toiro, por Martim Cosme Lopes, que ontem se estreou
no Aposento da Moita, depois de ter deixado o Grupo de Lisboa. Na volta à arena
foi também chamado o primeiro ajuda Martim Carvalho


A Moita encheu - e era o que se queria. Os veteranos Moura e Telles salvaguardaram os seus tronos com a maestria habitual. Luis Rouxinol Jr. foi o triunfador maior e voltou a virar tudo ao contrário. Os forcados de Vila Franca e do Aposento da Moita foram protagonistas de uma tarde de imensa glória com seis duras pegas à primeira. A ganadaria Palha teve mais um triunfo muito sério e até o maioral foi chamado à arena. Melhor era impossível

Miguel Alvarenga - Afinal (poucos acreditavam...) a praça da Moita não foi ao fundo. Ontem encheu (três quartos fortes das bancadas preenchidos) e registou a maior entrada de público dos últimos anos nesta data de Maio. O que levou o público a abandoná-la nos últimos anos e a reencontrar-se com ela na tarde de ontem? A Festa tem destes mistérios. Mas os dois mil bilhetes a dez euros contribuiram para a vitória, sem dúvida. O empresário Levesinho ganhou a aposta. Mais vale uma praça cheia com bilhetes mais baratos que uma praça vazia com preços elevadíssimos. Talvez tenha chegado a hora de repensar tudo isso. O primeiro exemplo foi dado.
Esta foi a primeira grande lição - que todos devem agora aprender e seguir - da corrida de ontem na Moita. A segunda chamou-se Luis Rouxinol Júnior. A sua primeira lide foi brilhante. A segunda foi uma apoteose. Com o mais Palha dos seis Palhas, um toiro sério, exigente, que "metia mudanças" e não autorizava distracções, o jovem Rouxinol pôs tudo do avesso. Começou com uma sorte de gaiola empolgante. Seguiu com uma lide deslumbrante, arriscada, ousada, a pisar a linha de fogo, a cravar ferros imponentes e de uma emoção sem fim em terrenos de alto compromisso, a praça em alvoroço, rendida, entregue ao esplendor da nova figura. Rouxinol marcou a diferença pela entrega, pelo que se arrimou, pela atitude.
É um toureiro importante, subiu a correr para a primeira fila, já marcou uma posição e já ganhou um estatuto que o consagram como um dos primeiros da nova geração de figuras. Que não são muitas. Pelo contrário, o cerco está a apertar-se, eles estão a conquistar terreno. Começa a chegar o tempo de separar o trigo do joio, de montar os cartéis que importam e fazem sentido, já ficaram pelo caminho muitos dos que se apregovam "figuras" e afinal estão já completamente fora do campeonato.
Rouxinol Júnior está agora entre os da frente.
E ontem deu mais um importante sinal de que está este ano com fortíssimas intenções de se distanciar do pelotão. As suas duas actuações na Moita, mas sobretudo a segunda, foram marcos dos que trazem a glória à carreira de qualquer toureiro.
Os toiros de Palha, sem pesos excessivos, com trapio e com exigência, foram toiros, como me dizia o Dr. Pires da Costa, e é mesmo assim, sem tirar nem pôr, que ninguém leve a mal, para "homens com tomates".
E ao lado da nova estrela, os veteranos João Moura e António Telles não deixaram, nunca deixariam, os seus créditos por Rouxinol alheio. Defenderam-nos como heróis. Moura tem lá dentro a sabedoria dos predestinados, é e continuará sempre a ser indiscutivelmente o número um. E quarenta anos depois, ainda trata os toiros por tu. Lide menos exuberante no primeiro toiro, mas sem perder a coroa de rei e actuação que foi lição no quarto da ordem, um toiro que esperava e se impunha e crescia, apesar de na fase final ter começado a procurar o refúgio  nas tábuas - e para o qual também Moura cresceu, lidando-o com maestria. Olé, Toureiro eterno!
António Ribeiro Telles deliciou-nos, como sempre, com a classe da sua maestria. Pode com qualquer toiro, tem argumentos - e cavalos - para todas as situações. Os Palhas, repito, eram toiros de uma seriedade imensa, a pedir contas, a exigir, a impor emoção e a crescer, vinham acima num instante. Telles lidou primorosamente os seus dois, com a garra de quem tem vinte anos e se quer mostrar. Parecia ele ontem um miúdo à procura de afirmação. Que Toureiro, meu Deus!
Sem intervenções excessivas, estiveram bem os bandarilheiros Nuno Silva e Francisco Marques (de Moura), João Ribeiro "Curro" e António Telles Bastos (de Telles), Manuel dos Santos "Becas" e Sérgio Silva (de Rouxinol Jr.)
Reis da tarde foram também os Forcados. Aliás, no que já se viu desta temporada, ela tem sido de grande fulgor e enorme triunfo para os valentes das jaquetas de ramagens em quase todas as corridas que já se realizaram. Ou seja, também no que aos forcados diz respeito, vive-se uma época áurea e de uma glória tremenda.
Seis pegões à primeira, nem um deslize, numa tarde apoteótica para os Amadores de Vila Franca e os Amadores do Aposento da Moita (grupo que regressou em definitivo aos seus melhores tempos).
João Luz (enorme!), Guilherme Dotti e Pedro Silva foram os forcados de cara do grupo vilafranquense, três grandes pegas quer pelo brilhantismo dos referidos, quer pelo poderio e a coesão com que o grupo ajudou em peso nas três intervenções. Pelo grupo anfitrião, grandes pegas do cabo Leonardo Mathias e de João Ventura e uma pega "do outro mundo" de Martim Cosme Lopes, ex-elemento do Grupo de Lisboa que ontem se estreou envergando a jaqueta do Aposento da Moita.
Tiago Tavares foi o director da corrida, exercendo com a maior das competências tal função, tendo estado assessorado pelo conceituado médicos veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.
A Moita voltou acima, Ricardo Levesinho devolveu-lhe a côr, o brilho e o esplendor. Era isso que se queria. A corrida de ontem foi um marco importante para a História da praça "Daniel do Nascimento". Poucos acreditavam que isso acontecesse. Eu, por acaso, acreditava. A Festa tem coisas estranhas. Ainda hoje estou para entender porque não encheu há dois anos, nesta mesma data, quando Rafael Vilhais ali trouxe, mano-a-mano, apenas e só, Diego Ventura e Roca Rey...

Ao longo do dia de hoje, não perca: as pegas uma a uma, os Momentos de Glória e os Famosos que estiveram da Moita - grandes reportagens fotográficas de Mónica Mendes e Miguel Alvarenga.

Fotos M. Alvarenga