sábado, 1 de agosto de 2020

Joaquim Grave fala sobre o regresso da ganadaria ao Campo Pequeno



O ilustre ganadeiro Joaquim Grave fala sobre o regresso dos seus toiros ao Campo Pequeno, já na próxima quinta-feira, 6 de Agosto, uma noite aguardada com a maior das expectativas


Caros amigos e aficionados,

Vivemos um ano de excepção que requer medidas excepcionais. O momento exige solidariedade e sacrifício, sentimentos que sempre foram apanágio da tauromaquia. Não nego que a esperança, pelo menos a minha, levou uma “cornadita”. Mas a ilusão ficou intacta, temos que reagir e lutar sempre como fazem os bravos! O Campo Pequeno, primeira praça do país, tem um novo empresário que com arrojo e galhardia tomou a responsabilidade de levar por diante uma temporada tão atípica. É nosso dever ajudá-lo a manter viva a chama que nos une e que amamos. A melhor forma é ir quinta-feira ao Campo Pequeno.

É com grande alegria e satisfação que Murteira Grave voltará ao Campo Pequeno no dia 6 de Agosto de 2020. Sem falsas modéstias, com um “corridão” de toiros. No Campo Pequeno, Murteira Grave já lidou 274 toiros. Cada corrida que sai de Galeana é para mim um sobressalto de emoção que acompanha um receio de não corresponder ao que os aficionados esperam da corrida. Sempre procurei um toiro de casta, que ataque e não se defenda, um toiro que se entregue no combate e exija um toureio de emoção. Não quero toureio de perfeições, mas sim de emoções. A festa precisa de emoção; num paralelo com a sociedade, não quero um toureio politicamente correcto, mas sonho com um toureio de emoção e rebeldia, de improvisos e capacidade dos lidadores dizerem porque são uns verdadeiros heróis contemporâneos numa época em que, infelizmente, só nos restam os de banda desenhada. Numa arena onde tudo se representa como no teatro, mas tudo acontece de verdade como na vida real. E, eles, melhor do que ninguém, sabem disso. 

Desde aqui, presto a minha singela homenagem aos toureiros que no dia 6 se vão enfrentar aos murteira grave. A Ana Baptista, olé pelos 20 anos de alternativa, confirma, para quem tinha dúvidas, que é um toureiro de verdade e de arte subtil com uma “verguenza torera” que vai escasseando, o Manuel Ribeiro Telles Bastos um verdadeiro príncipe  a cavalo capaz de plasmar que o clássico é sempre belo e de faenas únicas e históricas e o jovem Luís Rouxinol leva dentro a raça que herdou do seu pai, um dos maiores dos últimos 30 anos, e cuja ambição e entrega chegam às bancadas de uma forma clara e emocionante. 

Como ex-forcado, sei o que os dois grupos, de Montemor e Vila Franca, são capazes de fazer. Cada forcado que nessa noite bater as palmas aos toiros tem um valor que esta sociedade lhe custa a entender e reconhecer. É hora de, com orgulho, afirmar os valores e ética que os forcados derramam nas arenas deste Portugal adormecido. Serão protagonistas de uma sorte absolutamente fascinante e merecedora, só por si, de ser cantada pelos poetas sensíveis e atentos. 

Quero para todos eles, cavaleiros e forcados, a melhor sorte do mundo.

 

Galeana, Julho de 2020

Joaquim Grave


Foto D.R.