domingo, 23 de agosto de 2020

Nazaré: uma "mourina", um pegão e muita animação

Resultou em cheio a primeira corrida da temporada na Nazaré. Perante praça esgotada e entregue aos artistas, os triunfos foram repartidos... mas fica no pensamento um "pegão" dos Forcados de Montemor... e uma "mourina" pela mão de João Moura Júnior

Reportagem de Hugo Teixeira e Fernando José (fotos)

A primeira corrida da temporada na castiça e bonita praça de toiros da Nazaré esgotou, dentro das limitações (lotação) impostas pelas normas sanitárias devido à pandemia da covid-19, mas quem assistiu ao festejo saiu satisfeito e a comentar, principalmente, a segunda e última "mourina", desenhada pelo cavaleiro João Moura Jr.

Mas vamos por partes, pois há motivos de interesse.

Os seis toiros de Ascensão Vaz estavam bem apresentados, dispares de comportamento e de peso, mas serviram perfeitamente para a função, tendo, na nossa opinião, calhado em sorte o pior lote ao cavaleiro Luis Rouxinol.

O cartel desenhado por Rui Bento, gestor daquela praça, juntava além de Luis Rouxinol e João Moura Jr., o rejoneador espanhol Andrés Romero, que esteve principalmente em bom plano no sexto e último toiro do festejo. Pegavam os forcados Amadores de Montemor e Amadores das Caldas da Rainha, que obtiveram também assinalável êxito.

Luis Rouxinol destacou-se pela entrega no seu primeiro, estando correcto nos compridos, apenas pecando no sítio do ferro e, nos curtos, com bons recortes e sortes bem preparadas, colocou a ferragem no sítio, destacando-se o terceiro curto a atacar o oponente, numa lide limpa, rematada com um ferro de palmo bastante aplaudido.

No segundo do seu lote, o menos colaborador da corrida, o cavaleiro de Pegões desenhou uma lide com ritmo até o toiro revelar desinteresse pela montada. Rouxinol, com labor e paciência, lá foi construindo faena onde podia, perante as arrancadas de manso do toiro de Ascensão Vaz. Fechou a noite com um bom par de bandarilhas e um ferro de palmo, dando tudo onde havia pouco a tirar.

João Moura Jr., no seu primeiro, destacou-se nos compridos a quarteio e, nos curtos e em curto, lá foi deixando a ferragem, atacando o toiro, tendo assim chegado ao público. Com bons remates das sortes, bem ao jeito da Casa Moura, o de Monforte deu também nas vistas com a sua brega e pela forma como conduziu o toiro ao correr das tábuas. Fechou a lide do primeiro do seu lote com um palmito, bem junto a tábuas.

No seu segundo, a música foi outra... Novamente bem nos compridos, Mourinha puxou para os curtos o cavalo Aquiles, dando primazia aos ferros de praça a praça, não tendo sempre essa sorte saído como sonhara. Mudou a estratégia, foi buscar o cavalo Hostil e aí alcançou o êxito! A ladear, perante um toiro que pedia a toda a hora tábuas, Moura Jr. executou duas vistosas "mourinas", sortes com o selo da casa, tendo a última, junto a tábuas e em terrenos de compromisso e com o toiro a adiantar-se, resultado numa soberba e vistosa sorte. Quanto a nós, o momento alto da cavalaria. Com o público rendido e a pedir mais um ferro, João Moura Jr. agradeceu os aplausos e saiu (e bem) de cena.

Andrés Romero é um rejoneador a ter em conta no "campeonato". Por vezes puxa do "número do caballito" mas, quando é a sério, sabe e faz bem.

No seu primeiro deixou algumas passagens em falso, mas nada que tenha desluzido as sortes que em seguida desenhou, destacando-se o terceiro curto, cravado em curto. Os adornos também fizeram parte da actuação, tendo fechado com uma "levada" que só foi "perdoada" pelo ferro que cravou de seguida, numa lide que veio em crescendo.

No seu segundo e último toiro da noite, destacamos os cites picados e a atacar o toiro, tendo o quatro curto resultado em grande e justificado uma enorme ovação. Pisou terrenos de compromisso, cravou ferros com batida ao píton contrário, tendo o conclave atribuído justíssimas ovações. A rever, este toureiro por terras lusitanas.

Mas a noite também foi de êxito para a forcadagem. O grupo de forcados Amadores de Montemor brilhou bem alto com uma pega de Vasco Ponce ao primeiro intento; outra de João Vacas de Carvalho à terceira tentativa; e a pega da noite (um pegão!) de José Maria Marques, que se fechou que nem um leão na cara do toiro ao primeiro intento. Destaque ainda no grupo alentejano para o primeiro ajuda António Cortes Monteiro, que é um Senhor Forcado e que marca cada pega em que está em praça pela sua eficiência e entrega. Olé!

Pelo grupo de forcados Amadores das Caldas da Rainha foram solistas Duarte Manoel à segunda tentativa; Francisco Estêvão, que esteve enorme ao concretizar ao terceiro intento; e Lourenço Palha, que à primeira fechou a noite.

A corrida foi dirigida com acerto por Ana Pimenta e o público cumpriu com civismo todas as indicações dadas para sair do recinto, para evitar confusões. Aliás, falamos de um público exemplar, que leva alegria à praça, aplaude e assobia quanto baste e que vai aos toiros à Nazaré principalmente para se divertir!

Ah... e antes de sair da praça, lá se cantou o Hino. E bem!

Rui Bento ganhou assim mais uma aposta nesta primeira da época e ficou assim também o gostinho na boca para regressar dia 5 de Setembro à Nazaré, pois aqui, sim... não há festa como esta!

Com o pior lote, Luis Rouxinol deu tudo onde havia pouco a tirar
O melhor da noite foi a "mourina" de João Moura Jr.
Andrés Romero é um rejoneador a ter em conta no "campeonato"
Montemor marcou a noite com um "pegão" de José Maria Marques
Excelente noite também dos Amadores das Caldas da Rainha