terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Emílio, a vida continua, mas sem ti não é igual...

Miguel Alvarenga - Sei lá por onde andas, Querido Emílio, se nos vês, se não vês, se já encontraste por aí o Bastinhas, o Cortesão, o Andrade Guerra, o Simão Comenda, o José Júlio, o Mário Coelho, se é ou não é verdade que "há vida para lá da morte", se tens estado com o nosso Comandante...

Passam hoje três (longos) anos desde que te foste embora. "Que Deus abençoe o Santiago", que tinha nascido há três meses, foram as últimas palavras que me disseste no Hospital da Luz e depois apertaste a minha mão e no teu olhar vi um sorriso, um sorriso meio nervoso, mas que era o teu sorriso de sempre. Bondoso, carinhoso. Foi uma despedida.

Olha, o Santiago já tem três anos, já fala e diz tudo, é super inteligente, um amor, adoravas ter conhecido este teu outro "neto". A Maria Ana e o Gui também, a Fatucha igual, já passou a covid por eles todos, a minha Mãe resiste, óptima, graças a Deus. E muitas vezes falamos de ti. Tantas. O meu irmão Nuno também. Sabes como ele gostava imenso de ti.

Eu às vezes ainda choro. Apetece-me, quando sinto que me fazes falta. Adorava ver as tuas reacções se tivesses vivido estes tempos da pandemia. Já não batias bem, agora devias andar eufórico, preocupadíssimo, cheio de máscaras e com luvas sobre luvas nas mãos. 

Pelo mundo dos toiros, está tudo na mesma, como a lesma. E eu estou quase de partida, acho, ainda não pensei bem, mas tenho imensos projectos para cumprir e estou cansado desta lufa-lufa taurina, sempre igual, quase sempre mais do mesmo. Fazes cá falta para ouvir os seus conselhos. Nisso eras mestre e acertavas sempre. "Faz assim, faz assado, Miguel". E eu seguia-te.

E tenho saudades das nossas viagens para as touradas. Foram tantos anos ao teu lado, éramos uma dupla fantástica. Viagens, caminhadas, sempre a ouvir fados, a cantar e a rir. Saudades da nossa loucura, das nossas parvoíces que deixavam meio mundo de boca aberta, "estes gajos são doidos" e tu dizias "esta gente não está formatada para a nossa doidice". E ríamos. E seguíamos.

Tenho falado com a Fernanda, com o Huguinho, tenho sabido do Bruno e dos teus netos, que adoravas. A vida continua. Mas sem ti não é igual. Nunca mais voltou a ser igual.

Fotos M. Alvarenga e Fernando Clemente