quinta-feira, 28 de julho de 2022

Exclusivo: fala Daniela Lázaro, a activista anti-taurina que há uma semana saltou à trincheira do Campo Pequeno

Daniela Lázaro numa acção na cidade do Porto, onde já é
conhecida por se manifestar sózinha contra os mau tratos 
a animais

Miguel Alvarenga - Chama-se Daniela Lázaro, é a activista anti-taurina que há uma semana tentou saltar para a arena do Campo Pequeno juntamente com o holandês Peter Janssen, mas ficou-se pela trincheira. Detida pela PSP com o parceiro, estiveram até às quatro da madrugada na esquadra, foram identificados e sairam em liberdade. Apresentaram também ambos queixa contra os homens dos toiros por agressão e ela por "assédio sexual".

"Quando me levaram da trincheira, apesar de ir com um agente da Polícia, alguns homens puxaram-me o cabelo, bateram-me na cabeça, deram-me estalos e depois encostaram-me no túnel (corredor) da praça e puxaram a minha roupa interior, apalparam-me, meteram as mãos dentro das calças. Foi horrível sentir o desrespeito dos homens por uma mulher. Afinal, os homens dos toiros não são só violentos com os animais, também o são com os homens e as mulheres, isso é lamentável. Apresentei queixa", afirma Daniela. E acrescenta:

"Não é necessário espancar os activistas desta forma, nós somos pacíficos, não usamos violência. Trinta homens contra uma mulher? O Peter foi brutalmente espancado e levou murros à minha frente, eu vi".

- Reconheço, reconheci sempre, não sou primário, que vocês têm o direito de não gostar de touradas e de protestar. Se todos gostássemos da mesma coisa, o mundo não teria piada nenhuma... Mas não têm o direito de vir prejudicar um espectáculo, de invadir o redondel.

- Mesmo que diga que não podemos estar ali, isso dá-lhes o direito de fazer o que nos fizeram, de tocar numa mulher sem respeito nenhum? Se fosse a vossa mãe, a vossa mulher, a vossa filha, gostavam?

- Não vi, não posso dizer se é verdade que lhe tocaram...

- Mas garanto-lhe eu e muita gente viu. Por isso apresentei queixa. Quando me levavam da trincheira, houve um senhor que me defendeu, não sei quem era, com alguma idade, que disse para não me tocarem nem me baterem e eles respeitaram-no. Mas depois, quando fui para o corredor, esse senhor já lá não estava e houve vários que me apalparam. isso nunca se passou em nenhuma outra parte do mundo. Nós somos pacíficos, repito. Não usamos a violência nas nossas acções.

- Já tinha saltado a outra arena?

- Não. Vivi doze anos em França, onde iniciei a minha luta pela defesa dos animais. Hoje vivo no Porto, onde sou conhecida por levar a cabo, sózinha, acções contra o mau trato dos animais.

- Pertence ao grupo do holandês Peter Janssen?

- No Porto, como lhe disse, sou conhecida por fazer acções sózinha com a Justice, uma personagem que criei e que mostra imagens de maus tratos a animais. Trabalho com várias organizações internacionais, sou organizadora dos Anonymous for de Voiceless/Gaia, trabalho para o Save Mouvement Portugal Animal Rebelion, para a Acção Directa/Portugal e represento em Portugal o Vegan Strike Group, a que aderi há alguns meses e a que também pertence o Peter Janssen. Mas o que prefiro fazer, e tenho feito, é dar palestras e divulgar os nossos ideais.

- Na esquadra da PSP, segundo apurei, apresentaram-se os dois como namorados, é verdade?

- Não sou namorada do Peter Janssen, somos parceiros da mesma luta. Sou activista, há muitos anos que luto pelos direitos dos animais, já o fazia em França e tenciono continuar a fazê-lo em Portugal.

- Tem ligações com o PAN?

- Óbvio que estou associada ao PAN, já participei em acções do partido.

- Vocês são contra, mas muitas vezes falam do que não conhecem...

- Somos contra a violência contra os animais. As touradas são um espectáculo público, sabemos perfeitamente do que falamos. Tenho os meus valores e respeito o ser humano, todos nós podemos errar, somos todos diferentes, mas tão iguais. O meu coração é grande e eu faço das tripas coração pela defesa dos animais, como o Peter faz. Respeito o seu trabalho e por isso aceitei falar consigo, embora estejamos em polos contrários. Penso que a comunicação e o entendimento são essenciais para um mundo melhor. Independentemente das nossas escolhas, gostos e opiniões, somos todos seres humanos. Pode ser que um dia troquemos mais opiniões. Como vê, é possível ter uma conversa decente com uma activista vegan! Independentemente das nossas divergências, podemos todos dar-nos bem e é por isso que eu lamento imenso a violência que usaram contra mim e contra o Peter na semana passada no Campo Pequeno.

- Aceitava um convite para vir a uma tourada?...

- Claro que não! Mas tenho que admitir que tenho curiosidade em saber como um verdadeiro aficionado pensa. Desejo-lhe um bom trabalho e mantenho-me ao dispor para qualquer dúvida ou esclarecimento que necessite. Não uso violência, mas antes a compaixão e o amor pelos animais. Não usamos lanças de ferro para vos espetar, mas sim bandeiras cheias de esperança pela libertação dos seres que são usados para entretenimento. Pelo que já fizeram ao Peter em outras praças de toiros onde saltou e pelo que me fizeram a mim desta vez, senti mesmo que o público das touradas é perigoso e lamento imenso que assim seja.

Fotos D.R.

Daniela Lázaro numa acção do PAN e, em baixo, duas fotos do
momento em que era retirada da trincheira, há oito dias no
Campo Pequeno e do momento em que Peter Janssen era
manietado na arena