segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Corrida marcante ontem em Montemor e Moura Jr. a empolgar com duas lides de antologia!

Miguel Alvarenga - João Moura Júnior (fotos de cima) brindou ontem os aficionados que esgotaram a praça de Montemor-o-Novo com duas lides de antologia a dois grandes toiros de São Torcato cuja excelente qualidade foi premiada pelo director de corrida Agostinho Borges com a honra de voltas à arena (segundo e quinto toiros da tarde) do ganadeiro Joaquim Alves com o cavaleiro de Monforte e os forcados de Montemor, no quinto também com os Campinos.

Decisão, atitude (duas portas gaiolas) e maestria marcaram a diferença e reafirmaram Moura Júnior, indiscutivelmente, como a primeiríssima figura do toureio a cavalo na actualidade. A História repete-se, mais de quarenta anos passados sobre a revolução do "Niño Moura", seu pai.

Tranquilo, poderoso, dominador, genial, João Moura Júnior mostrou ontem em duas lides magistrais o melhor da sua imensa arte, do seu temple, do toureio de risco e ousadia - que marcam a sua história e a da sua tauromaquia. Única. A praça veio abaixo!

Foram duas lides de verdadeiro assombro, a mostrar quantos anos luz está à frente do pelotão este toureiro de outra galáxia, duas actuações notáveis, daquelas que não se descrevem, sentem-se, aplaudem-se e ficam para sempre nas nossas memórias.

João Moura Júnior, como o Maestro seu pai naquela histórica recta final da década de 70, a marcar a diferença e a reafirmar de modo indiscutível que é dele o trono do toureio equestre nacional. Deu, como atrás referi, as voltas à arena nos dois toiros acompanhado pelo ganadeiro e pelos forcados e no primeiro toiro teve ainda chamada especial ao centro da arena para o premiarem com uma estrondosa ovação, a maior da tarde.

A corrida de ontem em Montemor-o-Novo, fruto da ousadia empresarial de Paulo Vacas de Carvalho - que voltou assim a honrar a memória do seu inesquecível parceiro Simão Comenda - foi uma corrida marcante e rodeada de um ambiente incrível, com lotação esgotada. O público, entusiasta, exigente e conhecedor, viveu ali aquela que foi uma das maiores tarde de toiros da temporada.

Moura Júnior foi a diferença. Mas teve ontem dois competidores de "primeira apanha" e a que também ninguém ficou indiferente: Luis Rouxinol, maestro com 35 anos de alternativa, verdadeiro campeão da regularidade, que uma vez mais deu o melhor de si e voltou a conseguir "não estar mal" (só sabe estar bem!); e Francisco Palha, já eleito pelos aficionados que o seguem de praça em praça - e pela crítica - como um dos grandes triunfadores desta temporada.

Luis Rouxinol lidou acertadamente e com a sua habitual maestria o primeiro toiro da tarde, que não foi fácil e exigiu muita entrega e esforçado labor do cavaleiro. Mas como quem sabe, sabe, o Maestro esteve em grande. O quarto toiro foi exigente e mais complicado. E com este exemplar de São Torcato, Luis Rouxinol esteve verdadeiramente magistral e "à antiga", impondo a sua raça, a sua experiência, a genialidade com que torna o difícil fácil. Lide de valor, a pisar terrenos de compromisso, que terminou com um monumental par de bandarilhas e ainda um palmito em sorte frontal, a dar toda a prioridade ao oponente.

Francisco Palha recebeu os seus dois toiros com empolgantes sortes de gaiola, tal como o fizera na última corrida de Lisboa, marcando as suas intervenções pela decisão e pela atitude - próprias dos eleitos. Frente aos seus dois toiros, esteve enorme e a galvanizar com ferros em que pisou a linha de fogo e marcou a verdade imensa do seu toureio. Falhou dois curtos na primeira lide, mas foram dois falhanços (acontece) que acabaram por não retirar brilhantismo a uma actuação enorme que, não atingindo a perfeição, atingiu contudo o patamar de um triunfo a todos os títulos empolgante e notável.

Melhor na última lide, aqui sem quaisquer falhas, Francisco Palha levantou o público das bancadas com ferros de tremenda emoção, em sortes frontais com ligeira batida ao píton contrário, a entrar pelo toiro dentro com aquela raça e aquela genialidade com que está a marcar esta temporada de muitos triunfos e completa consagração. É um dos primeiros. E ontem voltou a demonstrá-lo em Montemor.

Aplausos (merecidos) para os seis bandarilheiros que ontem actuaram em Montemor: Ricardo Alves e João Bretes, João Ganhão e João Oliveira, Diogo Malafaia e Jorge Alegrias.

Contribuíram decisivamente para o grande êxito da corrida os toiros de São Torcato, do ilustre ganadeiro Joaquim Alves. Toiros sérios, a transmitir emoção e a exigir, toiros "com teclas" e que "metiam mudanças" na hora de investir, sem pesos exagerados, com apresentação reconhecidamente aceitável. De nota alta os segundo e quinto, mas na generalidade todos eles a proporcionar triunfos aos cavaleiros e sem fazer grande mal aos forcados, permitindo, à excepção do sexto, pegas emotivas (uma de cernelha) à primeira tentativa, com o grupo, como manda a lei, a "ajudar à Montemor", com eficiência e grandeza e a reafirmar o valor enorme dos fantástico forcados de cara e dos eficazes primeiras-ajudas. Um grupo à antiga!

Despediram-se ontem três forcados que fizeram história no glorioso grupo dos Amadores de Montemor: João da Câmara, forcado poderoso e sempre eficaz, com uma grande pega ao terceiro toiro da tarde; e os valorosos primeiros-ajudas Nuno Campelo e João Megre Pires. Foram embora, mas deixaram para trás muitas páginas de glória - escritas ao longo de anos nas arenas, a honrar e a engrandecer a nobre jaqueta dos montemorenses.

As seis grandes pegas da corrida foram executadas, como já aqui referimos e a seguir vamos mostrar com as sequências fotográficas de cada uma delas, por Francisco Bissaya Barreto, Vasco Carolino, João da Câmara, António Cortes Pena Monteiro, o cabo, e Francisco Godinho numa cernelha ao quarto, Vasco Ponce (todos ao primeiro intento) e pelo histórico Francisco Maria Borges, este à terceira tentativa, frente ao sexto toiro, que derrotava com violência e o tirou duas vezes da cara, acabando por concretizar com as ajudas carregadas, bem, mas desta vez sem o brilhantismo usual que o caracteriza.

Houve brindes dos forcados aos três companheiros que ontem se retiraram, à banda e ao antigo e mítico cabo João Cortes - a quem seu neto António Pena Monteiro dedicou a pega de cernelha. Rouxinol brindou a primeira lide aos Amadores de Montemor, Moura Jr. brindou a sua segunda actuação ao antigo e recordado forcado João Freixo e Francisco Palha dedicou a primeira intervenção ao empresário Paulo Vacas de Carvalho.

Tarde grande, a marcar a temporada. Corrida bem dirigida pelo antigo forcado Agostinho Borges, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário, também antigo elemento do grupo, Feliciano dos Reis.

Praça cheia - esgotada! - a manter a tradição!

Fotos M. Alvarenga

Luis Rouxinol: quem sabe, sabe!
Francisco Palha e a imensa verdade do seu toureio de
emoção e alto (íssimo!) risco!