Luis Miguel Pombeiro, gestor taurino da praça do Campo Pequeno e de outras, publicou na sua página do Facebook este longo (mas importante) texto, onde faz um balanço da temporada e deixa a antever um futuro cheio de esperança. Agradece aos que estiveram e estão a seu lado, garante que não é um testamento e muito menos uma despedida. E deixa alguns "recados" a quem de direito. Leiam que vale a pena.
Acordei de uma noite de pouco sono... Os últimos dias antes de uma corrida são sempre de sobressalto e de pouco dormir. Sempre com as costumeiras preocupações de se está tudo em ordem ou se há alguma falha. Hoje a regra manteve-se mas o denominador principal situa-se na adesão do público. Será que o Campo Pequeno tem gente? Será que depois de dois anos de pandemia manterá o nível de adesão deste ano de guerra e de inflacção? Falhei nalguma coisa?
Não se consegue agradar a todos. Dos gregos e troianos da nossa Festa, dos velhos do Restelo e de alguns maldizentes militantes sei que nestes anos nada podem apontar em termos de Toureiros, nos toiros apresentados, nos Forcados escolhidos. Veio ao Campo Pequeno quem quis e quem pôde, já o afirmei. Assim foi e assim será. Nestes anos, novos amigos vieram, uns por bem outros por interesse. Normal que assim seja. Deixei de ter guerras e até surpreendentemente alguns que eu pensei serem sempre contra mim ajudaram-me e mostraram que o nosso lado cristão e católico pode e deve funcionar.
Nestes anos o meu objectivo principal foi defender a Tauromaquia e as praças que geri. Assim o fiz arrancando com a primeira corrida mundial em plena pandemia na praça de Estremoz. Em Lisboa, com o pára arranca do vírus e com as alterações constantes e imprevisíveis de datas, cumpri sempre o que prometi sem deixar corridas para o ano seguinte não defraudando os abonados. Não subi os preços tendo apanhado a subida do IVA para 23%. Este ano desci alguns e podem ver corridas por 10,00 euros! E são mil bilhetes...
Dos cartéis que elaborei estou orgulhoso! Assumo que tive erros! Assumo que não sou, nem quero ser, perfeito. Deveria e devo no futuro ouvir ainda mais os aficionados e talvez explicar-lhes porque não veio fulano ou porque não pôde vir beltrano. Porque há quem não queira vir. E há quem pense no Campo Pequeno apenas para o dia a dia de vir tentar sacar o que puder e não se preocupar com o futuro do mesmo. Mas isso são outros filmes que estão produzidos e editados mas, por mim, não terão ante-estreia nem virão para as praças públicas. Mas estão mais que documentados...
Hoje o dia está com pouco sol. Não chove, mas a verdade é que nos faz falta. O meu sol hoje será o público dentro da nossa Catedral. O calor humano , os sorrisos, as palmas e ovações são o sol que iluminará o nosso futuro. Mais uma vez, tal como sempre, estarei na Capela da praça rezando para que ninguém se magoe. E agradecendo a adesão do público. Confesso que tenho fé e esperança que o Campo Pequeno tenha uma grande casa. Sonhei que poderia ser a melhor do ano.
Mesmo contra as "previsões" de alguns que defendem a política da terra queimada. São sonhos e somente sonhos. Mas o sonho comanda a vida e se eu não fosse um sonhador não teria embarcado neste navio.
Desde já agradeço a todos os que já compraram os seus bilhetes e a todos aqueles que hoje ainda o farão. É por eles que sonho e é por eles que o meu stress permanente me obriga a estar medicado com cortisona que me incha e não me deixa descansar. Não me estou a queixar. Porque acima de tudo faço o que gosto. E isso é mais importante que tudo o resto!
Agradeço também a quem comigo trabalha: o meu filho Guilherme com que discuto todos os dias; a equipa de publicidade que é a melhor do mundo e que me aturam nos meus desvarios e exigências; à Carla e à sua equipa; ao Pedro e às suas preocupações com os toiros; ao Miguel, que com a sua paixão escreve, descreve e promove a Festa de forma ímpar; ao João, que sendo mais novo e tendo sangue na guelra tem vindo a crescer e a afirmar-se com ouro; ao Rui, que com o seu site ajuda bastante a chegar a outros públicos; ao Lúcio, meu companheiro de burladero e a voz da Catedral ; ao Armando e à Joana que nos meios generalistas promovem a Festa; à Joana Pina, que me vai transmitindo a sua calma , serenidade e profissionalismo; ao João (Meu Caro Director) que com o seu profissionalismo me ensinou muito e que respeita a Tauromaquia e apenas quer o sucesso do Campo Pequeno a todos os níveis; ao André, que me atura com as "mexidas e alterações" dos cartazes ; as equipas Médicas que tudo fazem por todos nós; ao meu Tio Pedro, meu médico, meu amigo, meu irmão mais velho que muito me atura; à minha Família, que têm sido os mais sacrificados pela minha ausência (prometo que os compensarei, não como quereriam, com viagens e destinos de paraíso, porque esta paixão em que trabalho não dá para isso mas uns dias em Arronches lá iremos); aos Toureiros, Forcados; aos Ganaderos que têm acreditado e apostado e que são inexcedíveis na apresentação dos seus toiros e o gosto que têm em lidar na primeira praça do país; aos políticos livres que defendem a liberdade das nossas paixões e os nossos sentimentos; ao público que tem comprado o seu bilhete, muitas vezes com sacrifício, mas que não quis deixar de estar presente. A todos os que aqui estão e aos que faltam, mas sabem que o meu agradecimento os inclui, o meu Bem Haja!
Hoje, o Campo Pequeno terá homenagens, terá a presença da Casa Real de Portugal, terá Toureiros e Toiros escolhidos escrupulosamente. Encaro o dia de hoje como mais uma etapa deste meu caminho. Mais uma batalha para se conseguir ganhar a "guerra". A “guerra” não pode nem deve ser contra ninguém! Porque os tempos e as vontades mudaram e essa realidade tem de ser aceite, analisada e repensada para podermos alcançar o caminho certo para para o futuro. E o futuro passa também por mim mas juntos seremos mais fortes!
Não sonho com casas cheias só para mim: espero sempre que todas as corridas tenham gente. As Feiras que se avizinham e que estão extremamente bem montadas, as corridas do fim-de-semana por todos o país. Este meu longo desabafo que muitos dirão que ninguém lê porque não está curto nem incisivo e que vai contra todas as regras dos trates a atingir é, como disse, apenas um desabafo. De quem dá tudo pela Festa com alegria, paixão, sentimento. De alguém que erra e sabe reconhecer os erros. De alguém que sofre demasiado com o dia a dia da Festa, com o seu futuro.
Hoje tenho de agradecer também à Causa Real e a SAR D. Isabel de Bragança pela sua presença. Mais uma vez a demonstração de que respeitam os valores e as tradições de Portugal. Que outros apenas se souberam servir, mas que depressa esqueceram. A minha completa e profunda decepção para com o nosso Presidente, que foi por diversas vezes convidado a estar presente no Campo Pequeno mas nunca se comprometeu e, como tal, não ficará para a história como o Presidente de todos os portugueses...
Hoje, sem sol mas com calor, e com esse brilho que só o Campo Pequeno, possui teremos uma grande noite de toiros. Se não tiver uma boa casa, a culpa é apenas e exclusivamente minha. Mas a esperança não morre e como diz o fado "eu sonho muitas vezes acordado".
A todos o meu bem haja e espero por todos Vós logo à noite na Casa de Cultura Campo Pequeno!
Luis Miguel
PS - Atenção: Não é uma despedida! Ainda têm que "levar" comigo enquanto a saúde me permita...
Foto M. Alvarenga
