segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Vendaval "Tomás" passou pela "Palha Blanco"

Publicamos, com a devida vénia e a autorização da empresa de Bernardo Alexandre, a crónica da corrida de ontem em Vila Franca, da autoria do antigo e recordado forcado vilafranquense Paulo Paulino, com a autoridade que lhe confere o estatuto de figura e conhecedor aficionado, crónica esta dada à estampa no site da nova empresa da "Palha Blanco"

Paulo Paulino/www.palhablanco.pt - A praça de toiros "Palha Blanco" em Vila Franca de Xira abriu portas neste domingo, 5 de Outubro de 2025, para a sua tradicional corrida mista de domingo de Feira, com uma alteração forçada do cartel inicialmente previsto, mercê da impossibilidade do toureiro espanhol David de Miranda estar presente, por motivo de uma colhida sofrida em Las Rozas, província de Madrid, na tarde do dia anterior.

A solução encontrada pela empresa foi a de adicionar duas lides a cavalo, em detrimento de contratar um matador alternativo, ante a impossibilidade de, em tão curto espaço de tempo, conseguir garantir a presença de uma "figura" do mundo taurino que não retirasse nível ao cartel planeado.

Foi assim, perante uma "casa" cheia, embora sem esgotar, que ecoou a Maria da Fonte pelas 18 horas de um dia ensolarado e de temperatura bastante "simpática" para a época do ano. No cartel definitivo, os cavaleiros Francisco Palha e Tristão Ribeiro Teles e o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira enfrentavam-se com quatro toiros, enquanto o novilheiro Tomás Bastos, lidava dois novilhos, sendo todos oriundos da ganadaria Murteira Grave.

Antes do início do evento, momento para se prestar um simbólico tributo com aplausos ao recentemente retirado bandarilheiro de Vila Franca de Xira, Rui Plácido, que foi à arena agradecer a homenagem prestada pela "Palha Blanco".

O primeiro toiro da tarde, para o cavaleiro Francisco Palha, foi anunciado com 460 quilos e 5 anos, com boa cara e apresentação. Genericamente procurou bastante os médios em detrimento de colaborar na lide que o cavaleiro lhe tentou impor e só a rasgos se interessou pela ligação com o cavalo. Francisco Palha, que brindou aos restantes alternantes do cartel, Tristão Ribeiro Telles e Tomás Bastos, iniciou a sua lide com três compridos, com os dois iniciais de qualidade, mas o terceiro, apesar da excelente preparação, acabou por originar um toque no cavalo no momento da sorte, antes de recolher para troca de montada. Voltou das cavalariças e entrou com ganas, obrigando o toiro a segui-lo num ladear muito bem conseguido, para sair a cravar no primeiro curto com mais um toque em frente aos curros, seguido de um desastroso segundo curto. No resto da lide acabou por cravar mais dois curtos a cumprir, mas já sem toiro nem moral para conseguir mais que um resto de lide sem história.

Para abrir a actuação do Grupo de Vila Franca, foi escalado como forcado da cara, Rodrigo Camilo. O forcado esteve competente no cite, sempre a criar atenção no "desinteressado" oponente, mandou como devia na investida do toiro e reuniu para uma viagem grupo dentro, culminando com sucesso uma pega em que se pode considerar que nem toiro nem forcados complicaram.

O forcado Rodrigo Camilo apenas agradeceu nos médios, tendo Francisco Palha recebido uma ovação. 

O segundo toiro que saiu à praça nesta tarde, para o cavaleiro Tristão Ribeiro Telles, foi anunciado com 550 quilos e 4 anos de idade. Toiro com melhor apresentação que cara, sem ser um primor de bravura acabou por cumprir na lide. O cavaleiro do eixo Pancas - Torrinha abriu com uma bem conseguida sorte de gaiola a empolgar o conclave, um segundo bom comprido a aproveitar a boa investida do Grave e após trocar de montada reabriu com um bom ferro em batida ao piton contrário, a iniciar a série de curtos e rematando com um excelente ladear de praça completa, o que fez com que a música ecoasse na "Palha Blanco". O segundo curto resultou bastante bem para cavaleiro e toiro que continuava com boa investida e o terceiro curto foi o repetir da dose do curto inicial, embora noutros terrenos, altura em que se ouviu a primeira grande ovação desta tarde na "Palha Blanco". Entretanto o toiro mudou de estado e perdeu o fulgor inicial que havia apresentado, não dando grande brilho ao quarto curto da lide e nesta altura o Tristão talvez tenha perdido a oportunidade de se retirar com uma imagem bem mais positiva, visto que insistiu em cravar mais um curto, que nada adiantou à lide e com uma passagem em falso pelo meio. 

A segunda pega da tarde para o Grupo de Vila Franca, teve como forcado da cara Lucas Gonçalves. Na primeira tentativa, teve de subir a terrenos "proibidos" para tentar que o toiro investisse e apesar de o ter conseguido e de aparentemente ter também conseguido sacar-se desses terrenos com sucesso, já não lhe foi possível resistir a uma dupla mangada do toiro já quase em terrenos do grupo. Na segunda tentativa, já com o toiro um pouco mais fora de tábuas, nunca se fechou após reunir e acabou derrotado. Na terceira tentativa, o primeiro ajuda Diogo Duarte reduziu distâncias do forcado da cara e tal veio a ser crucial para aguentar os derrotes fortes do toiro que, entretanto, já se defendia bastante após a reunião. Tratou-se de uma pega dura em que o forcado da cara e o resto do grupo tiveram de se empregar para resolver.

No final, volta para Tristão Ribeiro Telles e para Lucas Gonçalves.

O novilheiro Tomás Bastos lidou o novilho que encerrava a primeira parte da corrida, anunciado com o peso de 425 quilos e 3 anos de idade, com pouca cara, uma apresentação aceitável para novilho e que durante a lide mostrou melhor apetência para uma lide pela direita, sendo algo áspero nas investidas pela esquerda. Recebeu o novilho com uma afarolada de joelhos, uma boa série de verónicas e culminou o tércio de capote com lances por gaoneras. A sua quadrilha bandarilhou apenas dois pares, embora apenas o primeiro par tenha sido conseguido com qualidade. Tomás Bastos iniciou o tércio de muleta recebendo o toiro com muletazos de joelhos, ao bom estilo "tremendista" e logo aí exaltou a bancada, embora pedindo para silenciar a música que já havia sido concedida. Prosseguiu a sua lide com duas boas sequências de passes pela direita e após uma série de naturais bem conseguida, achou que a música já seria merecida. Recreou-se com o novilho através de uma série de quatro derechazos completamente redondos que levantaram a praça, tendo culminado a lide com um quite por bernardinas de nota elevada. Estava criado o ambiente para a sua segunda lide.

No final, volta muito aplaudida para Tomás Bastos.

A abrir a segunda parte da corrida, Francisco Palha lidou um toiro de 540 quilos e 5 anos, um bragado corrido de apresentação irrepreensível, mas que se veio a revelar pouco colaborante durante a lide. O início da sua actuação ainda foi prometedor com dois bons compridos, sendo o primeiro rematado de modo poderoso com o Francisco Palha a aguentar a forte carga do oponente e após cravar o segundo comprido, trocou de montada. A partir daqui a lide entrou numa espiral de sentido negativo, com um primeiro curto pouco conseguido, seguido de um ferro falhado e nova troca de montada. Um bom terceiro curto foi praticamente o culminar da lide, visto que a perigosidade e pouca colaboração do toiro juntou-se à falta de inspiração do Francisco para contornar o problema e desta vez, nem toda a arte que este toureiro inegavelmente possui foi capaz de reverter a situação.

O Grupo de Vila Franca saltou à praça para a sua terceira actuação da noite, tendo como forcado da cara Guilherme Dotti. Com grande mestria, observou até onde o toiro seguia no seu chouto inicial, mandou para o obrigar a investir mais franco, deixou o toiro fixá-lo aguentando uma enormidade e recuou apenas o mínimo indispensável para se fechar com grande poder a aguentar a mangada alta com que o toiro o tentou desfeitear sem sucesso, entrando este pelo grupo dentro com grande poder mas a encontrar uma grupo que mostrou uma tremenda coesão a ajudar e a parar a forte investida já junto às tabuas, numa pega de nota elevada.

Volta concedida ao forcado Guilherme Dotti, que apenas pretendia agradecer nos médios, mas que o público "obrigou" a dar volta com grande aclamação. 

A lide equestre desta tarde culminou com a actuação de Tristão Ribeiro Telles, frente a um excelente Grave com 500 quilos e 5 anos. Não sendo o toiro de melhor apresentação, acabou por ser o que mais condições de lide e nobreza disponibilizou, permitindo um triunfo rotundo ao jovem cavaleiro. Após uma tentativa de sorte de gaiola que não resultou, cravou dois compridos de boa nota e trocou de montada. Após uma preparação bem cuidada, iniciou a ferragem curta com um primeiro curto obtido em viagem frontal a entrar pelo toiro e após um bom segundo curto a música já ecoava na "Palha Blanco". O toiro colaborava com uma investida alegre e empregava-se nas sortes. O terceiro e quarto curtos foram de excelência, com toiro e cavaleiro a enfrentarem-se nos médios e o Tristão a rematar com mestria as suas sortes. Desta vez houve sintomas de crescimento e sensatez visto que o cavaleiro soube quando devia sair, não tentando prolongar uma já conseguida boa lide.

Para encerrar a atuação do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, saltou para a cara deste último toiro o forcado Rodrigo Andrade. Carregou e mandou no momento que era oportuno, recuou na medida certa e apesar de alguma imperfeição ocorrida na reunião, o forcado fechou-se com o poder necessário para aguentar uma viagem que fugiu para a direita do grupo, sendo que no início foi sendo apenas aconchegado pelo primeiro ajuda Rodrigo Dotti, até que o resto do grupo conseguiu recuperar e fechar com sucesso uma boa pega.

No final, volta para Tristão Ribeiro Telles e Rodrigo Andrade.

Ao novilheiro Tomás Bastos coube encerrar a corrida desta tarde, frente a um novilho com 440 quilos, 3 anos, um negro zaino com pouca cara, mas de boa apresentação e que cumpriu extraordinariamente nesta lide, permitindo o triunfo da tarde ao jovem novilheiro. Recebeu de capote com boas verónicas e chicuelinas. Saltou para bandarilhar, com dois bons pares iniciais e um terceiro par com um quiebro a receber que ficou incompleto. Na muleta recebeu o novilho a baixar-lhe a cara. Após isto, Tomás abriu o reportório. Começou por citar de largo, foi reduzindo espaços e sentia-se a alegria da investida do novilho em cada lance, entrava bem pela direita ou pela esquerda. Após a primeira série de naturais, a banda tocou. Tomás deu então um recital de passes, de valentia e de arte em movimento, com meias investidas a parecerem momentos infindáveis e com o público em polvorosa. Antes de simular a estocada houve tempo para umas manoletinas. Ainda um pormenor delicioso durante a recolha do novilho, que teimava em não recolher; o novilheiro foi-lhe dar uns passes e entrou curros dentro, recolhendo ele o novilho em definitivo! 

No final, Tomás Bastos não deu uma volta, mas sim três aplaudidíssimas voltas à praça, com uma óbvia saída em ombros. O futuro parece avizinhar-se brilhante para este jovem fenómeno.

Fotos Fernando Clemente


F. Palha no primeiro toiro, lide brindada aos companheiros 
A primeira pega, por Rodrigo Camilo à primeira

Tristão R. Telles, mais um triunfo memorável


Segunda pega, de Lucas Gonçalves, ao terceiro intento






A primeira grande faena de Tomás Bastos. Na foto de cima, toda
a equipa
Um ferro de F. Palha no quarto toiro da corrida
Guilherme Dotti na terceira pega da corrida, à primeira
Mais uma lide triunfal de Tristão no quinto Grave
Rodrigo Andrade na quarta pega, à primeira tentativa








Tomás Bastos fechou a corrida com uma lide acima da média