quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Jornal "i": Partidos não matam a tourada


Pela sua importância, reproduzimos, com a devida vénia, o artigo do jornalista Luis Claro publicado na edição de hoje do diário "i":


Polémica chega ao parlamento. 
Partidos não matam a tourada

A polémica sobre as touradas chega hoje ao parlamento através de uma petição que pede a abolição das corridas de toiros em Portugal. São cerca de sete mil cidadãos que pedem aos deputados para dar uma "estocada" neste espectáculo, mas nenhum partido tenciona avançar com uma iniciativa nesse sentido.
É à esquerda que as corridas de toiros encontram maior oposição e os bloquistas defendem o fim das corridas, embora não o queiram fazer por "decreto". Em todo o caso, o BE tenciona avançar em breve com dois diplomas para acabar com o financiamento público às corridas e para proibir a RTP de transmitir este espectáculo. A deputada Catarina Martins diz ao i que a intenção é abrir caminho para "acabar com as touradas" em Portugal. A deputada bloquista defende que as corridas são "uma violência para os animais", mas "o melhor caminho para acabar com elas é acabar com o financiamento público".
A questão está longe de ser pacífica dentro dos partidos políticos - onde há posições para todos os gostos -, mas dentro da coligação CDS/PSD ninguém pensa em acabar com este espectáculo em Portugal. No CDS é conhecido que Paulo Portas vai ver touradas com alguma frequência e entre os sociais-democratas também há quem aprecie. É o caso do líder da JSD, Duarte Marques, que confessou ao i "ser a favor".
"É preciso respeitar a tradição que existe. Sou aficionado e penso que não faz qualquer sentido acabar com as touradas", diz o presidente dos jovens sociais-democratas, que lamenta o fanatismo dos movimentos que lutam pela abolição das corridas de toiros em Portugal.
No PS, a ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, diz que os socialistas "aceitam a diversidade das diversos culturais", ou seja, não pactuam com a intenção da petição que hoje vai ser discutida na Assembleia da República para acabar com as corridas.

Corridas sem toiros

O PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza) está também a preparar uma petição para entregar no parlamento. Paulo Borges diz que já recolheu quase 50 mil assinaturas e lamenta que os partidos com representação parlamentar fujam a este debate com o receio de "perderem votos". O presidente do PAN defende que as touradas devem continuar, mas "sem a presença de animais". Como é que isso seria feito? Paulo Borges responde que "seria uma questão de criatividade e passaria, sobretudo, por fazer uma simulação".
Outra ideia do presidente do PAN é que os toureiros, ganadeiros e outras pessoas ligadas a esta actividade passassem a dedicar-se a "uma indústria dedicada a promover a natureza junto das crianças".
Em 2011, o país assistiu a pouco mais de 230 corridas de toiros, sendo que os locais com mais espectáculos foram Lisboa, Alcochete, Montijo e Vila Franca de Xira. O número de corridas baixou em relação a outros anos, mas os amantes da festa atribuem esse facto à crise económica e ao mau tempo, já que a maioria dos espectáculos são ao ar livre.
Os movimentos anti-touradas portugueses ganharam um novo folego com a decisão do parlamento de Barcelona, que aprovou uma proposta para proibir esta prática na Catalunha. Em Portugal, a proibição parece estar para já afastada da mente dos políticos portugueses.