Pela sua importância, reproduzimos, com a devida vénia, o artigo do jornalista Luis Claro publicado na edição de hoje do diário "i":
Polémica chega ao parlamento.
Partidos
não matam a tourada
A polémica sobre as touradas chega hoje
ao parlamento através de uma petição que pede a abolição das corridas de toiros
em Portugal. São cerca de sete mil cidadãos que pedem aos deputados para dar
uma "estocada" neste espectáculo, mas nenhum partido tenciona avançar
com uma iniciativa nesse sentido.
É à esquerda que as corridas de toiros
encontram maior oposição e os bloquistas defendem o fim das corridas, embora
não o queiram fazer por "decreto". Em todo o caso, o BE tenciona
avançar em breve com dois diplomas para acabar com o financiamento público às
corridas e para proibir a RTP de transmitir este espectáculo. A deputada
Catarina Martins diz ao i que a intenção é abrir caminho para "acabar com
as touradas" em Portugal. A deputada bloquista defende que as corridas são
"uma violência para os animais", mas "o melhor caminho para
acabar com elas é acabar com o financiamento público".
A questão está longe de ser pacífica
dentro dos partidos políticos - onde há posições para todos os gostos -, mas
dentro da coligação CDS/PSD ninguém pensa em acabar com este espectáculo em
Portugal. No CDS é conhecido que Paulo Portas vai ver touradas com alguma
frequência e entre os sociais-democratas também há quem aprecie. É o caso do
líder da JSD, Duarte Marques, que confessou ao i "ser a favor".
"É preciso respeitar a tradição que
existe. Sou aficionado e penso que não faz qualquer sentido acabar com as
touradas", diz o presidente dos jovens sociais-democratas, que lamenta o
fanatismo dos movimentos que lutam pela abolição das corridas de toiros em
Portugal.
No PS, a ex-ministra da Cultura,
Gabriela Canavilhas, diz que os socialistas "aceitam a diversidade das
diversos culturais", ou seja, não pactuam com a intenção da petição que
hoje vai ser discutida na Assembleia da República para acabar com as corridas.
Corridas sem toiros
O PAN (Partido pelos Animais e pela
Natureza) está também a preparar uma petição para entregar no parlamento. Paulo
Borges diz que já recolheu quase 50 mil assinaturas e lamenta que os partidos
com representação parlamentar fujam a este debate com o receio de
"perderem votos". O presidente do PAN defende que as touradas devem
continuar, mas "sem a presença de animais". Como é que isso seria
feito? Paulo Borges responde que "seria uma questão de criatividade e
passaria, sobretudo, por fazer uma simulação".
Outra ideia do presidente do PAN é que
os toureiros, ganadeiros e outras pessoas ligadas a esta actividade passassem a
dedicar-se a "uma indústria dedicada a promover a natureza junto das
crianças".
Em 2011, o país assistiu a pouco mais de
230 corridas de toiros, sendo que os locais com mais espectáculos foram Lisboa,
Alcochete, Montijo e Vila Franca de Xira. O número de corridas baixou em
relação a outros anos, mas os amantes da festa atribuem esse facto à crise
económica e ao mau tempo, já que a maioria dos espectáculos são ao ar livre.
Os movimentos anti-touradas portugueses
ganharam um novo folego com a decisão do parlamento de Barcelona, que aprovou
uma proposta para proibir esta prática na Catalunha. Em Portugal, a proibição
parece estar para já afastada da mente dos políticos portugueses.