Completaram-se no último sábado, 18 de
Agosto, 120 anos sobre a corrida inaugural da praça de toiros do Campo Pequeno,
a mais importante e a mais bela de Portugal e, sem sombra de dúvida, uma das
mais bonitas, funcionais e acolhedoras de todo o mundo taurino.
Inaugurada com a presença da Família
Real, a 18 de Agosto de 1892 (foto), coube ao cavaleiro Alfredo Tinoco lidar o
primeiro toiro da tarde, pertencente, como os 11 restantes, ao ganadero Emílio
Infante da Câmara. Recordemos o cartaz inaugural, que eram formado pelos
cavaleiros Alfredo Tinoco e Fernando de Oliveira (que viria a ser o primeiro toureiro a morrer naquela arena vítima de colhida), pelos bandarilheiros Vicente
Roberto, Roberto da Fonseca, José Peixinho, João Calabaça, João Roberto e os
seus colegas espanhóis Felipe Aragón "Minuto" e
"Pescadero".
A actual praça de toiros do Campo
Pequeno, projecto do arquitecto Dias da Silva, sucedeu à que existiu no Campo
de Santana, inaugurada a 3 de Julho de 1831 e encerrada em 1888, na sequência
de uma vistoria que interditou o edifício, por questões de segurança
relacionadas com o mau estado de conservação.
Pode dizer-se, sem receio de erro, que a
história do Campo Pequeno se confunde com a história do toureio em Portugal e
que essa história é, por direito próprio, parte da história da tauromaquia,
pois nesta praça actuaram, ao longo de 120 anos, todas as maiores figuras
mundiais do toureio a pé e a cavalo. Os grandes nomes da portuguesíssima arte
de pegar toiros pisaram esta arena e as mais importantes ganadarias de Portugal
e Espanha aqui lidaram os seus exemplares.
Testemunha de grandes feitos
tauromáquicos, o Campo Pequeno foi também palco para outros espectáculos, como
o Boxe e a Luta Livre, mas igualmente serviu para centro de recrutamento de
voluntários para combater a Monarquia do Norte, na ressaca da implantação do
regime republicano, em 1910. No pós 25 de Abril, foi "barómetro" de
comícios partidários, o balão de ensaio para os principais partidos políticos
avaliarem da sua capacidade de mobilização para a realização de comícios na
Alameda D. Afonso Henriques ou na Praça do Comércio e Otelo Saraiva de
Carvalho, então Comandante do COPCON, ameaçou transformá-la em palco de
fuzilamento de fascistas.
A mais recente iniciativa partidária que
ocorreu no Campo Pequeno foi o Congresso do Partido Comunista, em
finais de 2008.
Dado o acentuado estado de degradação
que o edifício da praça de toiros apresentava, entrou em obras de restauro e
requalificação, bem como dos espaços envolventes, no ano 2000. Reabriu a 16 de
Maio de 2006, completamente remodelada, como um projecto integrado de cultura e
lazer, no qual foram investidos cerca de 80 milhões de euros, integralmente
suportados pela iniciativa privada, através da Sociedade de Renovação urbana
Campo Pequeno, SA.
No novo espaço, conservando todavia toda
a traça originária em estilo neo árabe, nasceu uma sala coberta, com cobertura
parcialmente amovível, que pode albergar todo o tipo de eventos (tauromáquicos
e outros) ou reuniões, duas zonas de restauração, uma ao nível do piso dos
jardins, também totalmente recuperados, e outra integrada num espaço comercial
subterrâneo, com cerca de 70 lojas e oito cinemas, servidos por um parque de
estacionamento, também subterrâneo, com capacidade para 1200 lugares.
O novo Campo Pequeno é um misto de
tradição e modernidade que, sendo a mais versátil sala de espectáculos de
Lisboa, contribuiu ainda para recuperar uma das mais acolhedoras centralidades
da capital do país.
Foto D.R./@Praça do Campo Pequeno