sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A sinfonia mágica de Pablo Hermoso ontem no Campo Pequeno




Miguel Alvarenga - Ontem, o Campo Pequeno "explodiu" com o espectáculo - porque de um espectáculo se trata - de Pablo Hermoso de Mendoza. No seu primeiro toiro dera o mote para o que haveria de ser uma noite diferente - diferente mesmo e em todos os aspectos. No segundo, foi a loucura total. O público de pé a cada ferro, a cada recorte, a cada "bonito" que fez. Quase sete mil almas a vibrar, em euforia, em apoteose, a bater palmas "desalmadamente". O Campo Pequeno estava cheio - não percebi por que não colocaram o cartaz de "lotação esgotada". Já o vi na fachada principal em corridas com menos gente...
Houve toiros? Não, não houve. O que ali se viu foi uma espécie de "toiros" amestrados, robóticos, enervantemente inofensivos, alguns deles de ridícula apresentação (isso não se pode perdoar, o resto...) para uma praça como Lisboa, mais pareciam vaquitas, para não dizer ovelhinhas.
Vamos protestar por isso? Claro que sim, claro que os "velhos do Restelo", os dos "toureio antigo", etc. e tal, vão dizer (já ontem diziam) e vão escrever cobras, lagartos - e outros répteis - àcerca dos "toiros" de Maria Guiomar Cortes de Moura.
"Toiros" entre aspas, porque "aquilo" é, na minha modesta opinião, a negação da raça. São bravos? São mansos? Não serão uma coisa, nem outra. São como se fossem leões ou tigres sem dentes nem garras. Podem dar uma patada, um encontrão, mas não têm nada a ver com os tigres e os leões "de verdade". Transmissão, emoção, e outros "ãos" que fazem parte da corrida de toiros são coisas que não existem nestes "animaizinhos de estimação". Servem, estilo "boi manso", para treinar cavalos. Mas servem para mais: servem para o espectáculo que Pablo inteligentemente tem montado e com o qual move montanhas, faz correr milhões, enche praças e dá o seu "show". É mau, não vale?
Então eram estúpidos, ignorantes e "anti-taurinos" aqueles quase sete mil que eu vi ontem, eufóricos, levantarem-se, aplaudirem, endoidecerem, com as actuações de Hermoso de Mendoza? Estavam todos errados e só vão estar certos e falar verdade os cinco ou seis "cronistas da pesada" que irão escrever mal daquele "show"? Enforquem-se então esses escribas, porque estão a remar contra a corrente.
Deve-se dar ordem de prisão, mandar para o Linhó, o ganadeiro Armando João Moura, representante oficial da ganadaria da Senhora Sua Mãe, por criar aquele tipo de animais tão bonzinhos, tão colaborantes, tão inofensivos e tão bonzinhos, sem maldade alguma, que até dão a ideia que isto do toureio é coisa fácil e acessível a qualquer um?
Claro que não. O Armando João deve continuar em liberdade. No mundo do cinema, também há filmes de terror, filmes de amor, filmes de desenhos animados, filmes de suspense, filmes cómicos, etc. No mundo das touradas, há corridas para todos os gostos - tem que haver, se não isto era uma monotonia, uma chatice.
Os ferros de "parar corações" dos Salgueiro pai e filho, os ferros "loucos" de Caetano com o "Temperamento" (como foi em Montemor), o toureio à antiga de Ribeiro Telles com os toiros "que batem", os ferros "impossíveis" do enorme Rui Salvador, o toureio-emoção dos Bastinhas - e muitos mais exemplos podia dar - fazem parte de "outros filmes". Que não são os de Pablo Hermoso de Mendoza, Figura por mérito seu, Toureiro que criou um espectáculo único e que enche praças e move milhões com "toiros" destes como os de Guiomar Moura, a tal linha Murube, os chamados "nhoc-nhoc", que alguns não gostam - os de ontem eram, valha a verdade, demasiado e exageradamente "nhoc's" - mas que são "próprios" para este tipo de show, único, repito.
Não vale, o público não gosta? Mentira. Vale - e muito. E o público gosta. Se não, não ia ver. A enchente de ontem no Campo Pequeno teve muito, teve tudo, a ver com a recente corrida televisionada da Figueira da Foz, onde Pablo foi tornado ídolo dos portugueses que o não conheciam ainda. Ontem, muitos dos que foram a Lisboa vê-lo, foram lá por causa da corrida televisionada da Figueira. Quiseram ver ao vivo o Toureiro que faz "aquelas coisas únicas aos toiros". Contra factos não há argumentos - e não podemos deixar de reconhecer isso.
E há ainda uma coisa que é preciso não esquecer: mesmo sendo a total negação da raça brava, esta espécie de toiros é, às vezes, complicada. Tem outro genes, sabe-se lá vindo de onde, mas também batem, também dão "encontrões" - e vimos isso ontem, ou não viram?
Já falarei a seguir de Telles e de Fernandes. Para já, fica o registo da apoteose de Pablo Hermoso de Mendoza. E uma certeza. Absoluta. Se no fim da sua segunda actuação o obrigaram a dar três voltas e meia à arena - obrigaram, mesmo - e mais teria dado, não fosse a hora tardia e o facto de muitos trabalharem no dia seguinte, se queriam levá-lo em ombros, se todos - todos mesmo - "expodiram" em constantes ovações, é ou não é Pablo Hermoso de Mendoza o número-um? Claro que é e claro que os portugueses voltaram ontem a ser "enxovalhados" e a sair da praça cabisbaixos, diante de um Toureiro que possui uma quadra de cavalos, uma equitação, uma doma e uma noção de espectáculos que os nossos, todos juntos, não têm.
Já fomos bons no toureio a cavalo? Claro que sim, que já fomos. Mas também já fomos bons navegantes, já descobrimos mundos nas caravelas e hoje só fazemos travessias de Lisboa a Cacilhas... Os tempos mudam. O Toureio a Cavalo hoje em dia, por mais indisgestões que isso dê a muito boa gente, é dos espanhóis. E é, sobretudo, de Pablo Hermoso de Mendoza. O resto, contem-me o que quiserem, não passam de cançõezitas de embalar. Grande Pablo!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com