sexta-feira, 14 de março de 2014

Como os "árabes" em 1971 no "Tavares Rico"...

Os falsos "árabes" em 1971 no "Tavares Rico"
Solange, noutros tempos da fidalguia, comigo e o saudoso Manuel Gonçalves


Miguel Alvarenga - Quem anda à chuva, molha-se e quem vive na ânsia desmedida de se pôr desesperadamente em bicos dos pés para dar notícias "em primeira mão", se não tiver cuidado, encharca-se. Foi o que aconteceu ontem à minha querida amiga Solange Pinto, quando recebeu um pomposo mail anunciado uma Gala de Forcados em Évora, com dois dias de intensa festa e se apressou a publicá-lo, "antes dos outros", sem primeiro se dar conta da veracidade do mesmo e sem se lembrar sequer que a praça de Évora é gerida por "Nené" (de quem já foi amiga, inimiga e agora é mais ou menos...) e as informações da empresa "Toiros & Tauromaquia" costumam, por norma, ser dadas através do mail da mesma - o que não fora o caso.
Resultado: o mail era uma brincadeira e a Solange caíu na esparrela. A seguir, fez o que devia: veio a público retratar-se e pedir desculpas a quem visava na referida notícia.
Não vem daí nenhum grande mal ao mundo, nem sequer perde um milímetro de credibilidade o site da Solange - que lê quem lê, que tem a importância que tem, mas que é o espelho da sua aficion e da sua vontade de agradar e a fazer coisas em prol da Festa. Todos precisamos de todos e o "touro e ouro" é mais um contributo para a divulgação da arte tauromáquica.
Não vem daí nenhum mal ao mundo, mas a verdade é que o incidente revela duas coisas: primeiro, que alguém quer o mal da Solange e que alguém anda a brincar num meio onde são tantas as brincadeiras, que não se deviam admitir coisas destas; segundo, revela a inexperiência e a falta de profissionalismo à séria que deveria imperar em quem pretende dedicar-se à missão de informar. Não é jornalista quem quer e muito menos quem, por dá cá aquela palha, cria um site e começa a escrever sem saber da poda. Mas isso perdoa-se-lhe. A Solange tem vontade. Por isso venho aqui prestar-lhe a minha solidariedade. Também já errei e também já me retratei. Acontece.
A história faz-me lembrar a dos "árabes", em 1971, no Restaurante "Tavares Rico" em Lisboa. Chegaram de "Rolls Royce", jantaram que nem abades e discutiram importantes negócios a levar a cabo no nosso país. A gerência do restaurante apressou-se a avisar o jornal "O Século" da presença dos "árabes" e José Mensurado, jornalista de saudosa memória e grande profissional da Imprensa, caíu que nem um patinho. Nem deu por isso que a mesa estava pejada de garrafas de uísque, de gin, de martini e que os muçulmanos, pelo menos em teoria, não bebem álcool.
No dia seguinte, publicou a notícia com pompa e circunstância. Foi enganado, como a Solange. Os ilustres "árabes" que estavam "de visita" ao nosso país eram, apenas e só, um grupo de gozões bem conhecidos da sociedade lisboeta. Entre outros, o antigo corredor de Fórmula 1 Nicha Cabral, Manecas Mocelek (que viria, anos mais tarde, a ser gerente da famosa discoteca "Bananas" em Alcântara), Frederico Abecasis, o chef Michel e Jorge Correia de Campos, entre outros.
Em suma, para se ser lobo não basta vestir-lhe a pele. E para se ser jornalista, não basta ter-se um site e escrever notícias "em primeira mão". Há que sê-lo mesmo. E por muitas estórias que me contem, eu continuo sempre na minha: nasce-se jornalista, como se nasce toureiro, não se aprende a sê-lo...

Fotos D.R. e Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com