Miguel Alvarenga - Após quase dois
meses de suspense, de inquietação e de muita especulação, depois de conhecida a
demissão dos administradores das (duas) empresas que geriam o Campo Pequeno (a
SRUCP e a Sociedade Campo Pequeno, SA) e o processo de insolvência da primeira,
bem como a nomeação pelo Tribunal do Comércio de uma Administradora de
Insolvência, sem se perceber bem se Rui Bento ia permanecer e se ia haver,
sequer, Temporada na primeira praça do país, os homens dos toiros ficaram ontem
serenos e tranquilos, face às palavras de alento à arte tauromáquica e à
campanha de 2014 na nossa praça, proferidas pela Drª Paula Mattamouros Resende
(que é simultâneamente Administradora da Insolvência e presidente do Conselho
de Administração da Sociedade Campo Pequeno) e sobretudo face à apresentação,
por Rui Bento, dos primeiros cartéis da primeira fase da Temporada de Abono -
que como anteriormente referi e analisei, são "acima da média" e
constituem, principalmente, os melhores elencos dos últimos anos.
Depois de muito se ter especulado e de
ter havido quem (os do costume...) procurasse por todos os meios (telefonemas,
e-mails, intriguices, etc. e tal...) destabilizar e criar a confusão usual,
todos tivemos ontem na frente a Drª Paula Mattamouros para esclarecer as
dúvidas que nos atormentavam, nomeadamente o que é isso da insolvência, como
vai ser o futuro do Campo Pequeno, o que foi feito dos Borges, quem vai mandar
e quem vai pagar aos toureiros a partir de agora, se há dinheiro ou se as
contas estão congeladas, se a Monumental de Lisboa vai ser comprada por
chineses, etc. e tal - mas a verdade é que ninguém o fez. Imperou o silêncio
face a tudo isso. Eu próprio estive vai-não vai para questionar a Senhora sobre
tudo isso, mas não o fiz, como mais ninguém o fez, e explico porquê: primeiro,
porque íamos perder mais duas ou três horas de conversa, ali sentados e nunca
mais íamos comer o queijinho e o magnífico presunto, nem beber o belo tinto (eu
não bebo vinho, mas gosto de ver quem bebe...) que nos trouxe o Francisco Mira
(ex-forcado de Montemor) da sua fantástica "Charcutaria Lisboa" (no
Mercado de Campo de Ourique); segundo, porque o tema-insolvência nos importa
pouco, face à certeza que todos tivemos de que vai haver Temporada em Lisboa e
que as touradas vão continuar a ser tradição às quintas-feiras no Campo
Pequeno; e porque se fossemos ali perder tempo a tentar perceber essa
trapalhada da insolvência, acabava por ultrapassar-se e deixar para segundo plano o impacto e a importância
daquilo que verdadeiramente nos diz respeito e daquilo que queríamos saber -
quais eram, afinal, os cartéis da Temporada.
A Drª Paula Mattamouros é uma Mulher
discreta - mas uma Mulher decidida. Percebemos isso. Não é um "papão"
que vem acabar com as touradas, nem acabar com o nosso Campo Pequeno. Em poucas
palavras, deu-nos uma imagem de tranquilidade, de trabalho, de quem arregaçou
as mangas e está ali para cumprir uma missão - mas uma missão que vem assegurar
a tradição tauromáquica do Campo Pequeno e não, como alguns diziam, acabar com
ela.
Por outro lado, foi visível e notória a
empatia da nova administradora com o responsável pela organização das corridas
de toiros, Rui Bento. E vice-versa. Percebe-se que o trabalho conjunto foi
importante - e, acima de tudo, que a comunhão de esforços foi conseguida e foi frutífera, a bem da Festa Brava. Foi
também importante a humildade e a dignidade com que Rui Bento fez questão de
frisar o seu apreço e reconhecimento pelo apoio com que sempre contou da
anterior Administração (Borges) e também a forma simpática com que louvou todos
os seus companheiros de trabalho na empresa.
João Eduardo Gonçalves foi o outro novo
elemento da Admistração da nova Sociedade Campo Pequeno (ficámos sem perceber
se há mais, mas também pouco nos importa) que ontem nos foi apresentado e que
também tomou lugar na mesa da Conferência de Imprensa, onde voltou a estar,
como sempre, o Relações Públicas da empresa e antigo crítico tauromáquico da
agência Lusa, Dr. Paulo Pereira.
Enquanto a Drª Mattamouros foi para ali
nomeada pelo Tribunal de Comércio, já João Gonçalves integra agora a
Administração da Sociedade Campo Pequeno precisamente a convite dela, como seu
braço-direito, presume-se, em todo este processo. Antigo atleta e actual
comentador desportivo da RTP, foi também organizador de uma Gala Equestre há
poucos anos no Campo Pequeno e não é, por isso mesmo, um estranho naquela casa.
Foi o único elemento da mesa que não falou durante a Conferência de Imprensa -
e isso foi pena. Gostávamos de ter conhecido também a sua posição e as suas
opiniões. Mas depois desdobrou-se em amáveis conversas com todos os presentes,
durante o beberete.
Do que mais se disse e dos temas mais
importantes ontem abordados por Rui Bento (para além da formal apresentação dos
elencos), bem como do que se não falou, mas eu sei, dar-vos-ei conta amanhã.
Não percam os Flashes do Campo Pequeno e as histórias das contratações e
não-contratações que estiveram por detrás desta primeira fase da Temporada de
Abono em Lisboa.
Para já e por hoje, fica o registo -
importante - da verdade. Que é uma e só uma: ao contrário do que asseguravam os
habituais profetas da desgraça, o Campo Pequeno ainda não é dos chinocas e vai
haver Temporada Tauromáquica. Era o importante. Mais nada. A não ser o registo, também, da significativa presença na Conferência de Imprensa das primeiras Figuras do toureiro e da forcadagem numa prova de força e união - que era mesmo preciso demonstrar no dia de ontem. Foi a Tauromaquia e foi o Campo Pequeno - ainda e sempre, a nossa primeira e principal referência - quem ganhou com isso.
Fotos M. Alvarenga