Ou sou eu que ando com a mania da
perseguição e a ver fantasmas onde eles não existem, ou a verdade, verdadinha,
é que estão a ocorrer demasiadas anomalias que nos fazem obrigatoriamente
duvidar da sanidade mental de quem pulula, e tem responsabilidade, neste
atribulado mundinho dos toiros...
No curtíssimo espaço de uma semana, foi
a estranhíssima tourada do Campo Pequeno, onde tudo ia descambando numa noite
(louvável) de praça esgotada; foi a patética entrevista do antigo cavaleiro Sommer
d'Andrade, que disparou em todos os sentidos e chamou todos os nomes aos
cavaleiros, empresários e críticos taurinos; foi a acusação do antigo cavaleiro
Paulo Caetano ao ganadeiro Joaquim Grave de ter mandado um toiro cegueta para a
corrida de dia 10 em Santarém, mais o consequente veto da ganadaria ao toureiro
Moura Caetano e também do toureiro Moura Caetano à ganadaria; foi o fim do
apoderamento de Caetano por Bolota, que no dia seguinte reviu a sua posição a
quente e voltou a deixar tudo como estava dantes; foi a acusação de Filipe
Gonçalves, com ameaças de "cabeçadas", a Filipe Ferreira de que o
tirada do cartel da sua alternativa nas Caldas; foi a acusação de que o mesmo
Filipe Gonçalves tirara Paulo Jorge Santos de uma tourada em Agosto na Arruda;
e foi agora o duríssimo comunicado da Associação de Directores de Corrida, que
arrasa Ventura e põe em xeque a própria empresa do Campo Pequeno, dando conta
de todos os pormenores tornados públicos ao Ministério do Interior de Espanha e
ao Tribunal do Comércio de Lisboa, onde decorre o processo de insolvência da
sociedade administradora do Campo Pequeno. São coisas a mais...
Esta é a semana de todas as broncas e há
que reconhecer que, com gente assim dentro da Festa, não temos que nos
preocupar minimamente com os fantasmas dos anti-taurinos. Os nossos, cá dentro,
fazem a festa, deitam os foguetes e são, eles sim, os grandes responsáveis pelo
estado a que a tauromaquia chegou...
Muito distraídos - e muito discretos,
também - têm andado, diga-se em abono da verdade, os anti-taurinos. Se
estivessem mais atentos, tinham aqui material de sobra para com um simples
sopro deitar abaixo toda a credibilidade da imagem da tauromaquia lusa. Isto
ruía num instante, como um baralho de cartas em queda livre...
Primeiro, chega aqui um rejoneador
espanhol, ainda que nascido em Lisboa, e dita as leis que muito bem entende,
sem que ninguém reaja. Quem devia reagir, agacha-se. Monta os elencos, escolhe
os toiros mais cómodos e prepara-os precisamente para que não incomodem, ameaça
pôr os cavalos na camioneta e abalar... e a malta estremece, seja como
vocelência quiser, vocelência manda... mas manda em quê e, sobretudo, manda por
quê?
A empresa do Campo Pequeno calou-se, não
tomou posição. Os ganadeiros calaram-se. O representante da ganadaria não pode
pronunciar-se, porque é simultâneamente apoderado de um dos cavaleiros
escolhidos pelo rejoneador para com ele ombrear na sua próxima corrida em
Lisboa e se dá com a língua nos dentes, o toureiro ainda salta fora dessa
corrida... e, por isso, calaram-se todos.
O público viu só cinco toiros, depois de
ter pago um dinheirão por bilhete e de ter tido a amabilidade de esgotar a
praça. Acabou por sair satisfeito, por que Fernandes e Ventura brilharam em
grande na lide do toiro sobrero a duo, o toiro que Ventura proibira de entrar
na praça e que foi, apenas e só, o melhor da noite... O público do Campo
Pequeno continua a ser o melhor público do mundo...
Por explicar, estão as quedas na arena
dos toiros da prestigiada ganadaria Charrua, que não tinham a força nem a
postura usual. Fala-se em muita coisa, mas em coisas de que não se pode falar,
porque não existem provas. E os ganadeiros, porque não vieram a público dar a
sua versão oficial dos acontecimentos?...
Há três anos, quando os toiros de
Murteira Grave tiveram, também, estranho comportamento (curiosamente), também,
numa corrida de Ventura, o ganadeiro não esperou 24 horas para emitir um duro
comunicado acusando "mão misteriosa" de ter adulterado o piso da
arena e, com isso, condicionado o comportamento dos seus toiros. Mas Joaquim
Grave é Joaquim Grave. E os ganadeiros Charrua são homens discretos. Demasiado
discretos...
Feitas as contas, calaram-se todos.
Menos o director de corrida Pedro Reinhardt. Que, na qualidade de presidente da
Direcção da Associação Portuguesa de Directores de Corrida, veio hoje a público
com um duríssimo comunicado, verdadeiro libelo acusatório a Ventura e sua
equipa, esclarecendo ponto por ponto tudo o que de estranho aconteceu no
passado dia 5 na segunda corrida da temporada do Campo Pequeno...
O documento vai hoje mesmo ser dado a
conhecer ao Ministério do Interior de Espanha (que tutela o espectáculo
tauromáquico no país vizinho) e também ao Tribunal do Comércio de Lisboa, onde
decorre o processo de insolvência da sociedade administradora do Campo Pequeno.
Ou seja, a Associação de Directores de Corrida vai provocar um verdadeiro
terramoto lá e cá... Era preciso deixar as coisas chegar a este ponto?...
Volto a perguntar, depois de todas as
ocorrências que esta semana marcaram a tauromaquia lusa: acham que vale a pena
continuarmos a procuparmo-nos com os anti-taurinos, quando a nossa gente se
encarrega, sem sequer se dar ao trabalho de bater panelas à porta das praças de
toiros, de enxovalhar cada vez mais esta coisa?...
Deixem lá os anti-taurinos descansados e
façam mas é um "Prós e Contras" só com a malta dos toiros. Chegam e
sobram para botar faladura uns contra os outros e, se preciso fôr, desatarem à
estalada uns com os outros em pleno auditório...
Fotos D.R.