sexta-feira, 6 de junho de 2014

Campo Pequeno: fala o representante da ganadaria Charrua

Pedro Penedo, o representante da ganadaria Charrua, considera que houve
"precipitação no primeiro caso e excesso de zelo no segundo" e lamenta que o
melhor toiro da corrida tenha ficado para "sobrero" por "imposição dos toureiros"
Confusão entre tábuas depois da recolha de dois toiros ontem no Campo Pequeno.
Administradores do Campo Pequeno, o representante da ganadaria e o cavaleiro
Rui Fernandes (cabeça de cartaz) reunidos para resolver a situação (em baixo,
à esquerda), enquanto nas bancadas o povo começava a ficar impaciente...
O toiro "sobrero" lidado a duo por Fernandes e Ventura revelou-se o melhor da noite.
Pergunta-se: porque impuseram os toureiros, ao sorteio, que fosse este a ficar
"de sobra"?... Há males que vêm por bem e a verdade é que a precipitada recolha
de dois toiros acabou por permitir que este magnífico exemplar da ganadaria
Charrua tivesse saído ontem à arena e tivesse proporcionado o êxito que
proporcionou a Rui Fernandes e Diego Ventura, acalmando ao mesmo tempo os
ânimos ao público, que se sentia defraudado

Esperamos a todo o momento chegar à fala com Pedro Reinhardt, o director da corrida do Campo Pequeno, para também trazermos aos nossos leitores, porque de elementar justiça se trata, a sua versão sobre os acontecimentos da noite de ontem. Já o contactámos há momentos, mas Pedro Reinhardt encontra-se a meio de uma reunião profissional e prometeu responder-nos mal a termine.
Dois toiros da ganadaria Charrua (o primeiro de Ventura e o segundo de Fernandes) foram ontem devolvidos aos currais, o primeiro por ter saído já meio "inutilizado" dos quartos traseiros e o segundo sem que ninguém tenha percebido bem porquê. Caíu, mas não se manda embora um toiro por cair. A responsabilidade cabe muito mais ao médico veterinário - Dr. Carlos Santos, neste caso - do que propriamente ao director de corrida, mas a autoridade máxima, ali, era Pedro Reinhardt e foi ele que consentiu e ordenou a recolha do toiro. No final e depois de Rui Fernandes (que era o cabeça de cartaz) ter mediado as conversações entre director de corrida, ganadaria e empresa, saíu o toiro que estava como primeiro "sobrero" e foi lidado a duo pelo próprio Fernandes e por Ventura, revelando-se como o melhor toiro da noite. Pergunta-se: porque teria ficado de "sobrero" um toiro que, à partida, tinha as condições que tinha? Mais: o ganadeiro - Gustavo Charrua, na foto ao lado, neto do célebre fundador da ganadaria, o sempre lembrado António Coelho Charrua - levou-o de volta ao campo, isto é, "indultou-o". Para tentar perceber estas e outras questões que marcaram a agitada tourada de ontem em Lisboa, ouvimos Pedro Penedo, que é o legal representante da ganadaria Charrua, ocupando o lugar que foi durante muitos anos desempenhado pelo saudoso Mário Freire.
"Houve, a meu ver, uma precipitação do director de corrida e do veterinário no caso do primeiro toiro; e um excesso de zelo no segundo", diz Penedo. E acrescenta:
"O primeiro toiro recolhido, que era o terceiro da ordem e o primeiro de Ventura, a meu ver, não vinha combalido dos curros, antes se terá aleijado quando caíu, provavelmente com algum arpão de uma bandarilha ou com um jeito que terá dado. De todas as formas, penso que se deveria ter aguardado um pouco para ver se o toiro se recompunha, em lugar de o terem mandado recolher de imediato. Houve da parte do director de corrida e do médico veterinário, neste caso, uma precipitação. Deveria ter havido mais calma e mais bom senso, sobretudo se tivermos em conta que estávamos numa corrida de praça esgotada e com o ambiente enorme que se vivia ontem no Campo Pequeno".
Quanto ao segundo toiro, opina Pedro Penedo:
"O segundo toiro, que era o quarto da ordem e o segundo de Rui Fernandes, apenas caíu. Mas os toiros não se mandam recolher apenas porque cairam. Aconteceu logo a seguir ao caso anterior e aqui eu creio que houve um excesso de zelo por parte da direcção da corrida e do veterinário. Penso que teria dado uma boa lide, mas foi imediatamente recolhido, sem se perceber porquê...".
E acrescenta:
"No contexto geral, os dois primeiros toiros foram bons, o segundo de Botero também foi muito bom e o sobrero, que se lidou a duo no final, foi um toiro de bandeira. Lamento que este toiro renha ficado para sobrero, mas assim o impuseram os toureiros no sorteio. O que estava para sobrero, até porque era o mais pequeno, foi o que Ventura lidou, ou não chegou bem a lidar, primeiro, o terceiro toiro da noite, que foi o primeiro a ser recolhido. Se em vez desse toiro tem saído o que deixaram para sobrero, penso que nada disto se teria passado... mas, enfim...".
Segundo Pedro Penedo, estavam nos curros do Campo Pequeno nove toiros, ou seja, ainda havia mais dois "sobreros" para o caso de terem sido necessários.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com