Em Évora foi Moura quem mandou! |
Embora com as bancadas e o segundo anel bem preenchidos, ainda não foi desta que o Concurso de Ganadarias voltou a encher Évora como nos tempos antigos... |
Miguel Alvarenga - Outrora santuário de
culto e obrigatória peregrinação de todos os aficionados sempre que ali se
anunciava o Concurso de Ganadarias, "o mais antigo e de maior prestígio em
Portugal", a praça de toiros de Évora, agora denominada Arena d'Évora,
coberta e modernizada, mas mais pequena em termos de lotação, não encheu as
suas bancadas na tarde de sábado, registando uma entrada próxima dos dois
terços. Faltou, comentava-se, o grupo de forcados de Montemor, um dos que mais
adeptos arrasta às praças e que nesse mesmo dia e à mesma hora pegava em
Coruche; e faltaram também no cartel toureiros locais (entenda-se, alentejanos)
que tradicionalmente davam peso à corrida e chamavam o dinheiro às bilheteiras.
Os tempos mudam e as vontades também, já lá dizia o sapiente Luis Vaz de
Camões. E a realidade é que, excepção feita ao memorável triunfo do imparável
João Moura Jr., o 55º Concurso de Ganadarias de Évora teve muito pouco de
destaque para contar...
Mais de trinta anos depois e ao que tudo
parece indicar, volta a ser um Moura a mandar na nossa Festa. João, filho do
Maestro Moura, explodiu de uma vez por todas e já não há agora quem o páre.
Muitíssimo bem montado, impressionantemente seguro, é a imagem plena da
tranquilidade, do querer mais e mais, a imagem de quem caminha a passos largos,
como seu Pai há quase quatro décadas, para a consagração absoluta. João está
senhor de si, apoiado numa fantástica quadra de cavalos, super-moralizado e,
mais importante que tudo, embalado tarde após tarde e decidido a ocupar de ume
vez por todas o trono.
Lidou em primeiro lugar o toiro de Pinto
Barreiros, que ganhou o troféu "bravura"; e em segundo, o de São
Torcato, que deveria ter ganho o troféu "bravura", precisamente por
que foi, este sim, o toiro mais bravo da corrida, mas assim não o entendeu - e
há que respeitar - o júri, que estava composto por Simão Comenda, Manuel Calejo
Pires (antigo forcado e ganadeiro) e o crítico Miguel Ortega Cláudio.
Moura aproveitou na perfeição as
excelentes qualidades dos dois oponentes e desta feita permitiu também que da
corrida saísse triunfador o prestigiado ganadeiro Joaquim Alves, proprietário
das duas ganadarias que lhe tocaram.
Do que por lá fez, já todos falaram. E
também não é fácil descrever. As duas faenas empolgantes de João Moura Jr. são
obras que se vêem e se sentem - mas que se não contam. Quem viu, sentiu na
hora. Quem não viu, não sabe o que perdeu. A realidade é uma e só uma: o novo
Moura vai mandar na Festa - e os outros que se acautelem.
Perante e depois de dois triunfos como
os que Moura alcançou no sábado em Évora, não é assim muito fácil puxar pela
memória e conseguir lembrar-me de mais alguma coisa relevante.
Luis Rouxinol enfrentou em primeiro
lugar o bonito exemplar de Veiga Teixeira, subindo o tom da sua lide de ferro a
ferro; e na segunda parte lidou o toiro de Murteira Grave, que ganhou o prémio
"apresentação" e que foi nobre com toques de bravura, investindo
sobretudo com alegria e classe para os capotes. Esteve bem o cavaleiro de Pegões,
como sempre está.
Vitor Ribeiro teve altos e baixos em
duas actuações irregulares, mas marcadas, diga-se em abono da verdade, por
alguns ferros de destacada emoção, como é timbre e apanágio deste cavaleiro a
quem dá sempre gosto rever. Enfrentou primeiro um manso encastado de Branco
Núncio, de escassa apresentação, a que deu a volta com aplaudida entrega; e
lidou em segundo lugar o mais pesado toiro da corrida, de Passanha, que veio a
mais e lhe permitiu um triunfo mais sólido, apesar de alguns violentos toques
nas reuniões. Ribeiro tinha aqui a sua segunda corrida do ano, depois de ter
sido um dos triunfadores da última temporada. Mostrou que continua em forma,
estreou um cavalo de saída (castanho) no segundo toiro e deixou uma vez mais
ambiente para uma temporada que se prevê seja novamente de sucesso para si.
Frente a toiros de verdade, estiveram em
praça dois grandes Grupos de Forcados, os de Évora e os de Alcochete.
Pelos de Évora pegaram João Madeira (à
segunda) e Dinis Caeiro também à segunda, depois de ter saído com um braço
deslocado na primeira tentativa e mesmo assim, depois de "concertado"
na trincheira e visto estar em dúvida a consumação da pega, repetiu com
estoicismo e valentia a sorte, fechando-se com galhardia. A terceira pega dos
eborenses foi executada com muita técnica e decisão pelo consagrado João Pedro
Oliveira, filho do antigo cabo do mesmo nome, ao primeiro intento. Nas três
intervenções, o grupo esteve coeso e brilhante a ajudar.
Pelos de Alcochete, foram caras Ruben
Duarte e Tomás do Valle, ambos à primeira e com rijas pegas e Nuno Santana, que
concretizou à segunda, após forte derrote na primeira tentativa. Também aqui,
há que realçar a actuação em conjunto de todos os elementos do grupo e
sobretudo dos primeiros-ajudas, que estiveram brilhantes na consumação das
sortes.
Bem dirigida por Agostinho Borges, sem
tempos mortos (excepto o desnecessário intervalo), a corrida de sábado em Évora
contou com a também triunfal participação dos bandarilheiros Josué Salvado,
Nuno Oliveira, João Mourão, Nuno Silva, Hugo Silva e Jorge Alegrias, cujo
desempenho é justo enaltecer.
Esta corrida marcou - em boa hora - o
regresso à gestão da praça de Évora do emblemático empresário António Manuel
Cardoso "Nené".
Já a seguir: todas as fotos! Os Momentos de Glória, as 6 pegas uma a uma, os Famosos. Não perca!
Fotos M. Alvarenga