segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ontem em Santarém: toiros "protestados" foram os reis da festa!

Os toiros de Sommer d'Andrade foram os grandes protagonistas da corrida
de ontem na Monumental de Santarém
Luis Gameiro (à esquerda), autor da primeira pega na corrida de inauguração da
Monumental de Santarém, há 50 anos, o provedor da Misericórdia, Mário Rebelo, o
bandarilheiro Pedro Gonçalves e a filha do saudoso Celestino Graça, no momento
em que era descerrada a placa que o recorda, no seu centenário, como o grande
impulsionador da construção da praça e da realização da Feira do Ribatejo


Miguel Alvarenga - Quando os toiros são toiros de verdade e o espectáculo não fica condicionado por estranhas jogadas de bastidores (entenda-se, de currais e de sorteios...), como recentemente aconteceu na corrida do Campo Pequeno (temos um Dossier Explosivo sobre esse caso e essas estranhas ocorrências de quinta-feira passada em Lisboa, para editar muito em breve!), a arte tauromáquica vive todo o seu esplendor, toda a sua característica emoção e, acima de tudo, toda a sua verdade - que tão escamoteada é às vezes.
Ontem, em Santarém, os toiros de José Luis Sommer d'Andrade estiveram a milímetros de não ser lidados, por obra e (des)graça da patética entrevista que o ganadeiro deu, na véspera, ao site "naturales" e onde disparou à direita e à esquerda contra tudo e todos, mas especialmente contra os cavaleiros tauromáquicos, os empresários e os críticos taurinos. Os toureiros, à hora do sorteio e como já aqui referimos, recusaram-se a tourear os toiros de semelhante personagem. Valeu o bom senso de todos para não inviabilizar a corrida de ontem, sobretudo porque havia muitos bilhetes vendidos e a Monumental tinha assegurada a presença, nas bancadas, de cerca de três mil espectadores. Segue-se, ao que se diz, um veto dos toureiros à ganadaria Sommer. Mas o que hoje aqui importa é o que aconteceu ontem e não o que vem agora a seguir.
Teria sido lamentável que os toiros não tivessem sido toureados. E pegados. Porque foram, exceptuando o último, verdadeiros toiros, daqueles que fazem aficionados, que dão seriedade, emoção e credibilidade ao espectáculo. Não eram toiros para meninos. Tiveram pela frente grandes Toureiros e grandes Forcados. A tarde foi emotiva e o público saíu satisfeito - o que é altamente positivo e deixa enorme ambiente para a segunda corrida, amanhã, onde se lidará mais um grande curro de toiros da ganadaria Murteira Grave. No final da lide do quinto, o maioral e o representante da ganadaria, o popular Zé André, foram aplaudidos na arena. O ganadeiro nem sequer esteve na praça. Ou se esteve, estava escondido...
No plano artístico, o toureiro mais aplaudido, ontem, foi Filipe Gonçalves - que teve uma actuação séria e de muito mérito frente a um toiro que não foi fácil. Está Filipe em plena ascensão e é já um toureiro afirmado, a caminho da consagração. Depois de ali ter triunfado com força no ano anterior, repetiu o êxito em Santarém - e com a importante actuação de ontem talvez tenha calado de uma vez por todas as vozes dos maldizentes que consideravam não ser ele o cavaleiro indicado para substituir Salgueiro na próxima corrida de Ventura em Lisboa, em Julho. Filipe Gonçalves merece por inteiro essa tremenda oportunidade e podem estar certos que não facilitará a vida ao "furacão" no Campo Pequeno. Ventura que se cuide, portanto... que a competição promete - e promete muito.
No geral e à excepção de Marcos Bastinhas, que teve ontem o azar de enfrentar um toiro que via mal, se atravessava uma barbaridade e não lhe permitiu êxito de espécie alguma, a tarde foi de triunfo para todos os cavaleiros.
Joaquim Bastinhas exibiu a sua maestria e a sua (alegre) experiência toureando com valor acrescido um toiro que não permitia distracções e a que impôs a sua raça e a sua eterna ousadia em sortes de risco e imenso valor, terminando com o sempre exigido par de bandarilhas e o habitual salto do cavalo - que ontem Filipe Gonçalves imitou...
Com Rui Salvador falou também a voz da experiência e a garra de um toureiro que continua, trinta anos depois, no galarim dos primeiros por obra do seu reconhecido e grande valor, da sua entrega, da sua vontade e de dar sempre a cara. Ontem, diante de um toiro que pedia contas, Salvador esteve "à antiga", pôs a carne no assador, levantou o público das bancadas e aqueceu o ambiente com os seus característicos ferros de parar corações - os tais impossíveis.
Luis Rouxinol teve ontem em Santarém uma lide em crescendo. Começou mal, permitindo um violento toque no cavalo e por pouco ia dando azo a que eu escrevesse que, finalmente, tinha estado mal... Mas, justiça se lhe faça, a verdade é que Rouxinol não sabe mesmo estar mal. Veio por aí acima, venceu todos os obstáculos de um toiro que não foi fácil e terminou em beleza com o habitual par, causando o alvoroço nas bancadas.
Num reino que à partida estava destinado aos homens, uma Mulher continua a destacar-se. Os anos passam e Sónia Matias mantém intacta a sua popularidade, a dimensão enorme do seu toureio, da sua raça, do seu eterno querer. Venceu por seu mérito, deita hoje cartas a qualquer um e ontem, uma vez mais, foi também e muito justamente triunfadora em Santarém. Com o cavalo preto, lidou primorosamente e cravou ferros de verdade em terrenos de compromisso. O público, como sempre, esteve com ela!
Marcos Bastinhas nada pôde fazer diante do pior toiro da tarde, o único que não serviu. Não via bem, atravessava-se, não tinha lide possível. O cavaleiro bem se esforçou, mas ao terceiro curto deu a lide por terminada. Não havia mais nada a fazer.
Pegaram, com garbo e galhardia e muita emoção à mistura, os forcados de Santarém e os de Alcochete.
O valente Diogo Sepúlveda, cabo dos Amadores de Santarém, abriu a tarde e deu o exemplo com uma espectacular pega de caras em que foi muito bem ajudado pelos seus forcados, mas em que se destacou a sua técnica e a sua raça, mais aquele par de braços de ferro. Enorme, como sempre! Pelo grupo da terra pegaram ainda - e bem - David Inácio (à primeira) e João Torres Vaz Freire (à terceira), tendo recolhido à enfermaria, na primeira tentativa, o forcado José Fialho, que dava ajudas - e que, segundo sabemos, já se encontra em casa e em recuperação, não tendo sofrido, felizmente, nenhuma lesão grave.
O valente grupo de Alcochete esteve ontem uns pontos abaixo do seu melhor. Diogo Timóteo pegou à terceira; o cabo Vasco Pinto fechou-se à segunda, após violentíssimo derrote e colhida na primeira tentativa; e Tomás Torre do Valle pegou o último toiro à segunda.
Houve brindes de Bastinhas e Sónia ao provedor da Santa Casa da Misericórdia, Mário Rebelo; de Luis Rouxinol ao nosso companheiro Emílio de Jesus, felizmente recuperado e de novo em acção e em forma; e do grupo de forcados de Santarém aos seus antigos elementos José Carrilho (também ele a recuperar de terrível "cornada") e Luis Freire Gameiro, o autor da primeira pega executada em Santarém, há 50 anos, na corrida de inauguração da Monumental.
Antes da corrida, a Misericórdia prestou homenagem, num acto que decorreu na praça, a todos os que, de uma forma ou de outra, contribuiram ao longo dos últimos cinquenta anos, para o engrandecimento e a valorização da praça de toiros de Santarém, entre os quais os intervenientes ainda e felizmente vivos, da corrida inaugural em 1964. Presente a filha do saudoso Celestino Graça. Pena que não tenha havido uma referência ao saudoso empresário Manuel Gonçalves, que durante muitos anos elevou bem alto a Monumental de Santarém, esgotando-a, com as suas recordadas corridas da Rádio Renascença - desta cerimónia levada a cabo pela Santa Casa, publicaremos amanhã uma desenvolvida reportagem fotográfica de Emílio de Jesus.
Ao intervalo da corrida, foram descerradas placas nos corredores da praça: uma alusiva ao 50º aniversário da Monumental, outra ao centenário do grande obreiro da praça, Celestino Graça e duas de homenagem aos bandarilheiros scalabitanos César Marinho e Pedro Gonçalves, que este ano comemoram, respectivamente, 50 e 25 anos de alternativa.
A corrida foi superiormente dirigida, como é seu timbre, por Lourenço Luzio, assessorado pelo médico veterinário Dr. Luis da Cruz.

Já a seguir, não perca: os Momentos de Glória, as pegas uma a uma e as fotos dos Famosos!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com