sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Alcochete, ontem: praça cheia, tudo de pé e o resto são cantigas!

A foto diz tudo: o público levantou-se a aplaudir Pablo Hermoso!
Público de pé a aplaudir a raça e o valor do jovem António Prates
Quando Rui Salvador se encasta, não há crise de cavalos que o vença! Grande
e valoroso Toureiro! Sempre! Tivesse ele hoje uma quadra como as de outros
tempos e ninguém o parava!
João Telles e Marcelo Loia: grande êxito dos dois no sexto toiro da noite
Ontem, motivos para rir a bom rir não faltaram em Alcochete. Que o digam Pablo
Hermoso
, José Luis Cochicho, João Palha R. Telles e até mesmo o empresário
António Manuel Cardoso "Nené"!...


Miguel Alvarenga - Praça cheia e todos de pé, ontem, a aplaudir uma das mais agradáveis noites da presente temporada e que fechou com chave de ouro esta triunfal edição da Feira do Toiro-Toiro em Alcochete, que este ano assinalava os 75 anos das portuguesíssimas festas do Barrete Verde e das Salinas.
Cartéis bem rematados e a garantia do toiro-toiro - que é o mesmo que dizer, da emoção e da seriedade - na arena, continuam a ser o segredo do sucesso desta praça e da actividade, já lá vão 36 anos, do empresário António Manuel Cardoso "Nené" (na foto ao lado, com Pablo Hermoso de Mendoza). A feira estava até aqui marcada por um grande triunfo de Moura Caetano e dos Forcados Amadores de Alcochete na primeira corrida e outro de Francisco Palha na segunda.
Ontem, pouco faltou para esgotar a lotação da praça - impunha-se que isso tivesse acontecido e é lamentável que assim não tenha sido. Onde anda a nossa autoproclamada aficion? A banhos no reino dos Algarves?...
Mas cheia ou não cheia (importa assim tanto?), a verdade é que a corrida de ontem foi daquelas que marcam - e fazem novos aficionados.
A presença de Pablo Hermoso, que pela primeira vez na sua carreira toureava na pequena praça de Alcochete, motivou, sem sombra de dúvidas, a grande afluência de público. Um e um são dois e a verdade é que a inclusão de João Telles neste último cartel de Alcochete terá também trazido algum público. O jovem toureiro da famosa dinastia da Torrinha está a marcar de forma significativa esta temporada de 2016. Ontem voltou a arrear fortíssimo, como adiante pormenorizarei. Está um leão!

Quando Salvador se encasta...

Rui Salvador era o cabeça de cartaz. Atravessa, há já uns anos, uma crise de cavalos que arrasa qualquer um... menos a ele. Ontem mesmo ficou provado que tivesse o Rui uma das quadras-maravilha que outros têm e, de certeza, certezinha, ninguém o parava ou lhe falava mais alto.
A primeira lide, a um empenhado toiro de Passanha, teve mais baixos que altos, fortes encontrões, ferros que resultaram passados, mas nem por isso o público deixou de aplaudir e Rui foi mesmo contemplado com volta à arena...
Quando saíu à arena para lidar o seu segundo, um exemplar de R. Telles, já Pablo Hermoso e João Telles tinham mais ou menos galvanizado o público e para Salvador não podia haver meias tintas. Encastou-se. Tem uma raça para dar e sobrar, um coração que chega aos céus e um ofício e uma experiência que conseguem dar a volta a tudo, mesmo à falta de grandes máquinas (entenda-se, cavalos) para ser como era dantes. Pois bem, foi um assombro. Ferrões de parar corações, entradas ao piton contrário em terrenos de meter medo ao susto, uma lide de raça e de casta. Um Rui Salvador como noutros tempos. Grande. Enorme.

Pablo: e o difícil se fez fácil

Com Pablo Hermoso veio a perfeição, a suavidade, o temple, o toureio tranquilidade, onde tudo parece simples e tão fácil. Toureou com a maioria dos craques, brilhou sobretudo com o "Berlin" no primeiro toiro (um belíssimo exemplar da ganadaria Passanha) e depois com o "Disparate" e o "Donatelli" no segundo toiro, um animal fantástico e altamente colaborante, sem facilitar em demasia, da ganadaria Ribeiro Telles.
Foi tudo bem feito, foi tudo perfeito, com a classe, o saber, o brilho e a arte que dão vida e razão de ser a uma carreira de glória de três décadas. O público delira com Pablo Hermoso e Pablo Hermoso agiganta-se perante o carinho e a entrega do público português. É um ídolo. Deu uma volta no primeiro toiro e duas no segundo, a primeira com o forcado António Goes (autor da melhor pega dos Amadores de Santarém, que lhe brindara a sorte) e outra sózinho, com o público todo de pé, aplaudindo, ovacionando em uníssono. Fantástico.

Ninguém trava o "tsunami" Telles...

João Ribeiro Telles anda aquilo a que se chama danado para partir a loiça toda, rebentar com o quadro, proclamar que aqui quem manda é ele. Está um verdadeiro "tsunami" taurino e promete fazer "estragos" nas mentes pensadores que julgam reger hoje em dia a Tauromaquia lusa. Todas as suas actuações este ano, sem excepção, têm sido marcadas por esse grito de afirmação - e ontem em Alcochete, João não fugiu à regra.
No seu primeiro toiro, terceiro da corrida, um excepcional exemplar da ganadaria da casa e que justificou no final (em pleno) a volta à arena de seu pai, João Palha R. Telles, representando a ganadaria, João respondeu ao primeiro triunfo de Hermoso com uma lide vibrante e onde se destacou sobretudo na brega, no toureio, mas também na ferragem, dando toda a prioridade ao oponente, aguentando, templando, mandando, cravando com emoção num palmo de terreno, saindo airoso e com alardes de muita arte. Marcou.
No segundo que enfrentou, de Passanha, voltou João Telles a afirmar a força da sua razão - que é a razão da sua força. Está moralizado, bem montado, numa só palavra, embalado. Tem somado por êxitos todas as suas actuações. Nesta segunda lide houve altos e baixos, mas foram maiores e bem mais marcantes os momentos em que parou corações, provocou explosões e deixou verdadeiros ferros de suprema antologia. Público em delírio, um triunfo fortíssimo, mais um, de João Ribeiro Telles.

Cuidadinho com o jovem Prates!

No final da corrida saíu à praça o jovem praticante António Prates - a nova estrela de que se fala. Recebeu o novilho de Passanha, encastado e a pedir contas, tipo com "ratos na barriga", sem facilitar, montando (tomem nota) o cavalo "Farpas", da coudelaria Lima Duarte, assim baptizado em homenagem ao então jornal "Farpas" e que foi pertença da actriz Rita Pereira, estando agora na quadra de Prates.
O jovem cavaleiro tem maneiras, tem raça e tem, sobretudo, uma rara e especial intuição. Vai ser um caso - não duvido, nunca duvidei, desde os tempos em que aqui apareceu de amador, pequenino e franzino. Ontem, como é natural, acusou de início (mas pouco) o peso e a responsabilidade de estar ali a fechar uma noite que tinha sido de inspiração e apoteose para três "leões" do toureio a cavalo. Mas não se atemorizou. Fez-se à guerra e fez-se à praça com a decisão e o querer dos invencíveis. Resultado: uma actuação empolgante, o público com ele permanentemente de pé, a acarinhar, a aplaudir, a reconhecer o seu valor. Esteve muito bem a lidar e fantástico a cravar, galvanizando com o cavalo dos "quiebros". Os dois primeiros ferros, num palmo de terreno e quase sem saída para o cavalo, foram de antologia. Depois atrapalhou-se, o seguinte não correu da melhor forma e o último foi um ferro para emendar isso mesmo. Mas o público reconheceu a arte e o valor de António Prates - e premiou-o com aplausos e com merecida volta à arena. Temos Toureiro! E este vai dar que falar.

Uma pega de cada grupo e pouco mais

Tantos os toiros de Passanha como os de Ribeiro Telles em nada facilitaram ontem a vida aos forcados (grupos de Santarém e do Aposento do Barrete Verde de Alcochete), que também não se pode dizer que tenham estado brilhantes diante deles. Antes pelo contrário. Houve a registar duas grandes pegas, uma de cada grupo - a de Marcelo Loia, o valente cabo dos forcados do Barrete Verde; e a de António Goes, dos Amadores de Santarém, o fantástico forcado de dinastia que no ano passado abriu a porta grande do Campo Pequeno ao seu grupo.
A corrida de ontem em Alcochete, uma daquelas que fazem aficionados, foi muito bem dirigida por Tiago Tavares. No final, os quatro cavaleiros atravessaram a arena debaixo de fortíssima ovação. O que diz tudo. Não é preciso dizer mais nada.

Amanhã, não perca, a grande foto-reportagem de Carlos Silva: os melhores momentos da corrida e as fotos de todos os Famosos.

Fotos M. Alvarenga