| O triunfador de ontem em Lisboa, Francisco Correia Lopes, com seu pai, o antigo cavaleiro José Manuel Correia Lopes |
| Ontem no Campo Pequeno quem toureou a cavalo de verdade, com seriedade, com bases e com escola, foi o jovem Francisco Correia Lopes |
| Cláudia Almeida chega ao público, faz a festa, desta os foguetes, "está sempre" em modo Albufeira, mas a verdade é que agradou, a malta aplaudiu... |
| A Francisco Núncio falta ainda (quase) tudo para se poder um dia apresentar em condições na primeira praça do país... |
| Raça, garra, postura, ousadia - Campo Pequeno veio abaixo com a toureira Paula Santos! Aplausos, ainda, para o belíssimo novilho de Murteira Grave |
Miguel Alvarenga - A afluência de um público entusiasmado, ontem, às bancadas da praça de toiros do Campo Pequeno (mais de meia casa) para apoiar e incentivar os novos valores na novilhada onde se deu um esboço do futuro, foi o primeiro grande êxito deste espectáculo - considerado “menor” por não incluir vedetas de primeiro plano. Mas toda a vida foi com promoções destas que se foi fabricando o futuro.
Apenas é preciso lamentar a redução de porteiros e o facto de terem estado abertas menos entradas de acesso à praça, o que gerou enormes filas de espera e provocou que muitos espectadores nem conseguissem assistir às cortesias - no incício das quais se guardou um minuto de silêncio pelo ganadeiro D. João Passanha, falecido ontem; pelo matador José Falcão, mortalmente colhido em Barcelona há 42 anos; pelo cavaleiro José Varela Crujo, colhido neste mesmo dia (11 de Agosto de 1983) há 33 anos, no Campo Pequeno, morrendo quatro anos mais tarde; e pelas vítimas dos incêndios registados nos últimos dias em todo o país.
O futuro passou por Lisboa - mas nem todos os que lá estiveram apontaram poder ter um grande e auspicioso futuro.
Atenção ao novo Correia Lopes!
No que aos cavaleiros diz respeito, futuro - e grande - vai ter de certeza o jovem Francisco Correia Lopes, um toureiro de dinastia, filho do antigo cavaleiro José Manuel Correia Lopes, que em 1977 sofreu grave colhida em Santarém, quando lidava um toiro de Grave, ficando vários dias em coma e perdendo uma vista, o que o acabou por obrigar a abandonar aquela que era, ao tempo, uma promissora carreira.
O Francisco tem escola, tem bases e está bem montado - uma trilogia importantíssima para quem quer ser alguém no reino do toureio a cavalo. É um clássico, um artista, ontem fez tudo bem feito e demonstrou que sabe o que quer e por onde vai. Deixou a melhor das impressões, é um excelente equitador e é um toureiro com princípios e que se rege por uma linha clássica, de verdade e de emoção. Nota vinte. O novilho era de Luis Rocha e foi extraordinário. O bom senso e a aficion do director de corrida João Cantinho permitiram que no final o representante da ganadaria acompanhasse o cavaleiro na volta à arena. Justíssima vassalagem.
Cláudia Almeida deixou-me exactamente a mesma impressão de quando a vi pela primeira vez, há um mês, em Alcochete. É uma cavaleira com garra, tem raça, está “viciada” em Albufeira nas touradas para inglês ver e por isso chega ao público, faz a festa e deita os foguetes, mas tudo numa linha mais popularucha que propriamente artista. Nenhuma vez foi de frente ao novilho (com qualidade, de Fernandes de Castro) e no fim pôs o par de bandarilhas pelo corredor e com o oponente parado… Havia na praça muita gente do toiro, entendida, mas havia também uma percentagem grande de turistas. Foi aplaudida, deu volta, agradou. E o que faz falta, como já dizia o Zeca Afonso, é agitar a malta. Ela agita.
Francisco Núncio, como também pude constatar há um mês no mesmíssimo festejo em Alcochete, também confirmou o que já “me tinha dito”: não está minimamente preparado para se apresentar na primeira praça do país. Vai ter que treinar ainda muito. Andou à deriva diante do novilho de Santa Maria, não aconteceu uma desgraça por falta de força do animal e o jovem Núncio evidenciou muita falta de conhecimentos, desconhecimento de terrenos, de tudo, quase nenhuma noção do que é estar ali. Uma verdura incrível para que alguém imaginasse e se tivesse batido para que ele estivesse na novilhada do Campo Pequeno, sabendo de antemão que ele (ainda) não tinha condições para estar.
Ostenta um apelido de tremendas responsabilidades, é inadmissível que tenha vindo nestas parcas - e perigosas - condições ao Campo Pequeno, um palco sagrado pelo qual é preciso ter muito respeitinho. Para esquecer.
Martins vai longe e Paula tem raça
Quanto ao toureio a pé, viu-se que João Martins vai longe, confirmou-se que Paula Santos tem imensa raça e foi pena não se ter percebido bem em que patamar podemos colocar Sérgio Nunes.
João Martins, o já muito placeado aluno do Maestro Vitor Mendes na Escola José Falcão de Vila Franca, tem ofício, tem classe e tem arte. Sabe o que faz e tem bom gosto. Toureou muito bem de capote, “picou-se” com o bonito e ousado quite de Sérgio Nunes e respondeu com outro de muito bom gosto, bandarilhou com poderio e evidenciando estar neste tércio como peixe na água e, com a muleta, desenhou uma faena completa ao bom novilho de Ribeiro Telles, variada, por ambos os lados, mandando e templando as investidas. Marcou a diferença. Vai ter, se Deus quiser, um futuro com brilho. E vai chegar longe, assim a sorte o acompanhe sempre.
Sérgio Nunes representou a Academia de Toureio do Campo Pequeno, de que era nos últimos anos o nº 2, a seguir a Diogo Peseiro, a estrela, agora já a ensaiar outros vôos. Foi a primeira vez que se apresentou na capital e fê-lo com ganas e com atitude, recebendo o exemplar de Canas Vigouroux à “verónica” e de joelhos em terra.
Não esteve brilhante com as bandarilhas e com a muleta mostrou entrega mas faltaram argumentos e o novilho em nada ajudou, acabou-se cedo, não permitindo ao toureiro brilhar. Em suma, um triunfo que ficou adiado. Não ouviu música, nem deu volta, limitando-se a agradecer nos médios o reconhecimento dos aficionados pelo seu querer, pela sua atitude, pela sua vontade.
Toureou com um traje de luces que foi de José Luis Gonçalves, o seu antigo mestre, ainda incapacitado pela grave lesão cerebral que sofreu há três anos quando caíu de uma escada num estúdio onde se ensaiava um programa da TVI. Sérgio Nunes brindou a faena a Isabel Gomes, a Mulher de José Luis Gonçalves, que assistia numa barreira a convite da empresa.
Paula Santos é a nova vedeta do nosso toureio no feminino. Ainda por cima, a pé. É valente, tem uma raça enorme e muita garra. Artista com o capote, mandona com a muleta, foi com ela que o público “veio abaixo”.
Enfrentou um belíssimo novilho de Murteira Grave - que lá por ser ainda novilho, não deixa de ser Grave e de marcar a diferença, como marcou, de facto - e tirou-lhe todo o partido até, por um golpe de inexperiência, “se deixar agarrar" com violência. Aí, ficou desconfiada e abreviou a faena. Mas ficou da jovem Paula, aluna da Escola da Moita, uma imagem altamente positiva de quem quer ir longe numa carreira que não é fácil e que, sobretudo, vai obrigá-la e abrir caminho em Espanha, “entre os leões”.
Forcados de Alter: digna passagem por Lisboa
Os Forcados Amadores de Alter do Chão tiveram, como já aqui se referiu mais pormenorizadamente, uma digna passagem pela primeira arena do país.
Pegaram os três novilhos lidados a cavalo, pertencentes às ganadarias de Fernandes de Castro, Santa Maria e Luis Rocha e foram caras João Tita (à terceira), Marco Pires (à segunda) e João Galhofas (à primeira), este na melhor pega da noite.
João Cantinho assumiu a direcção da novilhada com muito bom senso e esteve assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com
