sexta-feira, 12 de agosto de 2016

"Nené" a 48 horas do arranque da Feira de Alcochete: "Os toiros aqui assustam, dão emoção!"

Alcochete vive a partir de domingo a sua tradicional Feira Taurina, a melhor
de Portugal
A estreia de Pablo Hermoso de Mendoza em Alcochete na corrida de 5ª feira,
dia 18, é o prato-forte da Feira do Toiro-Toiro que domingo arranca em Alcochete
Um dos imponentes toiros de Canas Vigouroux para a corrida de 3ª feira, dia 16.
Na foto de baixo, o empresário António Manuel Cardoso, há 36 anos a gerir a
carismática e tão emblemática praça de toiros de Alcochete

António Manuel Cardoso “Nené”, grande (eterno) forcado, antigo cabo dos Amadores de Alcochete, empresário e apoderado de toureiros, gere há 36 anos a praça de toiros de Alcochete, onde já neste domingo tem início mais uma Feira do Toiro-Toiro, com três corridas, a última, na quinta-feira, 18, marcada pela estreia nesta castiça arena de Pablo Hermoso de Mendoza. A 48 horas do arranque daquela que é considerada como a melhor feira taurina do país, “Nené” fala em exclusivo ao “Farpas” e revela alguns dos segredos que tornaram possíveis estes três grandes cartéis de 2016. Vamos ouvi-lo.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Satisfeito, “Nené”, com estes cartéis que marcam a edição de 2016 da Feira do Toiro-Toiro em Alcochete?
- Eu, por norma, em tudo na minha vida, quero sempre mais e melhor e por isso nunca me sinto satisfeito na totalidade, procuro sempre superar-me e conseguir fazer ainda mais e muito melhor. Mas confesso, com imenso orgulho, que a edição deste ano da Feira do Toiro-Toiro me dá uma alegria imensa pelos resultados que consegui, pelos cartéis que apresento e pela presença, que é a regra número-um desta feira e das minhas corrida, do toiro-toiro em todas as corridas. Para assustar, para dar emoção.
- Não deve ter sido fácil rematar os três cartéis, onde marcam presença as primeiras figuras nacionais e dois dos mais importantes rejoneadores espanhóis, também presentes em todas as grandes feiras de Espanha…
- Não foi fácil, claro que não foi. Esta feira é o fruto de muitos meses de trabalho, de muitas noites sem dormir… Há um ano que tentava, como sabem, trazer o Pablo Hermoso a Alcochete. Já o consegui este ano apresentar em Évora e tenho um orgulho enorme em poder apresentá-lo, pela primeira vez, na praça da minha terra, na bonita e castiça praça de toiros de Alcochete. Onde ele vem para triunfar, como sempre acontece, em competição com o Rui Salvador e com o João Ribeiro Telles, que está a liderar esta temporada, numa noite em que, por especial deferência do Pablo Hermoso, vamos também poder ver António Prates a lidar um novilho no final da corrida, ele que é a grande vedeta do futuro e que já esta ano obteve um triunfo apoteótico no Festival da Juventude nesta mesma praça.
- Não se pode agradar a gregos e troianos, eu sei… mas faltam em Alcochete algumas figuras… Houve algum problema em especial com alguma delas para não estarem nesta feira?
- Problemas não houve. O único problema mesmo que posso apontar é o facto de algumas figuras exigiram cachet’s que não são comportáveis e que não estão dentro da realidade que se vive. Mas os que não vieram este ano hão-de vir no próximo. E, sobretudo, numa feira com três corridas nunca é possível colocar todos os toureiros. Muitos mereciam estar e não podem estar. O que posso dizer é que os que estão merecem todos aqui estar, não está cá ninguém por favor…
- Vamos começar domingo com o Concurso de Ganadarias. Que expectativas, empresário?
- Grandes, como sempre. E como o cartel o justifica. É, como sempre, a única corrida que se realiza à tarde, as outras duas são nocturnas. É um Concurso de Ganadarias digno de qualquer primeira praça do mundo, para lidá-lo vamos ter o veterano António Telles, o já consolidado João Moura Caetano, que esta temporada comemora 10 anos de alternativa e ainda o espanhol Manuel Manzanares, que está a ombrear nas primeiras feiras espanholas com as grandes vedetas do rejoneio, sendo ele próprio já uma figura respeitada. Como também é tradição, o meu grupo (Amadores de Alcochete) pega em solitário os seis toiros deste concurso no ano em que está a comemorar triunfalmente o seu 45º aniversário.
- Depois, a corrida dos toiros Canas Vigouroux na terça-feira, com uma homenagem ao saudoso forcado “Pitó”… um cartel também rodeado de justificada expectativa, concorda?
- Sim. Pelos cavaleiros, pelos forcados, pela exaltação do saudoso "Pitó" exactamente na data em que passam 14 anos da sua morte na cara de um toiro, na praça da Arruda, mas sobretudo pelos toiros. O Grupo de Forcados de Vila Franca há muito que merecia estar na Feira de Alcochete e uma vez que a corrida é no dia 16, exactamente quando passam 14 anos da trágica morte do forcado Ricardo Silva “Pitó” na arena da praça da Arruda dos Vinhos, os seus companheiros fizeram questão de que aqui se prestasse uma homenagem à sua memória, o que é justíssimo, sobretudo numa praça onde o nosso grupo também perdeu um dia um dos seus mais jovens valores, o sempre recordado Helder Antono. Os sete toiros de Canas Vigorou estão imponentes, é uma corrida para assustar e para emocionar, o cartel é muito diversificado e acredito que vai ser uma grande noite de toiros. E de pegas, que não podemos esquecer que Alcochete é a terra em que o forcado é rei. Com os Amadores de Vila Franca, estarão a competir os do Aposento do Barrete Verde de Alcochete.
- E chegamos a quinta-feira, dia 18, a noite grande desta feira. Praça esgotada?
- Acredito que sim. Os bilhetes para a feira já estão à venda há uma semana, a procura tem sido imensa para as três corridas, mas sobretudo para esta, pela presença de Pablo Hermoso de Mendoza. Os toiros de David Ribeiro Telles e de Passanha são também imponentes e com um enorme trapio, há um novilho muito bonito de Romão Tenório para o jovem Prates e nas pegas vamos receber em Alcochete o centenário Grupo de Santarém, também aqui em competição com os Amadores do Barrete Verde.
- Há mais de 30 anos a gerir a praça de Alcochete, esta praça é a sua "menina dos olhos lindos"?
- Já geri muitas e importantes praça de toiros deste país, durante quase 20 anos em sociedade com o meu particular amigo Rogério Amaro, depois sem ele, mas confesso que apesar do gosto e do empenho, do profissionalismo e da dedicação que ponho em todas elas, a de Alcochete é, na verdade, a minha "menina dos olhos de ouro". Estou à sua frente há 36 anos, só houve um único ano em que não a geri, quando aqui esteve o empresário Humberto Pardal, que entretanto desapareceu desta actividade. A praça está linda, foi toda retocada nos últimos dias para receber a grande Feira do Toiro-Toiro e todos os aficionados que normalmente vêm de todos os cantos do país para ver as corridas em Alcochete. Onde, na verdade, a Festa tem um outro sabor!
- Os dados estão lançados, assim corresponda o público e por certo vamos três grandes enchentes como reconhecimento pelo seu grande esforço ao montar esta importante Feira Taurina. E a “guerra” com o Campo Pequeno, motivada pela corrida de quinta-feira, está sanada?
- Não houve nenhuma guerra. À partida, houve apenas alguma irritação e exaltação por parte da empresa do Campo Pequeno, porque queriam dar no dia 18 uma corrida comemorativa dos 124 anos da inauguração da praça e não lhes pareceu bem que eu contratasse o Pablo Hermoso para o mesmo dia em Alcochete. Ora bem, as festas do Barrete Verde e das Salinas, que este ano assinalam o seu 75º aniversário, há 75 anos que se iniciam na sexta-feira do segundo fim-de-semana de Agosto e as corridas sempre foram no domingo, na terça e na quinta. Queriam agora que eu fosse dar a corrida no Natal só para não coincidir com a do Campo Pequeno? Há que haver bom senso nestas coisas, a data de quinta-feira é tradicional na Feira de Alcochete e a vinda do Pablo é uma mais-valia para a nossa praça e para a nossa feira e nunca, em tempo algum, uma “afronta” ao Campo Pequeno, por amor de Deus! Agradeço publicamente à empresa do Campo Pequeno por ter tido o bom senso de não dar corrida nesse dia. Com a união de nós todos fazemos a nossa força. Não podemos andar aqui a implicar uns com os outros…
- Uma última questão, “Nené”. Este ano chegou a estar projectada uma quarta corrida na Feira de Alcochete, onde actuaria o matador Pedrito de Portugal, que também iria tourear em Évora em Setembro, o que aconteceu para que isso não se concretizasse?…
- Ora, esta entrevista estava a correr tão bem, Miguel... Prefiro nem falar disso. Olhe, ontem mesmo aconteceu o que eu esperava há algum tempo e que, de algum modo, explica a razão por que se abortaram essas duas corridas que a empresa Toiros & Tauromaquia tinha projectadas com o toureiro Pedrito: o apoderado Maurício do Vale deixou-o e, como o “Farpas” muito bem referiu, nem sequer chegou a aquecer o lugar. Não dou importância ao assunto. Era, de facto, para haver uma quarta corrida em Alcochete e essa de Setembro em Évora. Mas não é fácil levar por diante uma contratação com o Pedrito… E prefiro ficar-me por aqui. Até domingo! Venham todos, até porque os anti-taurinos parece que vêm para aí fazer barulho e é bom que cá estejamos todos para lhes mostrar a nossa força, a nossa união!

Fotos Emílio de Jesus, Maria Mil-Homens, M. Alvarenga e D.R.