Francisco Macedo (à esquerda), o autor da histórica pega de 1998 em Madrid, com o então cabo e fundador do Grupo do Aposento da Chamusca, Tiago Prestes, junto ao cartaz da célebre corrida |
Um aspecto do agradável jantar de ontem em Salvaterra de Magos |
Pormenor da tertúlia de Simão Neves, em Salvaterra de Magos, onde ontem teve lugar este jantar |
O anfitrião Simão Neves com os valentes forcados que há duas décadas fizeram história em Madrid e Miguel Alvarenga |
O grupo em animado convívio depois do jantar |
Simão Neves quando dava os últimos retoques na magnífica paella de ontem |
Alguns dos forcados do Aposento da Chamusca que há vinte anos fizeram história na Monumental de las Ventas, em Madrid, com uma pega de Francisco Macedo (foto ao lado) que enlouqueceu a aficion espanhol, foi capa de todos os jornais no dia seguinte e abriu os telejornais nas televisões, reuniram-se ontem em Salvaterra de Magos, na tertúlia de Simão Neves (ao tempo forcado do grupo, na foto a rabejar o toiro, hoje consagrado picador) para assinalar esta efeméride - que foi um marco para o grupo e se comemora amanhã, dia 26 de Julho.
Era o ano de 1998 e Madrid dava dois festejos (o primeiro, uma novilhada mista no dia 24 de Julho com o então novilheiro Mário Coelho filho e o segundo a 26, uma corrida mista em que participaram os forcados) para comemorar a realização da Expo 98 em Lisboa.
No jantar de ontem, a que faltaram alguns elementos do grupo por motivos de força maior - e em que a Equipa-Maravilha do "Farpas", Miguel Alvarenga e Emílio de Jesus, teve honras de convidados especiais - estiveram presentes o antigo cabo Tiago Prestes, o actual cabo Pedro Coelho dos Reis, Francisco Macedo (o "Herói de Madrid"), os antigos forcados João Manuel Paulo, Ricardo Tavares Rodrigues (e seu pai, Miguel T. Rodrogues, que não sendo forcado, foi sempre um grande apoiante e acompanhou muito o grupo), João Tiago Dias Costa, Tiago Ribeiro, João Landureza, o anfitrião Simão Neves e ainda António Vinagre, actual forcado do grupo, mas que ainda não o integrava há duas décadas quando aconteceu a tarde de glória em Madrid.
O Grupo do Aposento da Chamusca, que esta temporada cumpre 34 anos de actividade, tinha ao tempo 14 anos de existência e era comandado por Tiago Prestes, o cabo que o fundou e o chefiou durante 27 anos e que foi sucedido por Pedro Coelho dos Reis (Pipas). Foi esta, aliás - e infelizmente - a última vez que actuaram forcados na Monumental de Madrid.
E como é que eles lá foram parar?
Tiago Prestes recordou-nos ontem:
"Foi o João Duarte, empresário que esteve sempre muito ligado ao grupo e que nos apoiou sempre imenso desde a primeira hora, quem nos levou a pegar na Monumental de Madrid. Nesse tempo, ele era apoderado do João Moura, cujos apoderados em Espanha eram os Lozano, empresários de Madrid. Certo dia, estava eu com o meu pai, que estava a montar a cavalo e liga-me o João Duarte a perguntar se nós queríamos ir pegar a Madrid. Ia ser organizada uma corrida comemorativa da Expo e os Lozano tinham-no encerregue de tratar da ida de um grupo de forcados. Na mesma corrida iam tourear um cavaleiro português, o João António Ventura, pai do Diego Ventura; e um matador português também, o Rui Bento Vásquez, além de dois matadores espanhóis, 'El Milionário', que era apoderado pelo Ricardo Relvas e Juan Cuellar".
E continua:
"Quando o João Duarte me falou de Madrid, pensei que fosse para uma praça nos arredores de Madrid. Mas ele esclareceu: 'É em Las Ventas!'. E o meu pai disse-me: 'Aceita, não deixem de ir, a Madrid tem que se ir sempre, nem que seja para morrer!'. E lá fomos!".
Chegou o dia:
"Estava anunciado um toiro de Miura e eu perguntei logo se era esse que nos tocava. Disseram-me que não, que o Miura tinha ido para trás porque estava nos currais um toiro 'mais antigo' da ganadaria dos irmãos Astolfi, um toiro com cinco anos e 530 quilos e foi esse que nos tocou. Sairam também três de Ernesto de Castro, mas foram para os matadores e outros de outra ganadaria. O meu problema depois era saber quando pegávamos. Nós já tínhamos pegado em Espanha e normalmente acertávamos com o rejoneador quando era mais ou menos a altura em que considerávamos que devíamos pegar o toiro. Pedi autorização ao alcaide e ao presidente da corrida e pus-me de acordo com o António Ventura, que foi impecável e disse logo que pegaríamos quando achássemos que era a altura. E assim aconteceu".
Para a cara do toiro foi Francisco Macedo, então com 32 anos, "porque era o forcado mais antigo do grupo", explica Tiago Prestes. Os restantes elementos que saltaram para a arena - alguns dos quais ontem voltaram a reunir-se neste inesquecível jantar - foram Pedro Coelho dos Reis, o actual cabo, que deu primeiras ajudas; João Landureza e José Francisco Ezequiel, conhecido por "Samarra", o único já falecido (assassinado a tiros de caçadeira em Agosto de 2004 em Almeirim), que deram segundas ajudas; Mário Serafim, João Pedro Matos e João Alcanena, que deram terceiras ajudas (e ontem não puderam estar presentes) e Simão Neves a rabejar.
O toiro foi pegado à primeira tentativa com enorme brilhantismo de Francisco Macedo e com os companheiros a ajudarem oportunamente - e a praça explodiu em ovação!
Além destes oito que executaram a célebre pega há vinte anos em Las Ventas, estavam ainda fardados os forcados João Tiago Dias Costa, Vasco Coelho dos Reis, Ricardo Tavares Rodrigues, João Manuel Paulo e Tiago Ribeiro.
No paseíllo (cortesias), estiveram na arena o cabo Tiago Prestes, Francisco Macedo, Pedro e Vasco Coelho dos Reis, Francisco "Samarra", João Landureza, João Manuel Paulo e Tiago Ribeiro.
"O Ventura não teve sorte a matar, o Rui Bento e os dois matadores espanhóis também não e ninguém cortou orelhas nessa corrida. Quando no final atravessámos a arena, fomos os únicos que o público ovacionou. Ficámos no Hotel Rainha Victória, que era ao tempo o hotel dos toureiros e lembro-me que no dia seguinte o Rui Bento bateu à porta do meu quarto e disse: 'Então vocês ainda estão a dormir? Acordem e vejam a televisão, que os telejornais estão a abrir com a vossa pega!'. Depois descemos, chegámos à rua, olhámos para or jornais e a nossa pega estava na primeira página de quase todos eles! Foi, na realidade, uma jornada que marcou o nosso grupo e que ainda hoje é lembrada em Madrid, até porque foi, infelizmente, a última pega que se fez em Las Ventas", recorda Tiago Prestes.
No próximo ano cumpre-se mais um aniversário importante na história do Aposento da Chamusca: o da sua actuação na Monumental de Valência, na Venezuela, onde repartiu cartel com os Amadores do Aposento da Moita. Pretexto, certamente, para mais um jantar!
Lá estaremos!
Fotos Emílio de Jesus