quinta-feira, 2 de maio de 2019

Almeirim: público encheu a praça, toureiros, forcados e toiros estiveram em grande e a tarde ficou na História!

João Moura abriu praça ontem na tarde da reinauguração da Arena D'Almeirim com
uma grande actuação
A divina - e cada vez melhor - maestria de António Ribeiro Telles fez ontem
história na renovada Arena D'Almeirim
Momento grande no terceiro toiro da tarde: Luis Rouxinol, um figurão sempre em
alta!
Pureza, verdade e maestria na lide de Moura Jr., uma actuação acima da média
Não fossem as três vezes em que falhou a concretização do par de bandarilhas,
deixando sempre apenas "meio" e teria sido brilhante a actuação de Rouxinol Jr.
António Telles (filho) reafirmou ontem que é um caso. Um caso importante!
Estreia brilhante de Leonardo Mathias como cabo do Aposento da Moita. Um
pegão ao segundo toiro da corrida. A consagração de um grande forcado,
agora também a exercer as funções de cabo do histórico grupo moitense
Quinto toiro: a grande pega do enorme forcado Ruben Gioveti, dos Amadores
de Santarém. Num gesto de humildade, de solidariedade e de grandeza (vê-se
pouco...), recusou a volta à arena, mais que merecida, por Rouxinol Jr. a ter
recusado também. Grande Forcado e grande Homem


Almeirim viveu ontem uma histórica e inesquecível tarde na reinauguração da praça com as bancadas cheias até às bandeiras. Triunfo incontornável da tauromaquia. Competição de pais e filhos representantes de três das maiores dinastias do nosso toureio a cavalo. Todos estiveram em grande, cavaleiros e forcados. Mas se houvesse prémios por equipas, ontem a vitória tinha sido dos Ribeiro Telles

Miguel Alvarenga - A agora denominada Arena D'Almeirim encheu ontem por completo, pouco faltando para esgotar a sua lotação e isso foi o primeiro grande triunfo de uma tarde que vai ficar na História. Triunfo dos toureiros e dos forcados que levaram público à praça. Triunfo do empenho e do profissionalismo de Rui Bento e da sua equipa, a provar que, afinal, não é assim tão complicado repôr no mapa uma praça que estava em baixo.
Muito bem apresentados, sérios, a transmitir emoção na generalidade, a receber aplausos mal entraram na arena, a pedir contas e a "dar trabalho", os toiros da ganadaria Vale Sorraia foram "meio caminho andado" para o sucesso da tarde. Houve algum condicionamento no seu comportamento pelo peso do piso da arena, um caso que tem que ser já corrigido e emendado para que não se volte a lidar no areal da Caparica...
Os seis cavaleiros, pais e filhos, dignos representantes de três históricas dinastias, as de Moura, de Ribeiro Telles e de Rouxinol, conquistaram êxitos memoráveis e a corrida decorreu em ritmo de verdadeira alegria e apoteose, aquilo a que se chama uma grande tarde de toiros. Se houvesse que premiar por equipas/famílias, há que reconhecer, sem qualquer desprimor pelos restantes "conjuntos", que ontem foram os Telles quem levou a melhor.
Os anos passam, estou farto de o escrever, e o Maestro António está cada vez melhor. Com atitude e "sem idade", foi dar a cara e esperar o seu toiro à porta dos curros. Depois, lidou-o como lidam os eleitos, os predestinados, como dava gosto ver lidar seu pai, o nosso sempre eterno e querido Mestre David. O segundo comprido ficou descaído porque faltou toiro a António no momento exacto da reunião. Mas a seguir agigantou-se e não foi esse deslize que manchou uma actuação de plena e consagrada maestria, onde tudo foi bem feito. Ferros em sortes de verdade, reuniões perfeitas ao estribo, entradas destemidas a vencer o piton contrário, a maravilha de sempre.
Seu filho António lidou em último lugar um novilho da casa (ganadaria de David Ribeiro Telles) que teve qualidade e investiu sempre com clareza. O jovem António é, por si só, uma alegria. E um toureiro que vai ser grande. E bom. Entendeu na perfeição o novilho, tem conhecimentos, raça e arte de sobra para brilhar como as estrelas. De todas as vezes que o vi, e não foram ainda muitas, vi-o sempre bem. Destemido, ousado, chega ao público pela simpatia e pela alegria que irradia (seu pai, com esta idade, era mais reservado, apesar de também muito bom), mas sobretudo pelo bom toureio que executa. Fechou a tarde com chave de ouro.
A abri-la esteve o Maestro João Moura. Enorme, como sempre. A tratar os toiros por tu com a garra e a maestria de todos os tempos. O público, no entando, estava ainda meio frio e muitos espectadores nem sequer tinham ainda entrado na praça. Houve alguma "frieza" na lide, faltou aquele impacto costumeiro das actuações de Moura. Mas João superou tudo isso e impôs a cátedra do seu toureiro.
João Moura Júnior, a ordem não foi esta, claro, mas estou a falar no conjunto das equipas de pais e filhos, teve uma actuação acima da média no quarto toiro da tarde. É um figurão, está num momento único e tem uma quadra de cavalos fantástica. Arreia como os maiores e ontem teve mais um triunfo memorável, daqueles que fazem aficionados. Brega magistral, cites calmos e tranquilos, a entrar depois pelo toiro dentro e a cravar com a emoção de sempre, causando calafrios, rematando as sortes ao melhor estilo lidador dos Moura. Marcante, como sempre.
Luis Rouxinol lidou, também com a costumeira maestria, o terceiro toiro da corrida, fechando a primeira parte, que foi a parte dos Maestros. Saber, profissionalismo, o habitual impacto com o público, um toureiro em permanente e imparável consagração, bom todos os dias. Lidou a primor, com ousadia e risco, bom gosto e sempre na perfeição. Não falha um ferro, não sofre um toque, sai-lhe sempre tudo bem e isso faz dele, há mais de trinta anos, um toureiro desejado por todos os públicos e uma figura incontornável da nossa tauromaquia. Grande Luis!
Luis Rouxinol Júnior está em fase que já não é propriamente de afirmação, mas começa a ser de plena consagração. Com atitude e decisão, esperou o seu toiro no centro da arena e recebeu-o com uma emotiva sorte de gaiola que deixou logo o público em alvoroço. Seguiu em crescendo numa lide emotiva e de valor, com ferros em sortes de frente, a arriscar, a afirmar a verdade do seu bom toureio. Não fora a parte final, em que por três vezes falhou o par de bandarilhas, deixando apenas "meio", e teria sido brilhante. Teve no final a digna atitude de recusar a volta à arena, entrando apenas para entregar o seu tricónio ao forcado.
No que aos forcados diz respeito, houve dois pegões enormes dos dois grupos. A pega de Ruben Gioveti, dos Amadores de Santarém, ao quinto toiro da tarde; e a de Leonardo Mathias, que ontem fez a sua estreia - brilhante - como cabo do Aposento da Moita, ao segundo toiro. Gioveti não deu volta à arena, por Rouxinol Júnior a ter recusado também. Não se vêem atitudes destas todos os dias - de humildade e grandeza.
Pelos Amadores de Santarém pegaram também Francisco Paulos, à segunda e Salvador Ribeiro, à primeira. Pelo Aposento da Moita, foram também forcados de cara Salvador Pinto Coelho, à segunda e João Gomes, à primeira. Os forcados estiveram à altura da imponência dos toiros de Vale Sorraia.
Tarde de festa, corrida bem dirigida pelo novo director Marco Cardoso, que esteve assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luis Cruz. A corrida acabou com os seis cavaleiros e os dois grupos de forcados em praça e o público a brindá-los com uma calorosa ovação.
Tarde grande na recuperada Arena D'Almeirim - onde é agora necessário e urgente que se reveja o piso e se equacione, sei lá como, uma forma de encontrar condições para os cavaleiros no que ao local de "estacionamento" dos cavalos (e dos respectivos camions de transporte) diz respeito. A carismática Monumental está bonita demais para depois, nesse aspecto, assumir as desvantagens de uma praça portátil...

Mais logo, não perca a grande reportagem fotográfica de Mónica Mendes: os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos que ontem encheram Almeirim.

Fotos M. Alvarenga