segunda-feira, 13 de maio de 2019

Francisco Palha já abandonou o hospital: "Os médicos disseram que eu era maluco e não acreditavam que tinha continuado a tourear com uma lesão no ombro!"

Francisco Palha recebeu o bravo toiro de Veiga Teixeira com uma sorte
arrepiante que foi muito mais que uma tradicional sorte de gaiola. Foi ao
encontro do toiro mesmo à saída dos curros e quase entrou por eles dentro,
cravando um magistral ferro comprido e saindo depois num milimétrico
espaço de terreno. Nunca se tinha visto uma coisa assim!
Os momentos de dramatismo e angústia que ontem se viveram na arena
de Salvaterra de Magos
Francisco Palha prosseguiu a sua actuação mesmo lesionado e com a dor
estampada no rosto. Depois deu a volta à arena com o forcado e uma segunda
sózinho, sempre com o braço direito "pendurado", sem o conseguir mexer


Francisco Palha deslocou o ombro direito na aparatosa queda que ontem sofreu em Salvaterra. Mesmo assim, voltou à arena e mesmo lesionado protagonizou uma das mais brilhantes e heróicas actuações a que assistimos nos últimos tempos. O toureiro foi transportado para o Hospital de Santarém, de onde teve alta há momentos e falou ao "Farpas"

"Graças a Deus e, em princípio, não tenho nada partido. Desloquei o ombro direito, tenho uma inflamação e os médicos disseram que tinham que passar 72 horas para fazer novos exames e avaliar a verdadeira dimensão da lesão. Vou agora para casa e amanhã vou ser observado em Lisboa pelo Dr. Manuel Passarinho, mas à partida é menos grave do que se imaginava", disse o cavaleiro ao "Farpas" há poucos momentos, quando abandonava o Hospital de Santarém.
Francisco Palha iniciava a lide do terceiro toiro da corrida no concurso de ganadarias de ontem na praça de Salvaterra de Magos, um poderoso e bravo exemplar da ganadaria Veiga Teixeira que ganhou, muito justamente, o prémio de bravura, quando o acidente ocorreu.
O cavaleiro, grande triunfador da última temporada, brindara a sua lide a José Palha (filho) e aos céus à memória de Carmo Pereira Palha (viúva do saudoso ganadero José Pereira Palha), recentemente falecida.
Mandou sair da arena os seus bandarilheiros e esperou a saída do toiro para uma sorte de gaiola. Mas fez muito mais do que a tradicional sorte de gaiola. Não se limitou a esperar no centro da arena pela saída do toiro. Mal as portas se abriram a sombra do animal se fez ver, Palhinha avançou pela arena dentro e foi ao encontro do toiro mesmo à saída dos currais, cravando um ferro magistral e saindo da sorte num curtíssimo palmo de terreno. A praça veio abaixo e o público explodiu numa ovação estrondosa.
"Nunca vi uma sorte de gaiola assim, com esta atitude, esta ousadia e esta dimensão. Por pouco, entrava com o cavalo pelos curros dentro!", afirma Miguel Alvarenga, que durante o dia de amanhã aqui virá analisar em pormenor a triunfal corrida de ontem em Salvaterra.
Depois e quando aguentava a fortíssima investida do magnífico toiro de Veiga Teixeira - um toiro de respeito, um toiro de "meter medo" -, o cavalo escorregou e foi derrubado pelo toiro quando estava ainda em desiquilíbrio, arrastando o cavaleiro na queda, sofrendo ambos no chão ainda uma fortíssima investida do toiro. Viveram-se momentos de grande angústia e dramatismo na arena e na praça e Francisco Palha ficou imóvel, caído, até que o foram socorrer e o levantaram.
Levado para dentro, todo o mundo supôs que já não voltaria e que seria António Ribeiro Telles, seu primo, cabeça de cartaz, a terminar a lide deste terceiro toiro da corrida. E eis quando Francisco Palha, passados alguns minutos, entra de novo em praça, em mangas de camisa, para prosseguir a actuação que ainda mal começara. O público voltou a tributar-lhe estrondosa ovação.
Visivelmente diminuído e com a dor estampada no rosto, evidenciando alguma dificuldade em levantar o braço direito, protagonizou a seguir uma das mais emotivas e mais brilhantes actuações a que assistimos nos últimos anos em arenas nacionais. Encastou-se - que raça, que garra, que atitude, que pedaço de toureiro ele é! - e cravou ferros de arrepiar, arriscando, ousando desafiar o perigo. Público de pé outra vez.
"Os médicos do hospital não queriam acreditar que eu tivesse continuado a tourear com a lesão que tinha no ombro, disseram-me que era maluco! Mas eu sou toureiro e quero ser figura disto! Tinha que acabar a lide!", disse ao "Farpas".
Já com a casaca vestida, Palha deu depois juma aclamada volta à arena com o forcado, onde voltou a ser visível que estava lesionado. Nunca levantou o braço direito (foto ao lado). E teve ainda o gesto de voltar atrás quando dava a volta para se dirigir à barreira onde estava o ganadero António Francisco da Veiga Teixeira para lhe dizer: "Parabéns pelo seu toiro!". Por exigência do público, que não parava de o aplaudir, deu ainda uma segunda volta à arena sózinho.
Francisco Palha recolheu depois à enfermaria, de onde foi transferido para o hospital, tendo sido anunciado aos espectadores que já não voltaria para lidar o último toiro da corrida e que o mesmo ia ser toureado por António Telles, acabando depois por sê-lo a duo pelo cabeça de cartaz e por Luis Rouxinol.

Ao longo do dia desta segunda-feira, não perca a detalhada análise de Miguel Alvarenga à corrida de Salvaterra e todas as fotos: os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos que ontem encheram a praça.

Fotos M. Alvarenga